Qual a aposta de gestores para o ajuste do Fed nos juros americanos e quais os reflexos nos mercados
Alta deverá ser de 0,75pp deslocando juro entre 2,25% e 2,50% ao ano
Uma alta de 0,75 ponto porcentual, com o juro básico americano deslocando para uma faixa entre 2,25% e 2,50% ao ano. Essa é aposta consensual de analistas do mercado financeiro em relação à decisão que o Fed (Federal Reserve banco central americano) tomará na reunião desta quarta-feira, 27.
Bruna Centeno, especialista em renda fixa da Blue3, diz que não é praxe o Fed agir com surpresas. “A autoridade monetária dos EUA costuma sinalizar ao mercado sobre quais serão seus próximos passos.” E alguns números de inflação, segundo ela, apenas reforçam a premissa de uma elevação de 0,75 ponto porcentual do juro básico americano.
Especialistas esperam que essa sinalização seja dada pelo comunicado que o Fed divulga no término da reunião desta quarta. Ou venha na forma de recado, em pronunciamentos de integrantes do banco central americano que se seguem aos encontros de política monetária.
Com a elevação do juro dos Fed Funds, que corresponde à Selic brasileira, nesse calibre considerada favas contadas, o mercado está mais interessado aos próximos passos do Fed nas duas reuniões que ainda restam no ano.
Expectativa é de ajuste 0,75pp
Embora a expectativa com a reunião seja grande, um aumento de 0,75 ponto já está na conta do mercado e não deve provocar impacto em ativos como ações e dólar, acredita Luca Mercadante, economista da Rio Bravo. “É algo esperado, um consenso entre os analistas e gestores.”
O interesse está focado nas indicações que costumam acompanhar a reunião. “O que tenderia a impactar mais é o recado que o Fed pode trazer”, segundo Mercadante. Principalmente uma mensagem que indique uma de duas direções. “Ou que o Fed pretende endurecer mais a política monetária ou que, com os sinais de desaceleração de atividade, pode reduzir o ritmo de elevação dos juros.”
Uma ala está alinhada com essa perspectiva mais otimista a que o mercado já até reagiu em alguns dias, mais recentemente. Nem todos, no entanto, compartilham com essa ideia.
Igor Cavaca, head de gestão de Investimentos da Warren Asset, é um dos que não acreditam em um tom mais brando de Jerome Powell, presidente do Fed, sobre a política monetária. Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos, também prevê um discurso mais duro de Powell. “E isso, se confirmado, pode levar a alguma movimentação do dólar e impactar negativamente as ações, que ficam menos atraentes”, diz Cavaca.
Especialistas e analistas são unânimes em afirmar que o controle da inflação é o principal foco da política monetária americana, que deve perseguir esse objetivo a qualquer custo. Mesmo com o sacrifício do nível de atividade. “A inflação segue persistente, acima do esperado”, afirma Cavaca. A alta acumulada em 12 meses está em 9,1%.
Segundo ele, os indicadores antecedentes, como preços de imóveis e novas demandas de seguro-desemprego, que se movem antes de indicadores mais conhecidos, apontam para uma piora da economia. Mas o Fed deve continuar agindo com redobrada cautela.
“Tudo depende da inflação daqui para a frente”, afirma Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos. O Fed, segundo ele, até pode reduzir o ritmo de alta dos juros, “mas não deve dar (elevar) abaixo de 0,50 pontos-base, em setembro”, data da próxima reunião de política monetária nos Estados Unidos.
A continuidade do ciclo de elevação dos juros nos EUA é uma aposta consensual entre os analistas. Tanto quanto uma alta menor, nas duas reuniões que restam no ano, em relação à prevista para esta quarta-feira. A ala majoritária de analistas do mercado estima uma taxa de juros básica americana entre 3,25% e 3,50% ao ano, no fim de 2022.
Fed em busca do juro neutro
Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, diz que o Fed procura uma taxa neutra, que seria de 2,50% ao ano, nível a que chegaria nesta quarta-feira. “Uma taxa que deixa de ser estimulativa para entrar no campo restritivo.” Nessa condição, “os juros daqui para a frente teriam uma alta menor”, segundo a visão do Fed, avalia.
Olivares afirma que tudo gira em torno do cenário de inflação e atividade. Ele não compartilha da ideia de que a economia americana e, com ela, a global, entraria em recessão. “Haverá desaceleração econômica, mas, na visão do Fed, sem recessão”, e isso não é suficiente para o abrandamento da política monetária. “É preciso ver se a inflação recua”, acrescenta.
“Na bola dividida entre atividade fraca e inflação elevada, o Fed vai escolher o combate à inflação. É o objetivo prioritário, o compromisso do banco central dos EUA”, reforça Olivares.
Ele lembra que a inflação deixou de fazer parte da vida americana há 40 anos, período em que o Fed sempre cortou os juros para reanimar uma economia fraca. E o mercado se condicionou que pode fazer isso também desta vez. “Só que agora tem inflação e o banco central só pode ajudar a atividade, via juros, se a inflação estiver sob controle.”
Olivares lembra que muita gente, das gerações mais recentes, não viu o Fed enfrentar um dilema para decidir entre baixar a inflação e estimular a atividade econômica. Sua avaliação é que, se o Fed tiver de subir mais os juros que o previsto, essa decisão levará a uma forte desaceleração da economia americana e global.
Uma possibilidade que não autoriza, em sua opinião, um otimismo com as bolsas globais enquanto não houver clareza sobre até onde o Fed pode levar os juros. Ele está convencido, porém, de que o movimento seguinte ao da indicação de corte dos juros será de animação do mercado de ações.
Em sua avaliação, a alta de 0,75 pontos-base nos juros dos EUA já está no preço do dólar, que tem reagido à percepção do movimento de elevação dos juros americanos. “Se o Fed estender o ciclo de alta dos juros, o dólar pode continuar em processo de fortalecimento pelo mundo.”
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