Mercado aguarda novas projeções da inflação e se mantém atento ao avanço dela lá fora; balanços das empresas americanas seguem no radar
Sinalização das autoridades chinesas pode acalmar os mercados e balanços positivos nos EUA, dar gás às bolsas
O mercado financeiro abre a semana nesta segunda-feira, 18, conferindo as projeções atualizadas, de economistas e consultores, dos principais indicadores econômicos estampados no boletim Focus, que o Banco Central divulga às 8h30.
Três estimativas de dados do boletim Focus atraem em especial o interesse de investidores e gestores de mercado: a de inflação, Selic e crescimento do PIB. Dessas, a projeção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o principal foco.
A expectativa aumentou depois que o IPCA de setembro, de 1,16%, veio ligeiramente abaixo das previsões e gerou algum otimismo sobre a trajetória de preços daqui para a frente.
Os mercados esperam por projeções mais alentadoras no relatório Focus para dar continuidade à trajetória positiva da semana passada, quando a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, acumulou valorização de 1,61% e o dólar recuou 1,27%.
China e EUA
A inflação não é uma preocupação somente para os investidores brasileiros. Lá fora – assim como no País – a alta dos preços ligados à energia reforça a apreensão sobre o indicador, o que parece estar freando o crescimento chinês no terceiro trimestre. Os futuros nas bolsas americanas e os principais índices das bolsas europeias operam em baixa.
A fala do presidente do banco central da China, Yi Gang, sobre a atuação das autoridades para evitar contágio da crise de liquidez da Evergrande no mercado chinês, parece não ter reduzido o nível de estresse.
Gang afirmou na véspera que as autoridades do país têm atuado para evitar o contágio da crise de liquidez da incorporadora Evergrande sobre outras empresas do setor imobiliário e, com isso, prevenir possível risco sistêmico.
A inflação também foi abordada pela diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva. Durante o seminário anual do G30, a dirigente disse que a inflação pode ter um impacto significativo nas economias emergentes – incluindo o Brasil – com a elevação das taxas de juros.
Se esse diferencial de juros se mantiver, disse a chefe do FMI, os emergentes serão impactados. Em geral, em um cenário como esse, há saída de capital desses países.
Ainda no exterior, investidores e gestores seguem acompanhando os dados de balanços corporativos nos Estados Unidos que tiveram como destaque, na semana passada, os resultados de bancos acima das expectativas de analistas que trouxeram animação às bolsas americanas.
Na sexta-feira, 15, o Índice Dow Jones subiu 1,09%; o S&P 500, 0,75%; e o índice da bolsa de tecnologia Nasdaq avançou 0,5%.
O otimismo com a temporada de balanços corporativos nos EUA deu uma força também à B3, que fechou a sexta-feira,15, acima de 114 mil pontos (114.647,99 pontos).
O rompimento desse patamar seria um sinal de que a tendência de baixa de curto prazo poderá perder força e o mercado partir para um repique rumo ao alvo inicial na faixa de 118 mil pontos, de acordo com Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
Peso nos pregões
As incertezas com o cenário fiscal, contudo, é um dos fatores que podem continuar inibindo uma recuperação do mercado de ações. Um dos nós da questão fiscal, a indefinição sobre o pagamento de precatórios, poderia começar a ser desatado, de acordo com especialistas.
Nesta terça-feira, dia 19, a Comissão da PEC (Proposta de Emenda à Constituição nº 23/21) se reunirá para votar o parecer o relator, deputado Hugo Motta.
O mercado de dólar tende a continuar pressionado e reagindo às intervenções do Banco Central, como ocorreu nos últimos dias. As ofertas de contratos de swap cambial, que equivalem à venda futura de dólares pela autoridade monetária, têm contido o avanço do dólar, que fechou na sexta-feira, 15, abaixo do patamar de R$ 5,50 – foi vendido por R$ 5,45.
Lira: ‘driblando’ o impeachment
No cenário político local, o presidente da Câmara, Arthur Lira, segue “driblando” o pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
No final da semana passada, Lira pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a rejeição da ação que cobra a definição de prazo para a análise dos pedidos feitos contra o presidente da República.
No documento enviado à Corte, o parlamentar chama o processo de "solução extrema" e argumenta que questões regimentais devem ser analisadas pelo Congresso, e não pelo Poder Judiciário.
"Não há que se falar em prazo determinado em sede constitucional para que denúncia por crime de responsabilidade imputada ao Presidente da República seja examinada pela Presidência da Câmara dos Deputados", declarou Lira no documento.
A ação em discussão foi apresentada pelo PDT com o objetivo de obrigar Lira a pautar ao menos um dos mais de 130 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. O relator do caso é o ministro Kassio Nunes Marques, indicado pelo atual chefe do Executivo ao Supremo.
CPI da Covid: leitura do relatório adiada
A finalização dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado mantém o mercado atento. Porém, um dos momentos mais esperados, que é a leitura do relatório final da comissão, teve a data de execução adiada. Inicialmente, estava marcada para esta terça-feira, 19, com votação no dia seguinte, na quarta-feira, 20.
No documento final, de acordo com o relator da CPI, Renan Calheiros, constam 11 crimes cometidos pelo chefe do Executivo durante a atuação de enfrentamento da pandemia. Segundo ele, os crimes serão descritos e contextualizados no documento final a partir da conduta do presidente.
De acordo com o relator, os crimes pelos quais o presidente será indiciado são: epidemia com resultado morte; infração de medidas sanitárias; emprego irregular de verba pública; incitação ao crime; falsificação de documento particular; charlatanismo; prevaricação; genocídio de indígenas; crimes contra a humanidade; crimes de responsabilidade; e homicídio por omissão.
Esse último, em específico, refere-se "ao descumprimento do dever legal do presidente de evitar a morte de milhares de brasileiros durante a pandemia", disse o senador.
Além do presidente, mais de 40 outras pessoas serão indiciadas pela CPI, de acordo com o senador. "São personagens que tiveram óbvias participações no enfrentamento da pandemia, [na produção] de fake news e no gabinete do ódio, que funcionou durante a pandemia", afirmou o senador.
O ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, e o coronel Élcio Franco, ex-secretário-executivo da pasta, responsável pelas aquisições de vacinas fazem parte dessa lista.
Do outro lado do mundo
Voltando ao exterior, do outro lado do mundo, as bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em baixa nesta segunda-feira, após a China divulgar números de crescimento mais fracos do que se esperava, realimentando temores sobre o grau de recuperação da economia global após os impactos da pandemia de covid-19.
O índice chinês Xangai Composto recuou 0,12%, aos 3.568,14 pontos, enquanto o japonês Nikkei caiu 0,15% em Tóquio, aos 29.025,46 pontos.
O sul-coreano Kospi desvalorizou 0,28% em Seul, aos 3.006,68 pontos, e o Taiex registrou perda de 0,45% em Taiwan, aos 16.705,46 pontos.
O Produto Interno Bruto (PIB) da China teve expansão anual de 4,9% no terceiro trimestre, menor do que o avanço de 5,1% esperado por analistas e mostrando forte desaceleração em relação ao aumento de 7,9% visto no segundo trimestre.
Os últimos números chineses de produção industrial também decepcionaram em meio à recente crise energética, mas os de vendas no varejo surpreenderam positivamente.
Alguns mercados da Ásia, porém, tiveram leves ganhos nesta segunda. O Shenzhen Composto, índice chinês formado por empresas de menor valor de mercado, terminou o pregão em alta marginal de 0,06%, aos 2.402,04 pontos, e o Hang Seng subiu 0,31% em Hong Kong, aos 25.409,75 pontos.
Na Oceania, a bolsa australiana também ficou no azul, favorecida por ações dos setores minerador e bancário. O S&P/ASX 200 avançou 0,26%, aos 7.381,10 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado