No último dia do mês, mercado tem dólar com maior valorização e Bolsa com maior queda
Cenário fiscal gerou tensão e instabilidade entre os investidores
O mercado financeiro encerra o mês de outubro nesta sexta-feira, 29, último dia útil do mês, com um sentimento de recorrente preocupação com o equilíbrio das contas públicas.
A votação da PEC dos Precatórios, que poderia sinalizar um caminho para que o governo pague o Auxílio Brasil sem furar o teto de gastos, foi adiada mais uma vez na Câmara e deve ficar para a próxima semana, após o feriado de Finados.
O temor com o desequilíbrio das contas públicas, mantido pelo adiamento da votação da PEC, trouxe o mau humor de volta ao mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, ignorou o dia positivo das bolsas americanas e fechou o pregão com queda de 0,62%, aos 105.704,96 pontos. O dólar ganhou tração e avançou 1,26%, para R$ 5,62.
O dólar chega ao último dia útil de outubro como a aplicação mais rentável do mês, sustentando uma valorização de 3,12%, e a B3 como a pior, com queda acumulada de 4,75% até ontem.
Especialistas atribuem o peso dos mercados também a uma suposta insatisfação com o reajuste aplicado pelo Banco Central na Selic, visto por parte de analistas como insuficiente para conter a escalada da inflação, em meio a uma alta disseminada de preços na economia.
Selic não segura inflação
Esse sentimento, segundo analistas, refletiu-se no mercado de juros futuros, que apontou alta nas taxas de contratos de todos os vencimentos. Um movimento que indica que investidores e gestores de mercado esperam por ajustes da Selic ainda mais reforçados nas próximas reuniões do Copom.
À medida que os juros sobem, crescem também as expectativas de um crescimento econômico mais baixo no próximo ano. As estimativas de alta do PIB têm sido revisadas continuamente para baixo, com algumas previsões já apontando para um crescimento negativo em 2022.
A perspectiva de baixo crescimento em um cenário de inflação e juros em alta tem provocado desapontamento nos investidores, especialmente no mercado de ações, e atiçado a alta do dólar.
Mesmo com a elevação dos juros, que torna mais atraentes as aplicações em renda fixa no País, investidores preferem uma posição mais defensiva, de proteção de capital no dólar.
Cenário fiscal
Com votação prevista para a próxima quarta-feira, 3, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos precatórios se mantém no radar dos investidores. No dia anterior, o relator da proposta, Hugo Motta, disse que o que o Congresso não está dando "cheque em branco" para o governo gastar como quiser o espaço extra no teto de gastos, que será aberto com a aprovação da medida.
Ele demonstrou confiança na aprovação célere da PEC, tanto da Câmara quanto no Senado, e defendeu que a proposta é a "melhor saída" para ampliar a proteção social das famílias brasileiras.
Apesar da falta de quórum ontem para a votação da medida no plenário da Câmara dos Deputados, Motta demonstrou confiança na aprovação do texto na próxima quarta-feira, 3, "por ampla maioria". Em seguida, segundo ele, a tendência é que a apreciação também seja célere no Senado, presidido por Rodrigo Pacheco.
"Pacheco tem sensibilidade para com o tema, para votação rápida no Senado", disse Mota.
Mais cedo, o ministro da Cidadania, João Roma, alertou que a PEC precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional até, no máximo, a segunda semana de novembro, sob pena de o pagamento do Auxílio Brasil ter dificuldades para sair.
"Até o dia 15 de novembro, no caso antes, porque 15 é segunda-feira de feriado. Nosso apelo é para que, até a segunda semana de novembro, essa medida possa ser aprovada, porque, se não, terão dificuldades operacionais para fazer chegar o recurso à população", disse Roma a jornalistas na saída do Palácio do Planalto.
Lá fora
No exterior, o mercado financeiro repercute a temporada de balanços corporativos, o que tem ajudado no avanço dos principais índices das bolsas americanas. Além disso, investidores monitoram as negociações de medidas econômicas em Washington.
Em NY, os futuros operam no terreno negativo, por conta dos resultados das big techs Apple e Amazon, que vieram abaixo do esperado pelos analistas.
Na véspera, o S&P 500 e o Nasdaq 100 renovaram máximas históricas de fechamento. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,68%, em 35.730,48 pontos, o S&P 500 subiu 0,98%, a 4.596,42 pontos, e o Nasdaq avançou 1,39%, a 15.448,12 pontos.
Segundo relatório do Bank of America (BofA), com até agora cerca da metade de empresas emissoras com grau de investimento tendo publicado balanços, o lucro delas até agora ficou em média 12% acima das expectativas, com as vendas superando as projeções em 2,2%.
No dia anterior, o Departamento do Comércio dos EUA divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre cresceu 2%, abaixo das estimativas dos analistas.
Sobre o PIB, a Capital Economics comenta que problemas na oferta, o avanço da variante delta da covid-19 no período e menos estímulos pesaram no resultado, mas a consultoria projeta "alguma reação" no crescimento americano durante o quarto trimestre, com avanço de 3,0% do PIB.
Em Washington, continuam as negociações de medidas almejadas pelo governo do presidente Joe Biden. A Casa Branca publicou, no dia anterior, uma versão revisada de um de seus projetos, a agenda "Build Back Better", com a expectativa de que com isso possa ter apoio suficiente no Legislativo.
Na Ásia, as bolsas fecharam sem direção única nesta sexta-feira, com parte delas pressionadas por ações de fornecedores da americana Apple, que, na véspera, divulgou receita abaixo da expectativa em seu informe trimestral.
A decepção com o balanço da Apple pesou no índice sul-coreano Kospi, que caiu 1,29% em Seul, aos 2.970,68 pontos, e no Taiex, que recuou 0,32% em Taiwan, aos 16.987,41 pontos. Em Hong Kong, o Hang Seng também ficou no vermelho, com baixa de 0,70%, aos 25.377,24 pontos.
Outra gigante da tecnologia dos EUA, a Amazon, também publicou resultados trimestrais piores do que o esperado, contribuindo para o sentimento parcialmente negativo na Ásia.
Por outro lado, o Nikkei subiu 0,25% em Tóquio, aos 28.892,69 pontos, na expectativa para as eleições parlamentares do Japão do fim de semana.
Os mercados da China continental também se valorizaram, apagando parte de perdas recentes: o Xangai Composto avançou 0,82%, aos 3.547,34 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto mostrou alta de 1,60%, aos 2.400,03 pontos.
Na Oceania, a bolsa australiana teve um dia de perdas significativas, lideradas por ações dos setores imobiliário, de comunicações e financeiro. O S&P/ASX 200 caiu 1,44% em Sydney, aos 7.323,70 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado