Entenda por que o dólar deve se manter em baixa nos próximos dias
Decisões mais hawkish (mais duras) do Fed e BC devem influenciar nessa tendência para os próximos dias
O dólar em relação ao real fechou a semana passada em R$5,07 e está abrindo uma tendência de baixa de longo prazo.
É provável que a nossa moeda fique relativamente estável entre R$4,90 e R$5,20 nas próximas semanas após as decisões dos comitês de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que é o Fomc (Copom americano) e do Banco Central (Copom).
O gráfico abaixo começa a nos deixar animados para vermos o real mais forte: observe que nos últimos dias tivemos um descolamento em relação ao Dollar Index (DXY). Porém, o grande ponto agora é se o DXY parar de subir em torno de 92,50 (ou euro parar de cair 1,18), o real deverá seguir apreciando.
Mas se o DXY seguir subindo, é pouco provável que o real siga em alta neste momento - ou seja, que o dólar caia em direção a R$4,30 e R$4,50. Ainda não desistimos da tese do real mais forte, mas é preciso analisar o que acontecerá nos próximos dias e semanas.
Em todo caso, a performance relativa do real deve seguir melhor devido a alguns fatores, como a alta nos juros promovida pelo Copom, a expectativa de crescimento mais forte em 2021 e 2022, o saldo comercial robusto, a maior arrecadação de impostos, a participação da dívida bruta no Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 85% e o avanço da vacinação.
Reunião do Fomc, comitê de política monetária do Fed
O Fomc não fez alteração relevante em sua atual política monetária nesta reunião, mas mudou algumas mensagens, como seguem abaixo:
1- Projeção para a inflação para este ano subiu de 2,4% para 3,4%.
2- Preocupação com alta dos preços das commodities, principalmente com o petróleo, e efeitos dos gargalos de produção maiores do que o previsto.
3- Jerome Powell, presidente do Fed, disse que está surpreso com a velocidade de recuperação da economia.
Além disso, houve alteração relevante no gráfico de pontos: a projeção para o início do aperto monetário foi antecipada em um ano, de uma alta nos juros em 2024 para duas altas nos juros em 2023. Veja abaixo:
Cada pontinho azul mostra a opinião sobre os juros de cada membro do Fed. Veja o que mudou:
1- 2021: todos os membros seguem projetando juros estáveis em 0,25% a.a.
2- 2022: subiu de 4 para 7 membros do Fed que projetam alta nos juros, mas a mediana não foi alterada.
3- 2023: subiu de 7 para 13 membros do Fed que projetam alta nos juros e a mediana saiu de juros estáveis em 0,25% para alta de 0,75.
4- Longo prazo: a projeção segue idêntica, com mediana de juros em 2,5%.
Em resumo, o comunicado e as projeções surpreenderam, fato que beneficiou o dólar contra a maioria das moedas devido à possibilidade de antecipação do fim do programa de compras de ativos no valor mensal de $120 bilhões e com a antecipação da alta dos juros em um ano.
Fala dos membros do Fed
No artigo do dia 03 de maio (veja aqui), abordamos a estrutura do Fomc e comentamos sobre quais membros do Fed deveríamos dar mais atenção.
Na última sexta-feira, James Bullard, do Fed de St. Louis (que terá assento no Fomc em 2022), disse que é favorável que os juros subam no próximo ano, fato que gerou mais uma rodada de valorização do dólar no mundo.
Reunião do Copom
A decisão do Copom veio em linha com que os investidores desejavam: subiu a Selic de 3,50% para 4,25%, indicou nova alta de 0,75% na reunião de início de agosto e retirou a expressão “ajuste parcial na taxa de juros”.
Ou seja, indicou que os juros irão subir para o patamar “neutro”, que está em torno de 6,50%. Assim, a reunião foi muito importante para dar suporte à nossa moeda.
Note que a partir da reunião do Copom do dia 04 de agosto, a taxa Selic deverá estar acima da inflação projetada para os próximos 12 meses. Ou seja, a taxa Selic estará em 5,00% e a inflação projetada entre agosto deste ano e julho de 2022 deverá estar abaixo de 5,00%.
Desta forma, após muitos meses começaremos a ter juros reais positivos, e isso beneficiará ainda mais a nossa moeda.
Próximos eventos relevantes:
· 25/06/21 - PCE (“inflação” do Fed)
· 01/07/21 - PMI Manufacturing (China, zona do euro e EUA)
· 02/07/21 - Payroll (dado do mercado de trabalho dos EUA)
· 28/07/21 - Reunião do Fed
· 04/08/21 - Reunião do Copom
· Final de agosto: Simpósio Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kansas City. Em diversas vezes o evento foi palco de importantes discursos sobre política monetária. (https://www.kansascityfed.org/research/jackson-hole-economic-symposium/economic-symposium-conference-proceedings/)
Para iniciar a semana, vamos às boas notícias: a MP sobre a privatização da Eletrobras foi aprovada, há notícias otimistas com relação à aprovação das reformas administrativa e tributária, e em torno de 30 dias a maioria da população acima de 40 anos terá recebido ao menos a primeira dose da vacina.
Na última segunda-feira, 21, a cidade de São Paulo analisou sobre avançar ainda mais no cronograma de vacinação para adultos, após a cidade do Rio de Janeiro prometer vacinar todos os adultos até meados de agosto.
Ainda há uma “nuvem” de pessimismo, mas que deverá se dissipar relativamente rápido, beneficiando os nossos ativos. Esperamos novas revisões para cima para o PIB para 2021 e 2022 após o Secretário da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, dizer neste final de semana que o PIB de São Paulo deverá subir 7,5% com a vacinação acelerando.
Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!
* Este artigo não expressa necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.