O que esperar dos mercados em junho? Especialistas opinam
Não há empolgação em relação à Bolsa, juros altos, preços baixos das commodities, inflação persistente, tudo tem impacto negativo sobre o segmento de ações
Não há empolgação entre gestores e especialistas em relação à Bolsa de Valores para o mês de junho. “Andar de lado” ou “lateralização” foram os termos mais usados por eles para definir o que esperam para o mercado de ações nessa jornada. Quer dizer, o Ibovespa deve permanecer zanzando pelos atuais níveis,
A começar pela expectativa de permanência dos juros elevados tanto aqui quanto lá fora, as preocupações com uma inflação que se mostra mais persistente no mundo todo, o preço mais baixo das commodities diante de um crescimento econômico mais modesto. Tudo tem impacto negativo sobre os ativos.
O que pode mexer com o Ibovespa
A retomada de fôlego da Bolsa estaria condicionada a outros fatores, afirma Dierson Richetti, sócio da GT Capital: “Já tivemos a aprovação do arcabouço fiscal que é importante, porém sem a redução da taxa de juros, dificilmente a bolsa terá resultados tão bons”.
O comportamento das commodities também está na mira dos especialistas. Apolo Duarte sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital destaca que as atenções estão voltadas para a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) com a Rússia, que deve acontecer nesse próximo fim de semana (3 e 4 de junho).
O tema central deverá ser a definição da política de produção de petróleo para o segundo semestre deste ano. A expectativa, segundo Duarte, é a de que haverá corte de produção, em meio à queda das cotações da commodity. E a questão está em saber o tamanho desse corte, como ficam oferta e demanda e os novos níveis de preços.
“A bolsa está atrelada às commodities, o próprio petróleo está em uma lateralização de preços, na faixa de 70 a 85 dólares o barril, variando um pouco para cima um pouco para baixo”, diz Richetti. Por isso, o mês tende a começar com decisões importantes ,que podem trazer algum impacto para as bolsas.
Mas não é apenas o petróleo que se apresenta com preços mais baixos, o sócio da GT Capital inclui nessa lista, o minério de ferro, soja, milho e boi gordo. “O setor de agricultura que costuma puxar bastante o mercado não vem performando muito bem”, o que também dificulta uma alta mais sustentada do Ibovespa.
Juros no centro de tudo
Nenhum dos analistas ouvidos pela Mais Retorno espera por um corte da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontece nos dias 20 e 21 de junho.
O juro básico da economia deve permanecer em 13,75%, pelo menos, até a reunião do Copom em agosto. Por isso, as atenções estarão voltadas para alguma pista que possa ser dada pela autoridade monetária no comunicado pós-reunião.
“O mercado não espera queda dos juros, mas o comunicado do Banco Central vai ser muito importante para a trajetória dos ativos no mês, porque o mercado espera a queda para agosto”, pondera o sócio da AVG Capital.
Para Richetti, o atual cenário com a “aprovação do novo arcabouço fiscal, e a inflação dentro da banda” passa a dar as condições técnicas ao Banco Central de começar a reduzir os juros.
Mas não há unanimidade sobre o início do ciclo de baixa dos juros. Os economistas da Ativa Investimentos acreditam que a queda da inflação não é consistente, mas que se trata de um alívio momentâneo, sem continuidade em 2024 ou 2025, período também considerados para definição da política monetária pelo BC.
Eles estão céticos em relação à capacidade do novo arcabouço fiscal de segurar a dívida pública, por isso, trabalham com a hipótese de que a redução dos juros comece somente em abril de 2024.
Esfera política
Junho é o último mês para o Conselho Monetário Nacional fixar a meta de inflação para 2026. E esse é outro tema que traz alguma preocupação ao mercado.
O desejo de flexibilizar as metas de inflação, para que não haja tanta rigidez sobre os juros e portanto também sobre os gastos públicos, já foi expresso em várias oportunidades pelas autoridades do governo, como o presidente Lula e o ministro da Fazenda Fernando Haddad.
“Comenta-se que pode ter mudança de meta de inflação” diz Duarte, relatando porém que o tema foi rebatido, retirado da mesa, e que deve ser acompanhado com atenção.
A questão ao arcabouco fiscal está sendo tratada como uma ‘página virada' segundo o sócio da AVG Capital. E agora os investidores começam a olhar para a reforma tributária como uma pauta importante para o segundo semestre.
O avanço dessa reforma também é destacada pelo economista e professor da Faculdade do Comérdio, FAC-SP, Roberto Simões, como um fator positivo para a Bolsa.
“O mercado está aguardando e será bem-vinda essa reforma com a redução e facilidade da apuração dos tributos pela empresas, em que você pega todos os tributos indiretos e transforma em um ou dois, seria o IVA ou IVA dual", explica o professor.
Mercado externo
Lá fora, são os impasses com o aumento do teto da dívida americana que vêm agitando os mercados.
“O teto da dívida dos Estados Unidos está sendo discutido pelo presidente Biden e o Congresso americano. Iremos ver se os EUA fará um plano de redução dos gastos públicos, ou se fará alteração, ampliação do teto para poder suportar melhor esse aumento da dívida, que vinha ocorrendo”, ressalta Simões.
Essa dificuldade "de aprovar as contas públicas, inclusive, gerou um ruído no mercado de um possível default, de não pagamento. Mas, historicamente, eles sempre aprovam suas contas aso 45 minutos do segundo tempo”, diz Richetti.
Duarte lembra que após as seguidas altas dos juros americanos, “o mercado acredita que tenha chegado no topo, mas vai ser muito importante a reunião do Fed no final do mês para balizar esse sentimento”.
Segundo ele, as dúvidas estão ligadas ao tempo em que os juros permanecerão elevados, e se de fato o ciclo de alta foi encerrado. “Isso pode trazer bastante volatilidade tanto aqui quanto lá fora”, prevê o head da mesa de renda variável da AVG Capital.