Depois de transitar no negativo, Bolsa vira no último minuto e fecha em alta de 0,03%; dólar cai
‘Ressaca’ das notícias sobre a reforma tributária impactam o comportamento da Bolsa e dólar
A Bolsa fechou bem perto da estabilidade, com alta de 0,03% nesta segunda-feira, aos 127.298.94 pontos. Durante todo o pregão a B3 transitou pelo terreno negativo, puxada pela desvalorização dos papéis de bancos, principalmente, que no entendimento do mercado seriam os mais afetados pela proposta de reforma tributária enviada pelo governo ao Congresso na última sexta-feira, 25.
Segundo Rafael Ribeiro, da Clear Corretora, as companhias que pagam muitos juros sobre o capital próprio, como bancos, estão sofrendo processo de correção após diversos relatórios de bancos de investimento e corretoras indicando queda de lucro com o fim do Juros sobre Capital Próprio.
Por isso, os principais bancos fecharam com quedas expressivas o pregão desta segunda-feira. No fechamento, Itaú, Bradesco e Santander apontavam recuo de 1,20%, 0,68% e 1,02%. Para a analista da Rico Investimentos, Paula Zogbi, os grandes bancos são grandes pagadores de dividendos e, por isso, diretamente afetados pela taxação de 20% da distribuição dos lucros nesse formato no curto prazo.
Também influenciaram nessa queda da B3, a desvalorização de Petrobras, os papeis da petroleira fecharam com queda de 0,34%. As siderúrgicas e mineradoras seguiram na mesma trilha de baixa.
As ações da Vale, CSN e Gerdau reportavam desvalorização de 1,80%, 1,88% 1,10%, respectivamente.
Reflexos da reforma tributária
Especialistas avaliam que o projeto de reforma tributária deve levar a um aumento indireto de carga de impostos sobre empresas. O texto do governo prevê redução gradual das alíquotas de imposto de renda de pessoa jurídica de 15% para 10%, mas propõe a taxação de 20% de dividendos, hoje isentos.
Elevação de carga tributária, de acordo com analistas e profissionais do mercado, prejudica o lucro das companhias, com efeitos negativos na Bolsa, porque afasta os investidores.
Junta-se a esse mal-estar da reforma tributária o andamento dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que, comporta ingredientes que devem criar mais embaraços ao presidente Jair Bolsonaro e amplificar os ruídos políticos.
Em depoimento à comissão, na noite da última sexta-feira, 25, o deputado Luís Miranda afirmou que ouviu o presidente dizer que sabia do envolvimento de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, no processo de compra da vacina indiana Covaxin, que está sob suspeita.
Luís Ricardo Miranda, irmão do deputado e servidor do Ministério da Saúde, confirmou ter recebido pressões indevidas para liberar a importação dessa vacina.
Desde abril, quando houve a largada da CPI no Senado, até agora, o mercado financeiro tem se limitado a monitorar os depoimentos na comissão, sem reagir de modo mais contundente, à espera dos desdobramentos dos trabalhos de apuração pelos senadores.
Para especialistas, contudo, os depoimentos dos irmãos Miranda podem dar outro rumo ao andamento da comissão de investigação e pôr o presidente Bolsonaro diante de mais dificuldades em um cenário de queda de popularidade e de aprovação a seu governo.
Sobe e desce da B3
Nesta segunda-feira, ao contrário das siderúrgicas, bancos e Petrobras, as varejistas vivem um dia positivo na B3, refletindo o crescimento das vendas no comércio eletrônico, que dispararam até maio deste ano, com crescimento de 153,5% em relação a dois anos atrás, antes da pandemia. A alta nos primeiros cinco meses de 2021 ante 2020 já chega a 74,4%.
As ações das empresas B2W e Via (antiga Via Varejo), tiveram ganhos de 1,17%, e 1,59%, respectivamente.
Após ter tido suas ações recomendadas para compra pelo Bank of America (BofA), os papéis da CVC reportaram alta na Bolsa. As ações da companhia de turismo avançaram 3,07%.
As ações da Qualicorp registram alta na B3, com o comunicado feito pela empresa que anuncia o lançamento de uma parceria com o Banco Inter e a Inter Digital Corretora de Seguros para comercializar planos de saúde coletivos por adesão. Os papéis da empresa registraram ganhos de 3,62%.
Dólar em queda
O dólar fechou em leve queda nesta segunda-feira, em linha com o exterior, com a moeda americana à vista apresentando recuo de 0,19%, cotada a R$ 4,928. O câmbio também reflete a proposta da reforma tributária enviada pelo governo ao Congresso e os novos desdobramentos da CPI da Covid no Senado.
Além disso, os investidores estão na espera de novas pistas sobre a inflação, que, de acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira, tem suas projeções com viés altista para 2021. Segundo o documento, a estimativa saiu de 5,90%, na última semana, para 5,97%.epois
NY: bolsas mistas
No cenário externo, as bolsas de Nova York fecharam sem um sinal único, com o mercado no aguardo dos discursos de alguns dirigentes do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) que podem dar indicativos sobre os rumos da inflação no país.
O índice S&P 500 registrou avanço de 0,24%, com Nasdaq 100 na mesma linha, se valorizando 1,25%. Já o Dow Jones caiu 0,44%. Uma queda nos juros das Treasuries ao longo do dia levou a uma resposta positiva das ações de tecnologia e utilities, ressaltou Paula Zogbi.
Nos Estados Unidos, devem falar os dirigentes regionais do Federal Reserve, John Williams (de Nova York) e Patrick Harker (Filadélfia), além do vice-presidente para Supervisão Randal Quarles.
Para o analista da Oanda, Edward Moya, o PCE, divulgado na última sexta-feira, atingiu os níveis mais altos desde o início da década de 1990, com a reabertura da economia combinada com os efeitos da base de comparação deprimida do ano passado. “Os dados foram mais um voto de confiança de que a inflação é um campo transitório”, avalia.
De acordo com Moya, os investidores apoiaram o projeto de lei bipartidário de infraestrutura do governo Biden. A meta é terminar o processo até o recesso de agosto, mas ele acredita que até o final de setembro ou início de outubro é um período mais realista para sua conclusão.
A atual proposta não contempla mudanças tributárias relevantes para pagar pela chamada infraestrutura tradicional. No entanto, o projeto de "infraestrutura humana, que ainda tem muito debate, não estará vinculado ao projeto bipartidário", e aumentos de impostos acabarão acontecendo quando a segunda conta for negociada, acredita Moya.
CPI da Covid: irmãos Miranda
Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado seguem movimentados e na atenção dos investidores.
Na última sexta-feira, 25, o colegiado ouviu o deputado Luis Miranda e o irmão do congressista, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde.
Miranda e o irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, denunciaram à CPI supostas irregularidades na compra da vacina. No depoimento, eles disseram ter avisado Bolsonaro há três meses sobre as suspeitas e sobre uma "pressão atípica" para acelerar a importação.
Na conversa, Bolsonaro teria citado o deputado federal Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, como o parlamentar que queria fazer "rolo" no ministério. Barros foi o autor da emenda que viabilizou a importação da vacina indiana Covaxin, da farmacêutica Bharat Biotech.
As declarações de Miranda elevaram a pressão sobre o governo. O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues, afirmou que a comissão irá apresentar nesta segunda-feira, uma representação contra o presidente Jair Bolsonaro na Procuradoria Geral da República (PGR).
O parlamentar acusa o chefe do Planalto de cometer crime de prevaricação ao não ter determinado a apuração de um suposto esquema de corrução envolvendo a compra da vacina indiana.
Em entrevista concedida no último fim de semana ao site O Antagonista, o deputado Luis Miranda afirmou que tem como provar suas declarações. Questionado se não seria a palavra do presidente contra a sua, ele afirmou que Bolsonaro, nesta situação, "vai ter uma surpresa mágica".
"Se ele fizer isso (questionar minha versão), vou ter que fazer algo que nunca um parlamentar deve ter que fazer contra o presidente", afirmou o deputado. "Mas aí ele vai ficar constrangido, muito, porque eu tenho como provar. Mas na hora certa."
E no último domingo, ele utilizou sua conta no Twitter para informar que seu irmão teve seu acesso bloqueado no sistema do Ministério da Saúde.
“Vale ressaltar que ele é funcionário de carreira! Isso é ilegal, perseguição e só comprova que eles têm muito para esconder...”
Bolsas asiáticas fecham em leve baixa
As principais bolsas asiáticas fecharam em baixa marginal nesta segunda-feira, em uma semana que começa sem catalisadores e na expectativa para dados macroeconômicos a ser divulgados no continente e nos EUA.
O índice acionário japonês Nikkei teve leve perda de 0,06% em Tóquio hoje, aos 29.048,02 pontos, enquanto o chinês Xangai Composto recuou 0,03%, aos 3.606,37 pontos.
Já o Hang Seng caiu 0,07% em Hong Kong, aos 29.268,30 pontos, após um pregão encurtado por um alerta de tempestade, e o sul-coreano Kospi cedeu 0,03% em Seul, aos 3.301,89 pontos.
Em outras partes da Ásia, o também chinês e menos abrangente Shenzhen Composto subiu 0,88%, aos 2.463,66 pontos, e o Taiex avançou 0,50% em Taiwan, aos 17.590,97 pontos.
Dados do fim de semana mostraram que o lucro de grandes empresas industriais da China teve expansão anual de 36,4% em maio. Apesar de positivo, o resultado mostrou forte desaceleração em relação a abril, quando o ganho anual foi de 57%.
Nos próximos dias, investidores vão ficar atentos a índices de atividade (PMIs) manufatureira da China e do Japão.
Na Oceania, a bolsa australiana ficou praticamente estável nesta segunda, com baixa de 0,01% do S&P/ASX 200, aos 7.307.30 pontos, num momento de endurecimento de medidas de restrição no país em função de um novo surto de covid-19. / com Júlia Zillig e Agência Estado