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Economia

O “novo capitalismo” e os investimentos ESG

Atualmente, uma das tarefas mais ingratas dos economistas é prever o desempenho econômico no pós-pandemia. Sem algumas premissas para o PIB, o nível de desemprego e…

Data de publicação:02/07/2020 às 09:52 -
Atualizado 4 anos atrás
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Atualmente, uma das tarefas mais ingratas dos economistas é prever o desempenho econômico no pós-pandemia. Sem algumas premissas para o PIB, o nível de desemprego e a taxa de câmbio por exemplo, fica impraticável “rodar” qualquer modelo econômico minimamente confiável para orientar as decisões de investimento.

Para ilustrar um caso recente, o Wall Street Journal, conceituado jornal de finanças dos EUA, coletou entre os economistas que lhe fornecem previsões regularmente alguns dados bastante divergentes:

  • Queda anualizada de 14% no PIB para os próximos 3 meses;
  • Aumento de 55% do PIB para o mesmo período.

Percebe-se que ninguém sabe bem o que esperar do segundo semestre de 2020.

O problema é que o acompanhamento dos dados econômicos é tão importante para os investidores profissionais quanto a variação dos preços dos ativos. Não só para “medir o pulso” da economia ao longo do tempo, mas também para estimar o retorno esperado das empresas de capital aberto.

Elas divulgaram os seus resultados para o primeiro trimestre do ano, de forma que já são conhecidas as medidas tomadas em termos de proteção dos seus recursos financeiros e da eficiência de suas operações.

Porém, os mais recentes balanços mostraram muito mais do que apenas números. Para entender o que mudou, é preciso voltar no tempo.

O capitalismo

Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, expôs em um de seus estudos o processo de queda da renda dos trabalhadores norte-americanos, um fenômeno que vem se desenvolvendo desde a década de 80 e que é brilhantemente retratado no documentário do casal Obama, “American Factory”.

Vencedor do Oscar de melhor documentário de 2020, ele mostra as transformações na economia sob a ótica de uma antiga fábrica da GM que é adquirida por uma empresa chinesa:

  • Ausência de sindicalização: além do choque inicial de culturas, os funcionários americanos deixam de se sindicalizar para não serem demitidos pelos seus chefes chineses;
  • Maior poder dos acionistas e pressão por custos: representados pela diferença entre os salários pagos pela antiga GM (US$ 29/hora) e pela empresa chinesa (US$ 14/hora).

O desemprego e o achatamento salarial resultantes desses dois elementos evidenciam a fragmentação da classe média norte-americana, descontente com a desigualdade de oportunidades e espremida pelo alto custo de vida dos grandes centros urbanos, cujos imóveis se valorizaram em função da vigência de baixas taxas de juros após a crise de 2008.

Assim, apesar dos anos de pleno emprego e baixa inflação (os dois objetivos do mandato do Fed), as pessoas basicamente se encontravam em empregos de baixa qualificação ou até mesmo em condições de subemprego.

A chegada da pandemia funcionou como um “Ctrl+Alt+Del” nessa dinâmica perversa.

O novo capitalismo

Um capitalismo mais sustentável é uma de suas consequências. Começando pelo “#nãodemita”, compromisso liderado por 40 grandes empresas para não demitir, contrastando com o que normalmente se observava em crises anteriores. Outra novidade foi a redução voluntária dos salários de executivos de alto escalão.

Tudo por uma questão de reputação, o que está diretamente relacionado ao papel das companhias no que diz respeito ao meio-ambiente (E), a sociedade (S) e ao seu modelo de gestão (G). Portanto, não se trata mais da supremacia do lucro ao acionista, bandeira defendida por Milton Friedman, o mais popular do economistas vencedores do prêmio Nobel de Economia.

Sem dividendos

O movimento alcançou setores distintos, como indústrias de cerveja e montadoras de veículos, que tiveram as suas atividades suspensas e as suas rotinas alteradas para produzir álcool para fins sanitários ou reparar respiradores.

Não se trata mais de cumprir alguns critérios e gerar um belo relatório anual de sustentabilidade empresarial. Agora elas precisam mostrar que estão atentas para o que ocorre ao seu redor. Consequentemente, cortaram despesas e dividendos

Nem todas estão preparadas para mudanças tão drásticas, mas a cultura que vinha se consolidando, de setores mais tradicionais se associando a startups, logo formará um ecossistema de empresas inovadoras e sustentáveis.

Mudanças Climáticas

Muito se fala sobre como o clima pode ser o próximo grande desafio da humanidade.

Durante as semanas em que o mundo todo parou, vários satélites capturaram imagens inimagináveis: regiões altamente desenvolvidas com pouca poluição atmosférica. Se a sociedade desejasse perpetuar essa realidade ao longo do tempo, a conta seria em torno de US$ 3,8 trilhões, de acordo com o instituto Climate Policy Initiative.

Usando dados de 2018, calcula-se que apenas 15% desse valor tenha sido investido para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. No pós-pandemia, com os governos priorizando programas de auxílio financeiro às pessoas mais vulneráveis, é bastante provável que o setor privado e, mais especificamente o mercado de capitais, financie a transição energética para fontes mais limpas.

O Brasil está bem avançado nesse sentido. O exemplo mais recente disso é o programa para o combate ao desmatamento. Seu objetivo é permitir que instrumentos bem regulamentados e já conhecidos pelo investidor pessoa física viabilizem projetos ambientais:

Adicionalmente, cria a possibilidade de se instituir um mercado de crédito de carbono, de onde podem surgir novas opções.

Fundos ESG

Por mais que o investidor pessoa física tenha se tornado um componente importante do mercado financeiro, ele não explica sozinho o renovado zelo pelo meio-ambiente.

Investidores institucionais, como fundos de investimento e seguradoras, passaram os últimos anos observando o crescimento astronômico de indenizações por danos ambientais, muitas vezes superiores aos ganhos financeiros de determinadas estratégias de gestão.

Conforme a opinião pública exige o endereçamento de questões dessa natureza, eis algumas ações que podem enterrar de vez os recursos de fundos, poupados por pessoas comuns durante uma vida inteira:

  • Regulamentações novas que exijam das empresas compensações pelas suas externalidades negativas;
  • Ativos baixados contabilmente nos balanços das empresas por perderem a sua utilidade (a exemplo de poços de petróleo mais antigos, que não podem ser recuperados uma vez suspensa a sua produção).

Isso vale principalmente para a indústria de fundos de gestão ativa. Ao adotar critérios de sustentabilidade, renovam a sua imagem e, consequentemente, capturam uma geração apaixonada pelos Exchange Traded Funds (ETFs) e que desdenha os fundos geridos por pessoas experientes no lugar de robôs e algoritmos.

Inúmeros estudos apontam as vantagens das empresas que abraçam a causa ESG, inclusive em relação aos seus retornos, mas ainda existe um último obstáculo a ser superado: a mensuração dos impactos, o que exige mais expertise que os filtros adotados para excluir empresas que não se classificam como sustentáveis.

Não existe um padrão reconhecido mundialmente ou certificadoras com metodologia específica para as gestoras, de forma que a credibilidade ainda está muito atrelada às instituições financeiras que estão desenvolvendo esse mercado, usando como referência os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU.

Corona Bonds

Se os fundos estão se organizando para investir em novas opções, nada mais oportuno do que oferecer novas alternativas. Foi assim que o Banco Mundial captou US$ 1 bilhão para apoiar programas de manutenção de empregos em vários países.

Até então, o nicho que mais levantava recursos via títulos de renda fixa eram os “títulos verdes”, que financiam projetos de energia limpa.

Tudo indica que essa tendência veio para ficar. Entre fevereiro e maio, o banco francês BNP Paribas identificou nada menos do que US$ 151,5 bilhões em ações para combater os efeitos da pandemia na economia e na vida das pessoas.

Isso estimulou bancos privados, tanto na Europa como nos EUA, a lançarem as suas próprias versões de bônus pandêmicos.

Conclusão

Enquanto os economistas refazem as contas, as empresas mostram o novo capitalismo.

Longe de defender apenas os interesses de seus acionistas, elas adotam uma postura de mitigação de danos em relação aos seus stakeholders. Enquanto cuidam da população e de seus funcionários, se preocupam com as ameaças futuras, como a mudança climática.

Na ausência de recursos públicos, restará aos investidores privados viabilizar soluções. Pessoas físicas em breve terão a opção de escolher quais projetos desejam financiar, com a mesma facilidade com que escolhem remuneração e prazo, enquanto os fundos se aperfeiçoam para definir novos padrões ao setor.

Quem estiver atento perceberá que as possibilidades estarão em todos os lugares, permitindo a construção de um portfólio de investimentos sustentável. Títulos de renda fixa, ETFs baseados na sustentabilidade e fundos de gestão ativa temáticos constarão da prateleira à disposição do investidor, seja em real ou em uma outra moeda.

“Se você fizer direito, só precisa fazer uma vez.”

Larry Summers 
Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.
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