Mercado inicia a semana em ritmo de cautela e aguarda Selic a 10,75% ao ano
Expectativa é de que Banco Central continue sinalizando juros rodando acima da inflação ao longo do ano
O mercado financeiro retoma os negócios nesta segunda-feira, 31, para fechar o primeiro mês do ano com saldo positivo. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, acumula valorização de 6,76% e o dólar, queda de 3,60%, no mês, até agora. No entanto, o dia tem início com um pouco de cautela lá fora, com os futuros americanos operando mistos e as bolsas chinesas fechando o período no azul, com feriado na China.
A semana promete muitas emoções. Um dos eventos que chamam a atenção de investidores e gestores é a decisão sobre a Selic, que pelas estimativas e sinalização já dada pelo Banco Central (BC) deve ter nova alta de 1,50 ponto porcentual. A ideia é que o Comitê de Política Monetária (Copom) suba a taxa básica da economia atual de 9,25% ao ano para 10,75%, na quarta-feira, 2, no fim da primeira reunião do ano.
A elevação de 1,50 ponto é uma aposta quase que consensual dos analistas. “Nem mais nem menos”, prevê Gustavo Bertotti, head de Renda Variável da Messem Investimentos. “A inflação continua pressionada, mas deve perder força por causa da política monetária mais contracionista.”
É a indicação que o BC vem dando e o recado é que a Selic, que tem andado abaixo da inflação, passará a rodar com margem positiva, acima dela. Em números, para uma inflação de 5,15% projetada, o mercado financeiro prevê que 2022 termine com uma Selic de 11,75% - mais que o dobro do IPCA estimado para o ano, de acordo com o Focus.
A política dura do BC faz sentido, dizem especialistas, porque a inflação projetada para este ano está acima do centro da meta de 3,50% e também acima do teto de 5,00%, 1,50 ponto de variação acima da meta central, que o BC mira ao calibrar a Selic em cada reunião do Copom.
A projeção do mercado está alinhada com essa política “e não há necessidade de ir contra as expectativas com uma alta maior ou menor”, acredita Bertotti, até para não criar uma volatilidade desnecessária. Os investidores que se posicionam em juros futuros estão, em sua maioria, alinhados com o que já foi adiantado pelo BC e uma alta fora das previsões tende a provocar um corre-corre para ajuste de posições, o que gera nervosismo forte transferência de renda no mercado.
Fed também atrai a atenção dos investidores
O head de Renda Variável da Messem diz que a política monetária doméstica divide a atenção de investidor e gestores com a política monetária americana após as falas de Jerome Powell, presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos), semana passada.
“Há uma preocupação muito grande com a velocidade com que o Fed vai ajustar os juros”, aponta Bertotti, “não apenas por causa da inflação americana, mas também pela pressão global sobre os preços”, principalmente pela tensão geopolítica na Ucrânia que pode agravar o custo de energia, pontua.
A principal incerteza é com a velocidade de alta dos juros americanos. Com a inflação persistente apontada por Powell, há quem esteja apostando que os juros sejam ajustados três vezes, ou mais, nesse ano.
Futuros/bolsas americanas
- S&P 500: + 0,04%
- Dow Jones: - 0,23%
- Nasdaq 100: + 0,47% (dados atualizados às 7h30)
Capital estrangeiro segue em bom momento na B3
O ambiente de dúvidas com a inflação e os juros nos Estados Unidos não tem desencorajado o capital estrangeiro a comprar ações na B3. “É o investidor externo que tem dado sustentação ao mercado acionário doméstico”, em contraponto às vendas dos investidores locais.
Pelos dados da B3, no ano, até dia 26, o fluxo de capital estrangeiro soma um saldo positivo de R$ 24,8 bilhões, comparado com um saldo negativo de R$ 5,7 bilhões, gerado pelas vendas de investidores pessoa física, e de R$ 21,6 bilhões, pelas vendas de investidores institucionais, como fundos de previdência e pensão, além de fundos multimercado e de ações.
Ambiente político no Brasil: semana promete ser tensa
No cenário político interno, a semana pode set tensa em mais um capítulo de "queda de braço" entre os Poderes: um coronel da reserva do Exército e um empresário de São Paulo relataram à Polícia Federal como o Comando Militar do Sudeste (CMSE), então comandado pelo general Luiz Eduardo Ramos, se interessou em 2018 "em receber e avaliar uma suposta denúncia de fraude nas urnas eletrônicas do TSE nas eleições de 2014", segundo reportagem do UOL.
Três anos depois, durante uma transmissão ao vivo, o presidente Jair Bolsonaro denunciou supostas fraudes nas urnas eletrônicas daquelas eleições, sem apresentar nenhuma prova. A apuração da PF sobre o conteúdo dessa live foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes a partir de uma manifestação do TSE. Os depoimentos foram feitos à PF pelo empresário Marcelo Abrileri e pelo coronel de artilharia do Exército, Eduardo Gomes da Silva.
A delegada da PF responsável pela apuração, Denisse Dias Rosas Ribeiro, indagou sobre uma informação contida nos depoimentos de dois peritos criminais da PF, Ivo de Carvalho Peixinho e Mateus de Castro Polastro. Ambos contaram terem sido chamados a uma reunião no Palácio do Planalto em 23 de julho de 2021, seis dias antes da live.
No encontro participaram Ramos, Silva e mais quatro pessoas, incluindo o diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, e o ministro da Justiça, Anderson Torres. Ramos depois diria à PF que Bolsonaro "tinha conhecimento da reunião". Segundo a reportagem, "era um preparativo para a live presidencial".
Exterior
Europa: BCE também se reúne nesta semana
Na Europa, as principais praças financeiras operam majoritariamente em alta, com a expectativa de um encontro entre os dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) também nesta semana para discutir a taxa de juros do bloco. A expectativa é de que a autoridade monetária mantenha seu argumento de que a inflação recuará com o tempo.
Na Inglaterra, as estimativas seguem direção contrária. O Banco Central do país (BoE) deve aumentar suas taxas novamente nesta semana, continuando a tendência global de uma política monetária mais rígida.
Bolsas europeias/principais indicadores
- Stoxx 600 (Europa): + 0,67%
- Ftse 100 (Londres): - 0,03%
- DAX (Frankfurt): - ),86%
- CAC 40 (Paris): + 0,33% (dados atualizados às 7h31)
Bolsas asiáticas fecham em alta, com feriado na China
As bolsas asiáticas encerraram os negócios desta segunda-feira majoritariamente em alta, seguindo o desempenho positivo de Wall Street do fim da semana passada, em meio a feriados na China e em outras partes da região.
Dados divulgados no dia anterior mostraram que a atividade fabril da China desacelerou em janeiro, com o ressurgimento de casos de covid-19 e os respectivos bloqueios à mobilidade que atingiram tanto a produção quanto a demanda.
Os mercados da China e de Taiwan permanecerão fechados ao longo de toda a semana devido ao feriado do ano-novo lunar. Na Coreia do Sul, que também comemora seu ano-novo, as bolsas reabrirão na quinta-feira, 3. / com Júlia Zillig e Agência Estado
Bolsas asiáticas/fechamento
- Nikkei (Tóquio): + 1,07% (27.001 pontos)
- Hang Seng (Hong Kong): + 1,07% (23.802 pontos)
- Kospi (Seul): bolsa fechada/feriado
- Xangai Composto (China continental): bolsa fechada/feriado
- Shenzhen Composto (China continental): bolsa fechada/feriado
- S&P/ASX 200 (Sydnei): - 0,24% (6.971 pontos)