Depois do Mercado Livre, outras empresas devem passar a usar criptoativos, apostam os especialistas
Mercado Livre anunciou novos negócios na semana passada
Na última semana, o Mercado Livre anunciou a compra de uma participação no Grupo 2TM, controlador do Mercado Bitcoin, e na Paxos, uma plataforma de infraestrutura blockchain que já tem parceria com a gigante do comércio eletrônico desde dezembro. Por meio de fato relevante, a companhia informou que as aquisições são parte de seu compromisso com o desenvolvimento e uso de criptoativos e tecnologia blockchain.
Bem como o Mercado Livre, outras empresas tradicionais e referências em seus segmentos, como Walmart, Playboy, Tesla e Adidas, por exemplo, também já iniciaram movimentos para implementar as criptomoedas e outros ativos digitais em suas operações e dia a dia com os clientes. Especialistas do setor consideram que a tendência, daqui para frente, é que, cada vez mais, outras empresas passem a adotar o uso dos criptoativos.
"Criptoativos são eficientes, tanto do ponto de vista tecnológico quanto do ponto de vista dos meios de pagamento. Com a contínua adoção desta classe de ativo, o aumento da penetração e da diversidade de problemas que são resolvidos por tecnologias descentralizadas, esperamos que, cada vez mais, as empresas tradicionais tomem ciência da revolução que se acelera".
Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management
De acordo com Ludolf, para entender o momento dos ativos digitais, é possível traçar uma analogia histórica com o início da aceitação de cartões de crédito pelas varejistas, que demorou, mas aconteceu de forma bastante ampla. O especialista considera que, no futuro, as tecnologias "legados" (mais antigas) serão substituídas por tecnologias descentralizadas e que, nesse momento, pode haver o fim do papel moeda.
Objetivos do Mercado Livre com os criptoativos
"As criptomoedas e a tecnologia blockchain representam um fenômeno único, global e coletivo que quebra barreiras e cria um ambiente aberto e nivelado para que todos os consumidores alcancem o empoderamento econômico, o que está muito alinhado com nossa missão como empresa".
André Chaves, vice-presidente sênior de Estratégia e Desenvolvimento Corporativo do Mercado Livre para América Latina
O valor das transações do rede de comércio eletrônico com o Grupo 2TM e a Paxos não foi informado. No entanto, o Mercado Livre afirmou, em comunicado ao mercado, que além do uso dos criptoativos, os negócios fechados no começo de 2022 visam oferecer mais produtos e serviços para os empreendedores e consumidores da América Latina.
A parceria da companhia com a Paxos já é um pouco mais antiga. Desde dezembro, o Mercado Pago, empresa do Mercado Livre, oferece aos usuários brasileiros acesso à compra, custódia e venda de bitcoin, ether (da rede ethereum) e stablecoin USDP por meio de suas contas digitais, com transações a partir de R$ 1.
Perspectivas para o uso de criptos
"Acredito que nos próximos 2 anos a penetração de cripto vai ser de magnitude maior do que é hoje e ao longo da próxima década caminharemos para um cenário do fim do papel moeda, diminuindo sonegação fiscal aumentando o poder da política monetária, via velocidade do dinheiro e um mundo mais transparente, eficiente e justo".
Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management
Ludolf considera que, entre as criptomoedas estáveis a a CBDCs (moedas digitais emitidas por bancos centrais, na tradução), a inserção desses ativos deve ser "bastante acelerada". Entretanto, não são apenas as moedas fiduciárias que devem ganhar espaço. O especialista afirma que as tecnologias estão amadurecendo e, com um grande fluxo de investimento, "temos um ambiente de melhora da experiência do usuário, com aplicações mais polidas".
Quais são os desafios?
Sobre os desafios que os criptoativos podem enfrentar para que cada vez mais empresas adotem o modelo, Ludolf destaca que há alguns gargalos técnicos que precisam ser superados - sobretudo a escalabilidade das redes e melhorias nos protocolos e na jornada dos clientes.
Além disso, o diretor de investimentos da QR Asset ressalta a questão sobre a regulamentação dos ativos. "O arcabouço legal ainda está sendo construído e existe uma infinidade de projetos que utilizam tecnologias descentralizadas apenas para marketing e para pagar menos imposto. Há uma zona cinzenta regulatória que precisa ser pacificada pelos reguladores. Mas o importante aqui é dizer que regulação nunca acaba com a inovação", explica.
Outras empresas além do Mercado Livre que já utilizam criptoativos
O diretor de investimentos da QR Asset pontua que há um número crescente de companhias que passaram a aceitar criptoativos para além do Mercado Livre, permeando diversos setores que permitem que ser consumidores utilizem seus tokens como meio de pagamentos para seus bens e serviços: das empresas de tecnologia às companhias aéreas.
Ludolf ressalta que esse "processo de adoção não começou agora, mas passou a ganhar mais tração nos últimos dois anos".
Entre diversas companhias, o especialista destaca:
- A empresa de viagens Expedia aceita pagamentos com bitcoin desde 2014;
- As companhias aéreas AirBaltic e LOT, que passaram a aceitar bitcoin em 2015;
- A empresas de cosméticos sustentáveis Lush, que passou a aceitar bitcoin em 2017;
- A Coca Cola, na Ásia, tem mais de 2 mil máquinas de refrigerante que aceitam bitcoin;
- A casa de leilões Sotheby's aceita ofertas para seus leilõess feitas com criptoativos;
- A Amazon permite, via alguns prestadores de serviço, converter criptoativos em gift cards;
- A Microsoft permite créditos via bitcoin para pagar por produtos e serviços como o Xbox Live e o Skype;
- A Tesla permite que alguns criptoativos sejam utilizados para comprar merchandising;
- O Starbucks tem um programa fechado com cerca de 500 mil clientes para testar a aceitação de criptoativos para comprar café.
Companhias que também já deram os primeiros passos com os ativos digitais
Empresa | Segmento |
Walmart | Rede varejista |
Adidas | Moda esportiva |
Nike | Moda esportiva |
Gap | Moda |
Bratz | Fabricante de brinquedos |
Pringles | Alimentação |
Tencent | Portal de serviços online |
Ubisoft | Jogos digitais |
Pizza Hut | Alimentação |
Playboy | Entretenimento adulto |
NBA Top Shot | Esportes |
Roblox | Jogos digitais |
Ebay | Comércio eletrônico |