Temporada de balanços do 3º tri das empresas: confira o que esperar dos principais setores econômicos
Entre os resultados mais aguardados está o desempenho dos bancos, elétricas, empresas de commodities e varejo
Foi dada a largada oficial, nesta semana, na temporada de divulgação de balanços corporativos do terceiro trimestre do ano. Empresas de capital aberto de diversos segmentos apresentam seus números do período que, de uma forma geral, devem ser comemorados, já que grande parte dos analistas acredita em uma nova safra de bons resultados.
O olhar do mercado está voltado para os dados das empresas que integram os principais setores que exercem um peso mais acentuado na Bolsa de Valores, a B3, como financeiro – com os grandes bancos – energia elétrica, commodities, mineração e siderurgia, varejo, entre outros.
Alguns dados já começaram a serem divulgados na segunda-feira, 25, mas a jornada ainda está longe de terminar, com muitas companhias na fila para apresentar seus números.
De acordo com os analistas, apesar das boas notícias trazidas por grande parte das empresas – o que poderia trazer algum ânimo ao mercado financeiro – o cenário macroeconômico, às voltas com as incertezas do cenário fiscal e com o avanço da inflação, acaba tirando um pouco o “brilho” desses números.
Confira a seguir o que esperar dos balanços dos principais setores econômicos do País.
Energia elétrica
Os efeitos da crise hídrica devem estar estampados nos números dos balanços das empresas de energia elétrica, mas com mais ênfase no desempenho das geradoras. Algumas já apresentaram seus números, como é o caso da Cesp.
Segundo o balanço da companhia, a empresa conseguiu reverter o prejuízo obtido no terceiro trimestre do ano passado de R$ 58,5 milhões em um lucro líquido de R$ 395,3 milhões. O resultado foi impulsionado pela repactuação do GSF (Generation Scaling Factor, na sigla em inglês), medida de risco hidrológico.
“A Cesp hoje é uma companhia redonda que fez o dever de casa. Tem a concessão de duas usinas hidrelétricas e fez compras no mercado de energia no segundo trimestre. A companhia fez um trabalho grande para equalizar seu balanço para o terceiro trimestre”, destaca Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa investimentos.
As empresas que têm um ‘cobertor’, de acordo com Arbetman, que é uma porcentagem do portfólio de energia descontratada, tendem a sofrer menos. “Esse cobertor ajuda a compensar o trimestre que é tradicionalmente mais negativo”. O especialista cita como exemplos geradoras como a Engie Brasil e AES Brasil.
As geradoras que têm uma parte de sua produção de energia atrelada à energia eólica – como é o caso da Omega, conseguem equilibrar os resultados pelo fato de não serem tão dependentes das hidrelétricas.
“O custo de energia muito alto, GSF baixo e risco hidrológico é uma equação que não é benéfica para as geradoras”, avalia Ilan.
No caso das distribuidoras, a expectativa quanto aos resultados é positiva com a retomada do volume de consumo de energia, principalmente pelo setor industrial e no mercado livre, por conta do retorno das atividades.
Os reajustes tarifários também podem trazer uma evolução positiva das receitas, segundo Arbetman. Ao mesmo tempo, o custo de energia pode ter um peso maior nas margens de lucro.
Já em relação às transmissoras, o efeito tende a ser menor, por terem receitas perenes e indexadas à inflação, como é o caso das companhias ISA Cteep e Taesa. “São balanços que normalmente vêm em linha e sem muita surpresa”, avalia Ilan.
Para o analista da Ativa, o discurso sobre a forte dependência das geradoras da matriz hidrelétrica pode favorecer a discussão quanto à necessidade de a base do sistema energético contar mais com fontes de energia térmica.
“Quem tem essa expertise pode sair na frente. As usinas térmicas a gás são menos poluentes e com um custo bem mais em conta em relação às outras fontes. A crise hídrica pode ter antecipado essa tendência”, aponta.
Bancos
Os resultados dos grandes bancos são uns dos mais aguardados pelo mercado por apresentarem costumeiramente números robustos, além do fato de serem bons e constantes pagadores de proventos.
Na visão de Leo Monteiro, analista de Research da Ativa Investimentos, os resultados devem vir no mesmo patamar dos números apresentados no segundo trimestre. “As carteiras de crédito pessoa física seguem crescendo e vem sustentando o crédito dos bancos. Já as carteiras de pessoa jurídica estão um pouco mais pressionadas.
Em relação à margem financeira, o crescimento deve ser um pouco menos acentuado. Já sobre as receitas, Monteiro afirma que os bancos que têm operações de seguros – como é o caso do Bradesco – devem ter um resultado maior, por conta do reflexo da redução das taxas de sinistralidade.
Sobre as provisões, o analista aponta que o nível deve se manter baixo, já que a inadimplência segue próximo das mínimas históricas, apesar da desaceleração do crescimento econômico. “As provisões em patamares mais baixos deve beneficiar o lucro líquido do período”.
O pontapé inicial desses resultados foi dado – como é tradicional no mercado – pelo banco Santander, que reportou um lucro líquido gerencial (que desconsidera o ágio de aquisições) de R$ 4,340 bilhões, alta de 12,5% ante o mesmo período de 2020 e de 4,1% em relação ao trimestre diretamente anterior.
Mesmo com números expressivos, de acordo com um relatório do banco Safra sobre o assunto, os resultados foram bons, embora abaixo das expectativas do time de analistas da casa, “com fortes receitas operacionais (finalmente na margem financeira), parcialmente compensadas por maiores despesas operacionais”.
Commodities
De acordo com Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos, boa parte do setor petroleiro e siderúrgico ainda está colhendo os frutos do aumento de preços do minério de ferro e do petróleo.
“A Vale, CSN, assim como as demais gigantes do mercado devem reportar bons números em relação ao terceiro trimestre”, avalia Coser.
Sobre as petroleiras, o resultado mais aguardado é o da Petrobras, que apresenta seus números nesta quinta-feira, após o fechamento do mercado. Para o especialista da Valor, dois fatores pesam a favor de resultados positivos: os ajustes frequentes nos preços dos combustíveis e a execução do plano de desinvestimentos da estatal.
Até o momento, a Petrobras já realizou mais de 10 reajustes nos preços dos combustíveis e neste ano se desfez de alguns ativos, como a BR Distribuidora e de algumas refinarias. Com isso, segundo Coser, o lucro não recorrente deve vir interessante no balanço da companhia.
Varejo
Um dos setores mais afetados pela pandemia, o varejo vem tentando retomar o fôlego, porém segue travado com o aumento da inflação.
“As pessoas estão tendo que lidar com o aumento do preço da energia elétrica, do gás, dos alimentos em geral e do transporte. Em paralelo, a renda não subiu na mesma proporção, o que faz muita gente adiar a troca da TV, da geladeira, a compra de novas roupas ou até mesmo fazer uma obra em casa”, ressalta Coser.
Soma-se isso o índice de desemprego, na faixa dos 14%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Um prognóstico um pouco menos negativo deve ocorrer somente para o quatro trimestre, quando empresas como a Via e Magalu costumam se beneficiar de eventos como a Black Friday e as festas de fim de ano.
O especialista destaca que o segmento de consumo discricionário (carros, bens duráveis, vestuário) deve trazer resultados menores, assim como o de supermercados. Já o de farmácias não deve apresentar quedas por ser uma atividade resiliente, por conta da necessidade contínua de consumo de medicamentos.
“Com o repasse de custo aos alimentos, as pessoas estão buscando alternativas de produtos mais baratos e, muitas vezes, deixando de comprar certos itens”, avalia Coser.