Entenda por que o câmbio deve ficar mais estável nos próximos dias
O real segue tendência de baixa de longo prazo. A pergunta é: até quando?
O dólar em relação ao real fechou a semana passada próximo de R$4,90 e segue em tendência de baixa de longo prazo. O gráfico abaixo mostra que a nossa moeda segue descorrelacionado do Dollar Index nas últimas semanas, ou seja, que os nossos fundamentos estão atuando em favor da nossa moeda. E a pergunta é: até quando?
O real apresenta como principais vantagens a taxa de juros Selic e o saldo em conta corrente para sua valorização. A Selic subiu há poucos dias e seguirá em alta, até atingir aproximadamente 6,50%. Em breve, a taxa será superior à inflação futura e isso deixará a nossa moeda mais atrativa.
O saldo em conta corrente passará a ser superavitário, ou seja, mostrará entrada de dólares no país e isso também ajudará o real a se valorizar.
A conta corrente engloba a balança comercial (diferença entre as exportações e as importações) e a balança de serviços (gastos com transporte, turismo, seguros, remessas e recebimento de juros, rendas e transações unilaterais).
O principal ponto fraco do real é o clima político instável. Temos que ficar atentos aos desdobramentos da CPI da Covid, que pode atrapalhar a votação das reformas.
Além disso, também é importante acompanhar como os dois principais candidatos à presidência irão compor as suas alianças: se Bolsonaro e Lula irão caminhar para o centro político e se comprometer com o equilíbrio fiscal. Em relação à dura disputa política, veja a nossa coluna do dia 14 de junho.
Do ponto de vista externo, o maior desafio para o real se valorizar é a política monetária dos Estados Unidos. Comentaremos sobre isso logo abaixo.
Gráfico de pontos do Fed
Na coluna da semana passada exploramos o resultado da reunião monetária do Fomc (Copom americano), incluindo o famoso “gráfico de pontos”.
Temos alertado os nossos leitores de que precisamos prestar muita atenção aos discursos de alguns membros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), como os membros do Board (como o presidente Jerome Powell), o vice-presidente do Fomc, presidente do Fed de NY (John Williams) e os presidentes de regionais do Fed que votam neste e no próximo ano.
Assim, é possível excluir um pouco de ruído das falas que, às vezes, ocorrem diariamente. Abaixo, um gráfico feito pela Bloomberg, que “filtra” exatamente o que temos comentado há tempos.
Note que o gráfico de pontos, que engloba os 18 membros do Fed, sugere duas altas de juros em 2023, mas analisando os 12 membros votantes, teríamos apenas uma alta.
Logicamente que de hoje até 2023 muitas coisas devem mudar, mas a mensagem, até o momento, é de menos alta nos juros, e isso ajuda a deixar o dólar não tão forte.
'Inflação do Fed' (PCE)
O gráfico abaixo sugere que a inflação nos Estados Unidos pode ser transitória:
As finanças comportamentais nos alertam para o “viés da confirmação”, que é a leitura de notícias que confirmam a nossa tese.
Assim, é possível que este autor esteja enganado ao acreditar na tese de inflação transitória nos Estados Unidos, mas há sinais disto no gráfico acima.
Note que quando retiramos os itens sensíveis à covid (como aluguel de carros usados, variação nos preços dos carros usados, passagens e aéreas e outros poucos itens) e o efeito base (a inflação foi anormalmente baixa no ano passado), a inflação mensal foi de apenas 1,9% (barras verdes). Assim, segue dentro da expectativa do Fed.
Os números dos próximos meses serão essenciais para definir se a inflação é transitória ou estrutural, mas é importante deixar claro que a postura dos bancos centrais é de aperto das condições monetárias muito frouxas devido à retomada da vida normal.
Assim, esperamos mais inflação, mais juros e menos medidas expansionistas como as compras de ativos, mas esperamos que a reversão destas medidas ocorra de maneira ordenada.
Próximos eventos relevantes:
· 01/07/21 - PMI Manufacturing (China, zona do euro e EUA)
· 02/07/21 - payroll (dado do mercado de trabalho dos EUA)
· 28/07/21 - Reunião do Fed
· 04/08/21 - Reunião do Copom
Final de agosto: Simpósio Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kansas City. Em diversas vezes o evento foi palco de importantes discursos sobre política monetária.
Sobre o Payroll
Na próxima sexta-feira, 02, é dia da divulgação do payroll, relatório de emprego nos Estados Unidos. O relatório é bem complexo porque é basicamente a soma da nossa Pnad (taxa de desemprego e dados de renda) e Caged (criação de vagas).
Três números se destacam: total de vagas criadas, reajuste salarial e taxa de participação. Quanto maiores, mais forte o mercado de trabalho e melhor para o dólar. Na próxima semana vamos detalhar o relatório.
Caminhos para o dólar sobre o real
O modelo quantitativo da Wagner Investimentos aponta que o dólar em relação ao real está em tendência de baixa de longo prazo. Neste momento, a moeda americana mostra dificuldade de perder a região entre R$4,80 a R$4,85. Além disto, sinaliza que é possível uma recuperação técnica para R$5,00 ou um pouco mais.
Mas, o que mais chama atenção é o risco de reversão do Dollar Index: se a cesta de moedas ficar consistentemente acima de 92,50 poderemos ter uma reversão geral no mercado de moedas - e, nesse caso, a valorização do real poderia não ocorrer imediatamente.
Mantemos uma visão otimista com o real e enxergamos potencial de valorização de aproximadamente 10% a partir do nível atual.
Mas é necessário monitorar os riscos e traçar cenários alternativos. Por isso, não podemos nos prender a um número (que é R$4,30, em minha opinião) como algo certo. Para quem deseja aplicar em dólares ou precisa comprar a moeda americana, uma postura de compras parciais a cada queda minimiza o risco de reversão do cenário.
Última palavra: Confiança da Indústria
O Índice de Confiança da Indústria da FGV de junho subiu pelo segundo mês seguido. O gráfico abaixo compara a média trimestral da confiança e a variação trimestral do PIB. A correlação é muito próxima!
Porém, vale uma ressalva neste momento: como a confiança está subindo, o PIB do 2º trimestre deve subir em relação ao PIB do 1º trimestre. A confirmação somente saberemos em agosto, mas tudo indica que seguimos acelerando o crescimento. Em breve o gráfico apontará alta anual entre 6% e 7%.
Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!
*Este artigo não reproduz necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.