Em semana de decisão de juros, bolsa tem queda de 0,81%, e dólar de 0,49%
Investidores seguem receosos com a postura dos BCs globais de aumento da taxa de juros
Após uma semana de volatilidade causada pelas decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, a Bolsa de Valores fechou com uma queda de 0,81% em relação à sexta-feira passada. Nesta sexta-feira, depois de operar perto da estabilidade durante o pregão, o Ibovespa fechou com leve valorização de 0,27%, marcando 128.405,35 pontos.
O dólar, que chegou a escorregar abaixo de R$ 5, em alguns momentos, pela primeira vez em um ano, encerra a semana com baixa de 0,49% cotado a R$ 5,092.
Sede da B3 em São Paulo - Foto: B3/Divulgação
A Bolsa viveu essa sexta-feira com muitas oscilações, ainda repercutindo a postura hawkish (mais dura) do Banco Central e do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sobre aumentos mais fortes das taxas de juros. A queda lá fora repercutiu na B3.
Do lado positivo, a aprovação da MP da Eletrobras deram um bom gás aos papeis da estatal. No fechamento, as ações registraram valorização de 5,78% (ELET6) e 5,48% (ELET3).
A Petrobras também teve um dia positivo para seus papéis, com alta de 0,21%. No sentido contrário, a Petro Rio teve perdas de 0,78%.
Após dois dias de queda, as ações das siderúrgicas e mineradoras voltaram a subir, também dando sustentação ao Ibovespa. Os papéis da Vale, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Gerdau saltaram 2,67%, 2,43% e 1,66%, respectivamente.
Dólar sobe
Após cair abaixo dos R$ 5 nesta manhã e fechar a semana desvalorizado em relação a moeda brasileira, o dólar virou o sinal e fechou o dia com valorização de 0,92%, sendo cotado a R$ 5,069.
De acordo com os analistas do BTG Pactual, a valorização do dólar e dos juros futuros seguem o estresse no exterior, após declaração hawkish (aperto monetário) do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard.
Segundo Bullard, pode ser apropriado para o Fed começar a aumentar as taxas de juros já no próximo ano, dada uma previsão de inflação acima da meta de 2%, indicando que as discussões sobre o tema já foram iniciadas.
Mercado em NY: ações em queda
Nos Estados Unidos, os papéis negociados nas bolsas de Nova York fecharam em queda com os investidores ainda repercutindo as sinalizações do Fed de antecipação de elevação dos juros americanos.
O índice S&P 500 teve baixa de 1,37%. Dow Jones se desvalorizou 1,57% e o Nasdaq 100, 0,81%.
Para o analista da Oanda, Edward Moya, "o Fed ainda corre o risco de se mover muito devagar. A última atualização de suas previsões mostra que eles não têm ideia de para onde a inflação está indo, o que deixa alguns investidores nervosos".
MP da Eletrobras: texto-base aprovado
No cenário doméstico, a privatização da Eletrobras segue no foco de atenção dos investidores. Na véspera, o plenário do Senado aprovou a medida provisória que abre o caminho para a privatização da estatal.
A matéria foi aprovada por 42 votos favoráveis a 37. Por conta das alterações previstas no parecer do senador Marcos Rogério, o texto voltará para uma segunda análise na Câmara dos Deputados. A MP precisa ser aprovada até a próxima terça-feira, 22, ou perderá a validade.
Mais tarde, o Senado rejeitou, por 41 votos a 35, o destaque apresentado pelo senador Tasso Jereissati, que retirava a maioria dos jabutis - emendas estranhas ao texto original.
Havia uma articulação entre os senadores para votar a favor desse texto, mas o governo passou as últimas horas em conversas com os parlamentares para buscar apoio ao texto do relator, Marcos Rogério, que não apenas mantém as emendas da Câmara como inclui outras do Senado.
Associações do setor elétrico calculam que a aprovação da medida provisória com os novos "jabutis" - trechos estranhos texto original - incluídos no parecer do Senado aumenta o custo da operação para todos os consumidores para R$ 84 bilhões. Até então, o valor, considerando apenas as modificações feitas pelos deputados, era de R$ 67 bilhões.
As entidades se juntaram a um movimento chamado de 'União pela Energia', que inclui representantes da indústria, investidores no setor elétrico e produtores de petróleo e gás. Eles pedem que o Senado retome o texto original enviado pelo Executivo para evitar um aumento nas tarifas de energia.
CPI da Covid: Queiroga na lista dos réus
O andamento dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado está sendo acompanhado de perto pelos investidores. Na véspera, o relator Renan Calheiros decidiu incluir o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na lista de investigados. A CPI apura ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.
Queiroga deixa de ser testemunha e se une a uma lista com outros quatro investigados da CPI: o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação no Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, e o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten.
Ao incluir Queiroga, Pazuello e outros alvos na lista de investigados, a CPI passa a tratá-los como suspeitos de ter participado de um crime. Isso porque a comissão classifica como investigadas aquelas pessoas contra as quais há provas e indícios veementes.
Também no dia anterior, com oitiva marcada, o empresário Carlos Wizard não compareceu no Senado para prestar depoimento. A comissão vai solicitar que Wizard seja conduzido de forma coercitiva para depor ao colegiado.
A Justiça também será oficiada para que a Polícia Federal apreenda o passaporte do empresário, que está nos Estados Unidos. O documento só deverá ser devolvido após Wizard prestar o depoimento à CPI.
A reunião também previa o interrogatório do servidor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Marques, apontado como participante da inclusão, no sistema do TCU, de documento que minimiza o número de mortos na pandemia de covid-19.
No entanto, em razão da votação prevista no Plenário da Casa da Medida Provisória que abre caminho para privatização da Eletrobras, o depoimento do auditor foi adiado.
Bolsa asiática fecha sem direção única
As bolsas asiáticas fecharam sem direção única nesta sexta-feira, após o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) manter sua política monetária, mas reforçar linhas de crédito, e com investidores ainda digerindo a recente guinada hawkish (propenso à retirada de estímulos) Fed.
O índice acionário japonês Nikkei teve modesta queda de 0,19% em Tóquio hoje, aos 28.964,08 pontos, enquanto o Hang Seng avançou 0,85% em Hong Kong, aos 28.801,27 pontos, o sul-coreano Kospi subiu 0,09% em Seul, aos 3.267,93 pontos, e o Taiex registrou perda de 0,41% em Taiwan, aos 17.318,54 pontos.
Na China continental, o Xangai Composto ficou praticamente estável, com baixa marginal de 0,01%, aos 3.525,10 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto se valorizou 0,81%, aos 2.378,61 pontos.
Como se previa, o BoJ reafirmou as principais características de sua política monetária, incluindo a taxa de depósito em -0,1% ao ano e a meta de juros do título público (JGB) de 10 anos em torno de 0%, após concluir reunião de dois dias nesta sexta.
O BC japonês, no entanto, decidiu também estender o programa de empréstimos a empresas afetadas pela crise da covid-19, de setembro até março do ano que vem, e lançou uma linha de crédito voltada a projetos relacionados ao combate às mudanças climáticas.
Na Oceania, a bolsa australiana subiu levemente, ficando bem perto de garantir um quarto fechamento em nível recorde nesta semana. O S&P/ASX 200 teve alta de 0,13% em Sydney, aos 7.368,90 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado