Confira todas as sanções impostas à Rússia desde o começo da guerra contra a Ucrânia
Entre elas estão congelamento de ativos russos no exterior, saída da Swift, restrições comerciais, entre outras
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia já desencadeou uma série de reações mundiais, incluindo a imposição de diversas sanções sob vários âmbitos – desde comerciais, monetárias, políticas, energéticas até esportivas.
De acordo com Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos, os reflexos dessas sanções aplicadas por países como os Estados Unidos, Canadá, Europa, Suíça e até o Japão já estão sendo sentidas pela ex-URSS - cujo banco central já elevou a taxa de juros do país de 9,5% para 20%.
Além disso, as reservas internacionais do país foram congeladas – ouro, títulos de juros e dólares. “Tudo isso ajuda a travar a economia russa”, pontua.
“A Rússia está se tornando a inimiga do mundo por conta da guerra. Muitos investimentos já estão sendo retirados de lá e isso deve se intensificar ainda mais”, ressalta. Gigantes como Shell, BP, Equinor, Ericsson, TotalEnergies, Maersk, Apple, entre outras, já anunciaram que interromperam negócios no país.
Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos
Para o especialista, sem acesso ao mundo, o rublo, moeda russa, deve perder ainda mais valor, reforçada pelas negociações com outros países, o que tem o potencial de colocar a economia russa em uma crise profunda.
O rublo segue em forte desvalorização, de mais de 4%, com a cotação de um dólar vendido a 105,88 rublos. Mais cedo, chegou a atingir seu patamar mínimo histórico, de mais de 112 rublos.
Confira a seguir quais foram as principais sanções impostas pelo mundo à Rússia
Congelamento das reservas internacionais
Uma das sanções mais significativas diz respeito ao congelamento de ativos do Banco Central russo por parte da União Europeia, Estados Unidos e Japão. Isso implica na proibição de utilização de reservas internacionais do país – que giram em torno de US$ 630 bilhões - para minimizar os impactos na economia. Isso inclui ativos como ouro, títulos de dívida e dólares.
“A Europa está com medo de que essa guerra atravesse os limites geográficos da Ucrânia e atinja seus países. Soma-se a isso ainda a questão da queda de braço histórica entre Estados Unidos e Rússia. A ideia é aumentar cada vez o cerco monetário sobre o país”, avalia Carvalho.
Retirada da Rússia do Swift
Outra sanção que também está surtindo um forte impacto na economia russa é a retirada de vários bancos do país do Swift (Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, em português), sistema global de pagamentos interbancários.
Com mais de 11 mil instituições financeiras de 200 países, a Swift contava com a Rússia entre os seus maiores membros – a terceira na colocação em termos de números de bancos pertencentes.
De acordo com a Bloomberg, a União Europeia excluiu sete bancos russos do sistema, incluindo o estatal VTB, mas não incluiu algumas instituições como o Sberbank, maior credor do país e que tem como sócia a Gazprom, empresa russa do setor de gás.
Para o economista da Valor, com essa retirada os bancos russos estarão proibidos de utilizar a Swift para fazer transações com outros países e receber pagamentos internacionais. “Isso representa um grande problema para a Rússia conseguir manter um fluxo de dinheiro entrando no país, incluindo as exportações”, avalia.
Efeitos sobre o petróleo e gás natural
Nesse sentido, a Rússia se verá diante da dificuldade de exportar petróleo e gás natural, dois produtos nos quais o país se destacam em produção, assim como fertilizantes.
Porém, o grande problema são os efeitos disso em cima da Europa, que é uma forte dependente do gás natural vindo do país de Vladimir Putin. Ou seja, ter acesso a essas commodities pode se tornar mais difícil para o continente.
“Isso representa um grande prejuízo para a Europa, que hoje enfrenta um inverno rigoroso e uma elevação anterior do preço do gás natural por conta do desequilíbrio entre oferta e demanda”, diz Carvalho.
De acordo com o especialista, alguns países como os Estados Unidos querem investir na exportação de gás natural para minimizar esses impactos, porém, a logística é mais complicada por conta do transporte e a necessidade de estruturas especiais para manter a commodity em estado gasoso.
Em relação ao petróleo, já no período pré-guerra os preços já estavam subindo, porém o preço do barril disparou mesmo após a tentativa da Agência Internacional de Energia (AIE) – que representa os consumidores-chave da commodity – de sinalizar que não haverá desabastecimento ao anunciar a liberação de estoques.
Na manhã desta quarta-feira, 2, o preço do barril de petróleo tipo Brent chegou a atingir o patamar de US$ 110.
Para Carvalho, a Rússia deve utilizar essas fontes de energia para consumo interno, para poder movimentar as tropas pela Ucrânia.
Fertilizantes: Brasil pode ser impactado
O fato de o Brasil ser um dos grandes consumidores de fertilizantes químicos da Rússia pode impactar a safra 2022/2023, de acordo com o economista. Segundo um levantamento feito pelo Comex Stat, do Ministério da Economia, cerca de 23% dos adubos ou fertilizantes químicos importados em 2021 vieram da ex-URSS.
O Brasil já enfrentava dificuldades para obter fertilizantes e agrotóxicos por conta da crise energética em países fornecedores, como a China, o que pode ser agravado ainda mais e comprometer os resultados agrícolas do País.
Fechamento de espaço aéreo para os aviões russos
O Reino Unido, a União Europeia, Turquia, entre outros países, decidiram fechar seu espaço aéreo para a Rússia, proibindo o pouso, decolagem e sobrevoo de aviões russos de qualquer categoria, incluindo até mesmo jatos privados.
O Reino Unido também incluiu o fechamento de seus portos para embarcações provenientes da ex-URSS.
Restrições comerciais
Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram que vão limitar a exportação de tecnologia ligada aos setores de defesa, aeroespacial e marítimo para a Rússia. Os semicondutores serão alvo dessa medida.
Segundo Carvalho, boa parte do mundo depende dos semicondutores vindos do Leste Europeu e da Rússia. A questão deve agravar ainda mais o problema de abastecimento, que já vem penalizando diversos setores produtivos no mundo, como a indústria de computadores, celulares e automobilística, por conta da pandemia.
“Isso pode retardar as expectativas do início da normalização da cadeia produtiva de semicondutores para o segundo semestre deste ano”, reforça o economista da Valor.
O que deve acontecer, segundo ele, é que outros países comecem a investir internamente para fabricar o produto, porém isso leva tempo até ganhar musculatura. A China, outra grande produtora de semicondutores, deve se beneficiar com essa limitação, de acordo com Carvalho.
Sanções contra o gasoduto Nord Stream 2
Também na semana passada, os Estados Unidos anunciaram sanções contra a empresa responsável pelo gasoduto russo Nord Stream 2, que já teve sua certificação suspensa pela Alemanha.
O Nord Stream 2 serviria de ligação para levar o gás natural direto da Rússia para a Alemanha – cujo consumo da commodity tem 50% proveniente das exportações do país de Putin.
Ativos de Putin congelados em vários países
Além das sanções com foco diretamente para a economia russa, o presidente Vladimir Putin também é alvo de alguns países. Estados Unidos, UE e Reino Unido informaram que vão congelar os ativos do chefe do Executivo da Rússia em seus países.
Essa medida também se estenderá para alguns parlamentares do país.
Mídia russa banida pela UE
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou que irá banir a mídia do Kremlin, incluindo a RT TV e a agência de notícias Sputinik, com o intuito de barrar “a disseminação de mentiras para justificar a guerra de Putin”.
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