Startups de veículos elétricos sofrem com perspectiva de alta dos juros, mas mercado tem potencial de crescimento; confira
Ações passam por momento de desvalorização diante de alta os juros, mas perspectivas são boas, dizem analistas
A utilização de carros elétricos ao redor do mundo vai se tornando uma realidade cada vez mais comum. Ao pensar na novidade, para muita gente a Tesla, do bilionário Elon Musk, a mais popular e que saiu na frente, é a associação imediata. Com o desempenho das ações da montadora listada na bolsa de Nasdaq, que em cinco anos já valorizou mais de 1.300%, outras startups de veículos elétricos também começaram a ganhar destaque na carteira dos investidores.
Nos últimos dois anos, com os bancos centrais adotando política de juros baixos e medidas para estimular a economia em meio à pandemia de covid-19, companhias do setor ganharam bastante destaque no mercado, por serem papéis que se beneficiam de custo baixo nos financiamentos. A retomada da atividade econômica e o novo ciclo de aperto monetário prestes a começar para controlar a inflação global, no entanto, são fatores que vêm pesando na cotação dessas ações nos últimos meses.
Embora o movimento mais recente das ações de startups de veículos elétricos seja predominantemente de queda, especialistas consideram que a tese de investimento é boa, já que este é um mercado com grande potencial de crescimento.
Everton Medeiros, que é especialista em renda variável na Valor Investimentos, destaca que, em 2021, as vendas de veículos elétricos superaram as dos veículos movido a diesel na Europa.
"Esse é um sinal claro de mudança de preferências dos consumidores em direção a um padrão de vida com uma pegada de carbono menor".
Everton Medeiros
Startups de veículos elétricos
Rentabilidade de ações de startups de veículos elétricos
Empresa | Código | País | Bolsa em que é listada | Rentabilidade no mês | Rentabilidade em 12 meses |
Rivian | RIVN | EUA | Nasdaq | -38,21% | -50,75% |
Lucid | LCID | EUA | Nasdaq | -1,67% | +63,99% |
NIO (ADR) | NIO | China | NYSE | -17,21% | -56,35% |
Faraday Future | FFIE | EUA | Nasdaq | -10,18% | -75,73% |
Canoo | GOEV | EUA | Nasdaq | -32,82% | -62,6% |
BYD | 1211 | China | Hong Kong | -5,03% | +2,11% |
Fisker | FSR | EUA | NYSE | -29,22% | -20,4% |
Confira detalhes de três empresas que se destacam no setor
Rivian
A Rivian fez sua estreia na Nasdaq em novembro do ano passado e, naquele momento, foi a sensação do mercado. Na primeira semana de negociação de suas ações, a companhia chegou a atingir um valor de mercado de cerca de US$ 153 bilhões, superior ao de gigantes como a Volkswagen e atrás apenas da Toyota.
Na época, uma análise do Morning Brew explicou que o otimismo com os papéis refletiam um sentimento muito específico do mercado: "ninguém quer perder a próxima Tesla". Depois de algumas semanas, entretanto, as ações da companhia devolveram boa parte dessa valorização exagerada e, com base no fechamento da última segunda-feira, 24, sua capitalização está em US$ 57,3 bilhões.
De acordo com informações da própria empresa, a Rivian está desenvolvendo uma picape elétrica (R1T) e um SUV elétrico (R1S) e começou a entregar algumas caminhonetes em setembro passado, principalmente para seus próprios funcionários. A companhia estima que a produção anual atingirá 150.000 veículos em sua instalação principal no final de 2023.
Lucid
Embora também não tenha tanto tempo de mercado, diferentemente da Rivian, as ações da Lucid, que estreou no mercado em julho de 2021, têm um desempenho positivo desde sua listagem. Os papéis da montadora, que tem uma capitalização de mercado de R$ 62,15 bilhões, são bastante procurados, inclusive, pelos brasileiros. Em dezembro, a Lucid foi a oitava ação do exterior mais negociada por investidores nacionais.
No ano passado, com apenas algumas unidades de seu veículo Lucid Air fabricadas e vendidas, a companhia especializada em veículos elétricos de luxo ganhou o prêmio de carro do ano pela Motor Trend, ajudando a impulsionar o desempenho de seus papéis no mercado acionário americano e global.
Há algumas semanas, a Lucid anunciou seus planos de começar a vender seus carros na Europa, um mercado com maior penetração de veículos elétricos entre os consumidores, o que deve acontecer ainda em 2022.
BYD
A chinesa BYD nasceu como uma fabricante de baterias recarregáveis para aparelhos eletrônicos em 1995 e de lá para cá só cresceu o seu império, sendo hoje a terceira maior montadora do mundo em vendas de carros elétricos: foram 180.587 só no terceiro trimestre de 2021, atrás apenas da Tesla e da Volkswagen.
A principal vantagem competitiva da BYD, de acordo com especialistas do setor, é que a companhia produz as suas próprias baterias elétricas recarregáveis e seus semiconsutores. Essa independência favorece a empresa, que tem uma capitalização de mercado de US$ 705,66 bilhões, em um cenário global de escassez de matéria-prima.
Em 2009, quando ainda nem se falava tanto de startups de veículos elétricos, o maior investidor individual da atualidade, Warren Buffett, comprou uma grande fatia das ações da BYD (cerca de 8,2% do capital da empresa, com 225 milhões de papéis), por US$ 232 milhões, com a justificativa de ser uma tese de investimento positiva para o longo prazo, tendo em vista as expectativas de que o mundo passaria a depender menos de combustíveis fósseis. Hoje, esses mesmos milhões de ações valem mais de US$ 8 bilhões.
Perspectivas para o setor de veículos elétricos
Apesar das perspectivas positivas, as ações da maioria das startups de veículos elétricos vive um momento de desvalorização, em decorrência das incertezas quanto ao rumo da economia e das políticas monetárias pelo mundo. Medeiros ressalta que é necessários ter cautela especialmente no que diz respeito à capacidade de financiamento de longo prazo das empresas, principalmente as mais novas.
"O motivo para isso é que os estímulos dados pelos governos, especialmente na Europa, para compra de veículos elétricos, podem distorcer os preços relativos frente aos veículos movidos a combustíveis fósseis, gerando um estímulo que pode desequilibrar o mercado no curto prazo, com reflexos também na bolsa de valores. No entanto, o cenário de alta das commodities e reabastecimento das cadeias de produção tecnológicas, especialmente a de microchips, favorece a indústria de carros elétricos e torna as ações atrativas para quem deseja se posicionar na mudança de comportamento do consumidor global".
Everton Medeiros
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