Mercado Financeiro

Entenda por que o câmbio deve ficar mais estável nos próximos dias

O real segue tendência de baixa de longo prazo. A pergunta é: até quando?

Data de publicação:29/06/2021 às 07:13 - Atualizado 3 anos atrás
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O dólar em relação ao real fechou a semana passada próximo de R$4,90 e segue em tendência de baixa de longo prazo. O gráfico abaixo mostra que a nossa moeda segue descorrelacionado do Dollar Index nas últimas semanas, ou seja, que os nossos fundamentos estão atuando em favor da nossa moeda. E a pergunta é: até quando?

Fonte: Wagner Investimentos

O real apresenta como principais vantagens a taxa de juros Selic e o saldo em conta corrente para sua valorização. A Selic subiu há poucos dias e seguirá em alta, até atingir aproximadamente 6,50%. Em breve, a taxa será superior à inflação futura e isso deixará a nossa moeda mais atrativa.

O saldo em conta corrente passará a ser superavitário, ou seja, mostrará entrada de dólares no país e isso também ajudará o real a se valorizar.

Nas últimas semanas, o real descolou do Dollar Index - Foto: Envato

A conta corrente engloba a balança comercial (diferença entre as exportações e as importações) e a balança de serviços (gastos com transporte, turismo, seguros, remessas e recebimento de juros, rendas e transações unilaterais).

O principal ponto fraco do real é o clima político instável. Temos que ficar atentos aos desdobramentos da CPI da Covid, que pode atrapalhar a votação das reformas.

Além disso, também é importante acompanhar como os dois principais candidatos à presidência irão compor as suas alianças: se Bolsonaro e Lula irão caminhar para o centro político e se comprometer com o equilíbrio fiscal. Em relação à dura disputa política, veja a nossa coluna do dia 14 de junho.

Do ponto de vista externo, o maior desafio para o real se valorizar é a política monetária dos Estados Unidos. Comentaremos sobre isso logo abaixo.

Gráfico de pontos do Fed

Na coluna da semana passada exploramos o resultado da reunião monetária do Fomc (Copom americano), incluindo o famoso “gráfico de pontos”.

Temos alertado os nossos leitores de que precisamos prestar muita atenção aos discursos de alguns membros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), como os membros do Board (como o presidente Jerome Powell), o vice-presidente do Fomc, presidente do Fed de NY (John Williams) e os presidentes de regionais do Fed que votam neste e no próximo ano.

Assim, é possível excluir um pouco de ruído das falas que, às vezes, ocorrem diariamente. Abaixo, um gráfico feito pela Bloomberg, que “filtra” exatamente o que temos comentado há tempos.

Note que o gráfico de pontos, que engloba os 18 membros do Fed, sugere duas altas de juros em 2023, mas analisando os 12 membros votantes, teríamos apenas uma alta.

Fonte: Bloomberg

Logicamente que de hoje até 2023 muitas coisas devem mudar, mas a mensagem, até o momento, é de menos alta nos juros, e isso ajuda a deixar o dólar não tão forte.

'Inflação do Fed' (PCE)

O gráfico abaixo sugere que a inflação nos Estados Unidos pode ser transitória:

Fonte: Pictet Asset Management

As finanças comportamentais nos alertam para o “viés da confirmação”, que é a leitura de notícias que confirmam a nossa tese.

Assim, é possível que este autor esteja enganado ao acreditar na tese de inflação transitória nos Estados Unidos, mas há sinais disto no gráfico acima.

Note que quando retiramos os itens sensíveis à covid (como aluguel de carros usados, variação nos preços dos carros usados, passagens e aéreas e outros poucos itens) e o efeito base (a inflação foi anormalmente baixa no ano passado), a inflação mensal foi de apenas 1,9% (barras verdes). Assim, segue dentro da expectativa do Fed.

Os números dos próximos meses serão essenciais para definir se a inflação é transitória ou estrutural, mas é importante deixar claro que a postura dos bancos centrais é de aperto das condições monetárias muito frouxas devido à retomada da vida normal.

Assim, esperamos mais inflação, mais juros e menos medidas expansionistas como as compras de ativos, mas esperamos que a reversão destas medidas ocorra de maneira ordenada.

Próximos eventos relevantes:
· 01/07/21 - PMI Manufacturing (China, zona do euro e EUA)
· 02/07/21 - payroll (dado do mercado de trabalho dos EUA)
· 28/07/21 - Reunião do Fed
· 04/08/21 - Reunião do Copom
Final de agosto: Simpósio Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kansas City. Em diversas vezes o evento foi palco de importantes discursos sobre política monetária.

Sobre o Payroll

Na próxima sexta-feira, 02, é dia da divulgação do payroll, relatório de emprego nos Estados Unidos. O relatório é bem complexo porque é basicamente a soma da nossa Pnad (taxa de desemprego e dados de renda) e Caged (criação de vagas).

Três números se destacam: total de vagas criadas, reajuste salarial e taxa de participação. Quanto maiores, mais forte o mercado de trabalho e melhor para o dólar. Na próxima semana vamos detalhar o relatório.

Caminhos para o dólar sobre o real

O modelo quantitativo da Wagner Investimentos aponta que o dólar em relação ao real está em tendência de baixa de longo prazo. Neste momento, a moeda americana mostra dificuldade de perder a região entre R$4,80 a R$4,85. Além disto, sinaliza que é possível uma recuperação técnica para R$5,00 ou um pouco mais.

Mas, o que mais chama atenção é o risco de reversão do Dollar Index: se a cesta de moedas ficar consistentemente acima de 92,50 poderemos ter uma reversão geral no mercado de moedas - e, nesse caso, a valorização do real poderia não ocorrer imediatamente.

Mantemos uma visão otimista com o real e enxergamos potencial de valorização de aproximadamente 10% a partir do nível atual.

Mas é necessário monitorar os riscos e traçar cenários alternativos. Por isso, não podemos nos prender a um número (que é R$4,30, em minha opinião) como algo certo. Para quem deseja aplicar em dólares ou precisa comprar a moeda americana, uma postura de compras parciais a cada queda minimiza o risco de reversão do cenário.

Última palavra: Confiança da Indústria

O Índice de Confiança da Indústria da FGV de junho subiu pelo segundo mês seguido. O gráfico abaixo compara a média trimestral da confiança e a variação trimestral do PIB. A correlação é muito próxima!

Porém, vale uma ressalva neste momento: como a confiança está subindo, o PIB do 2º trimestre deve subir em relação ao PIB do 1º trimestre. A confirmação somente saberemos em agosto, mas tudo indica que seguimos acelerando o crescimento. Em breve o gráfico apontará alta anual entre 6% e 7%.

Foto: Wagner Investimentos

Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!

*Este artigo não reproduz necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.

Sobre o autor
Jose Faria JúniorJosé Raymundo de Faria Júnior é economista graduado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em Administração pela Fecap. Sócio desde 2006 da Wagner Investimentos, possui as certificações financeiras CFP®️, CNPI, CGA e é Consultor de Valores Mobiliários.