Inflação doméstica e retomada global seguem no radar desta 3ª feira
O otimismo deu o tom aos negócios no mercado financeiro na última segunda-feira, 24, um sentimento que empurrou e sustentou o Ibovespa acima dos 124 mil…
O otimismo deu o tom aos negócios no mercado financeiro na última segunda-feira, 24, um sentimento que empurrou e sustentou o Ibovespa acima dos 124 mil pontos, no fechamento, pela primeira vez desde o dia 8 de janeiro.
A animação do mercado está bastante ligada com as expectativas positivas em relação à retomada da economia global e local, comenta o economista Alexandre Almeida, economista da CM Capital.
Analistas de mercado consultados pelo boletim Focus fizeram nova revisão para cima nas estimativas de PIB, de 3,45%, da projeção anterior, para 3,52%, para 2021.
O cenário é avaliado como positivo também no exterior, com os sinais de retomada da atividade global, especialmente da China, de países da Europa e, sobretudo, dos Estados Unidos. Um desenho que dá alento ao mercado de ações, entusiasmado com a perspectiva de bom desempenho das empresas.
O crescimento econômico que motiva os investidores a procurar a bolsa de valores alimenta também certa preocupação, já que em sua esteira costuma aparecer a inflação, monitorada com cautela e certa apreensão.
E não sem motivo, segundo especialistas, porque a alta da inflação é quase sempre acompanhada pela elevação das taxas de juros para contê-la.
É com interesse que investidores e profissionais de mercado aguardam a divulgação, nesta terça-feira, do IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial de maio. O economista da CM prevê um IPCA-15 de 0,55%, que, se confirmado, puxaria o acumulado em 12 meses para 7,38%.
Embora não seja a inflação oficial, um porcentual acima de 7% para o IPCA-15 está bastante acima de 3,75%, centro da meta que o Banco Central mira ao fixar a taxa básica, a Selic. A inflação oficial projetada pelo Focus para 2021 subiu para 5,24%, alinhada com o teto da meta de 5,25%.
Os próximos dias continuam com a agenda lotada de dados que, de alguma forma, darão ideia de como anda a economia.
Na quinta-feira, 27, serão divulgados os dados sobre a taxa de desemprego apurada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e, na sexta, do Caged (Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados), com um retrato da situação da mão de obra formal no País.
O dado mais aguardado, contudo, é o índice de preços de gastos com consumo nos EUA (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida do Fed (Federal Reserve, banco central americano) para a calibragem da política monetária, dos juros.
“É um dado de inflação ao consumidor que leva em conta os gastos da família, que o Fed olha com muita atenção”, explica Almeida.
PIB: rumo aos 4%
No dia em que o Banco Central divulgou a última versão do Boletim Focus, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto apontou que diversas expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 estão indo em direção aos 4,00%.
De acordo com a projeção dos economistas do mercado, a expectativa para a economia este ano passou de alta de de 3,45% para elevação de 3,52%. Há quatro semanas, a estimativa era de 3,09%. Na semana passada, o Ministério da Economia atualizou sua projeção de alta do PIB neste ano de 3,20% para 3,50%.
Mais uma vez Campos Neto chamou atenção para o crescimento da dívida brasileira durante a pandemia. "Em termos de dívida bruta, o Brasil é o pior país no pós-crise.
A dívida do mundo emergente aumentou muito, com mudança para mais detentores internos que externos. Isso ocorre em todos os emergentes, com exceção da China e outros asiáticos que têm conseguido capturar esses fluxos", completou.
NY: futuros no positivo
No cenário externo, os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York operam em alta nesta terça-feira com as atenções do mercado às voltas com as perspectivas de retomada da economia global e à divulgação de novos dados econômicos do país.
Na véspera, o índice Dow Jones avançou 0,54%, em 34.393,98 pontos, o S&P 500 subiu 0,99%, aos 4.197,05 pontos, e o Nasdaq teve alta de 1,41%, aos 13.661,17 pontos. As ações de tecnologia foram destaque de valorização, acompanhadas por petroleiras, que avançaram na esteira dos ganhos do petróleo.
Com a alta inflacionária e sua duração como alvo de preocupação do mercado, sinalizações no tema estão sendo monitoradas.
Entre os dirigentes do Fed, a integrante do conselho Lael Brainard reafirmou o posicionamento da maioria de que preços devem subir nos próximos meses, mas de forma controlada.
O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, se pronunciou de forma parecida, indicando que o tema poderá ser observado de forma mais clara no verão do Hemisfério Norte.
A expectativa de um fortalecimento da economia global também beneficiou os mercados acionários nesta segunda-feira.
Diante do avanço da vacinação contra a covid-19 no mundo, a IHS Markit elevou a sua estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial neste ano em 0,4 ponto porcentual, para 5,7%. Esse resultado representaria o maior avanço da atividade econômica desde 1973.
Projetando avanço nos rendimentos dos títulos públicos globais, com destaque para os Treasuries, e uma forte recuperação da economia, a Capital Economics aponta que isso aumentará o "apelo relativo das ações de valor, dado que o crescimento de seus ganhos depende mais da força cíclica da economia".
O termo se refere a setores como o financeiro e o de energia. No caso das ações de tecnologia, "expectativas elevadas podem continuar a ser um obstáculo para muitas empresas do setor", tendo em vista o "desempenho elevado durante a pandemia", aponta a consultoria britânica.
CPI da Covid: 'capitã cloroquina'
No ambiente doméstico, os investidores seguem acompanhando os desdobramentos dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que promete mais um dia de agitação no Senado.
Nesta terça-feira, é aguardada a oitiva da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”. Na semana anterior, ela entrou com um pedido de habeas corpus preventivo junto ao STF para ficar calada durante a CPI, mas a solicitação foi negada pelo ministro Ricardo Lewandowski.
Na véspera, os membros do grupo majoritário da comissão disseram que vão cobrar explicações do governo federal, da prefeitura e do governo do Rio de Janeiro sobre a aglomeração liderada pelo presidente Jair Bolsonaro no último domingo.
A cúpula da comissão também definiu que o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o atual chefe da pasta, Marcelo Queiroga, serão reconvocados para depor.
Além de Pazuello e Queiroga, senadores que integram a CPI da Covid querem convocar o advogado Arthur Weintraub, ex-assessor da Presidência da República, para prestar esclarecimentos sobre a existência de um gabinete paralelo de aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia.
Bolsas asiáticas fecham em alta
As bolsas asiáticas fecharam em alta nesta terça-feira, seguindo o tom positivo de Wall Street na véspera, à medida que preocupações com a tendência de alta da inflação global diminuíram e o apetite por risco ganhou força.
O japonês Nikkei subiu 0,67% em Tóquio hoje, aos 28.553,98 pontos, enquanto o Hang Seng avançou 1,75% em Hong Kong, aos 28.910,86 pontos, o sul-coreano Kospi se valorizou 0,86% em Seul, aos 3.171,32 pontos, e o Taiex registrou alta de 1,58% em Taiwan, aos 16.595,67 pontos.
Na China continental, os mercados tiveram ganhos ainda mais robustos, graças principalmente a ações da indústria de alimentos e bebidas.
O Xangai Composto subiu 2,40%, aos 3.581,34 pontos, atingindo o maior patamar em três meses, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 1,91%, aos 2.381,93 pontos.
Na Oceania, a bolsa australiana também ficou no azul nesta terça, impulsionada por papéis de grandes bancos domésticos. O S&P/ASX 200 avançou 1% em Sydney, aos 7.115,20 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado