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Bolsonaro sanciona novo marco cambial do BRasil
Fundos de Investimentos

Dólar sobe, passa de R$ 5,50 e favorece fundos cambiais que, em setembro, renderam bem acima da inflação

Rendimento dos fundos cambiais em setembro ficou muito próximo da valorização da moeda no mês, de 5,38%

Data de publicação:08/10/2021 às 05:00 -
Atualizado 3 anos atrás
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Aos poucos, sem fazer alarde, o dólar vai buscando patamares mais elevados de preço e já embicou acima de R$ 5,50 – fechou cotado ontem por R$ 5,517, valor mais alto desde 20 de abril, quando foi vendido por R$ 5,55. Nos cinco primeiros dias úteis de outubro, soma alta de 1,30%. Essa alta, às vezes nem tão expressiva, mas constante, tem ajudado na boa performance dos fundos cambiais.

Um levantamento exclusivo do portal Mais Retorno aponta que setembro, com uma inflação recorde para esse mesmo mês desde 1994, de 1,16%, marcou o retorno ao jogo dos fundos cambiais que andavam magros nos últimos tempos.

Todos os 28 fundos cambiais pesquisados em setembro – com patrimônio igual ou superior a R$ 17 milhões, com 60 cotistas ou mais, abertos ao público e em operação há mais de um ano – tiveram retorno bem superior à inflação em setembro, sendo que 27 deles com remuneração acima de 5%. O único fundo que apresentou variação abaixo disso foi o BB Cambial Euro, com 3,59%.

Os dez fundos cambiais campeões entregaram resultados bem próximos da variação do dólar no mês, de 5,34%. O Vitreo Moedas Life, o primeiro do ranking, rendeu 5,46% e o Bradesco FIC FI Dólar Special, o décimo, 5,21%. Sem dúvida, o avanço da moeda norte-americana em setembro ajudou os cambiais a melhorarem a performance no ano. Em 12 meses, no entanto, o rendimento permanece negativo.

O fundo cambial é considerado pelos especialistas uma opção para a diversificação e proteção de carteira, principalmente contra a volatilidade da bolsa de valores.  Em geral, esses fundos têm maior exposição ao cenário internacional, ao investir em ativos dolarizados, e menos às condições do ambiente local de maior instabilidade, político-econômica.

Dólar, acima da inflação e de outras aplicações

A valorização da moeda, de 5,34%, sustentou ampla vantagem sobre a inflação oficial de setembro: o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que ficou em 1,16%. Mais ainda, o dólar foi das poucas aplicações que renderam mais que a inflação em um mês que a maioria das opções de renda fixa tradicional e a bolsa de valores proporcionou rendimento negativo ao investidor.

Especialistas atribuem a aceleração do dólar ao cenário de incertezas, tanto domésticas quanto externas. Em momentos de insegurança e dúvidas, seja com a economia, seja com a política, o investidor corre em busca de proteção ao patrimônio e quase todos os caminhos levam ao dólar, o refúgio preferido nessas horas.

Pressão sobre o dólar vem do exterior

A principal fonte de pressão sobre o dólar vem do exterior, avalia Fernanda Consorte, economista-chefe do banco Ourinvest, e está relacionada com possíveis alterações na política monetária dos EUA. “A expectativa de retirada dos estímulos da economia americana tem refletido na alta dos juros dos treasuries americanos e isso impacta em cheio as moedas emergentes”, explica Fernanda.

Analistas e economistas esperam que os sinais reforçados de retomada da economia levem o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) a reduzir a compra de títulos que injeta mensalmente US$ 120 bilhões no sistema financeiro americano e, daí, se espraiam pelo mundo.

Juros mais altos nos EUA, como sinalizam as taxas dos títulos de dez anos do Tesouro (treasuries) americano, redundam em mais pressão sobre as moedas de países emergentes, dentre elas o real, que tende a se desvalorizar perante o dólar. O investidor prefere ativos ou moedas mais seguras em um cenário de aversão ao risco que o mundo vide.

Para os especialistas, o cenário externo sozinho não explica esse fôlego todo do dólar quando o País tem empilhado US$ 375 bilhões no estoque de reservas internacionais, um seguro visto mais que suficiente pelos analistas para proteger o País contra crises cambiais.

O Banco Central tem ofertado ao mercado contratos de swap cambial (títulos com promessa de venda futura de dólar) que servem como hedge (proteção) ao comprador contra variações cambiais, para acomodar as cotações em momentos de elevada volatilidade, mas tem a opção também de vender dólares à vista sacados das reservas.

O desempenho do dólar tem surpreendido até o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, que declarou nesta quinta-feira que, se os juros baixos eram apontados como problema, o atual nível das taxas de juro deixou de ser uma fonte de pressão sobre o câmbio. Presume-se que juros altos deprimem o dólar ao atrair mais capitais de fora para investimento no País e ampliar a oferta de divisas no mercado.

Incertezas sobre inflação e clima político impactam as cotações

Especialistas dizem que os fatores que levam o dólar para cima vão além do cenário externo e do nível de juros. A economista do banco Ourinvest afirma que as incertezas no cenário doméstico, relacionadas à inflação alta, ao clima político pouco propício ao avanço das reformas, o que agrava a preocupação fiscal, também pressionam o dólar.

A valorização do dólar, que para os especialistas em câmbio pode ganhar maior mobilidade à medida que esquentar o debate em torno das eleições presidenciais de 2022, vem refletindo no desempenho de fundos cambiais. O resultado de boa parte deles tem andado acima da variação do dólar e da inflação do período.

Sobre o autor
Tom Morooka
Colaborador do Portal Mais Retorno.