Dólar avança em setembro, mas retorno dos fundos cambiais é bem fraco em 2021 e em 12 meses
Alta do dólar em setembro deve melhorar o rendimento aos cotistas dos fundos cambiais
O dólar caminha firme para fechar o mês como aplicação mais rentável de setembro. Faltando dois dias para o encerramento do mês, acumula valorização de 5,03%, compensando a perda de 0,77% de agosto. No ano, o resultado acumulado é ainda positivo, mas mais baixo, de 4,62%. Um desempenho que prejudicou e muito o retorno dos fundos cambiais.
Em estudo exclusivo feito pelo portal Mais Retorno, dos 29 fundos que foram considerados, apenas 8 apresentam variação positiva de janeiro a agosto de 2021. Ainda assim, o resultado é pífio, abaixo de DI ou inflação do mesmo período. Já em 12 meses, o resultado é ainda mais negativo.
O avanço do dólar em setembro deve melhorar um pouco o resultado dos fundos cambiais. No entanto, a questão que se coloca agora é se essa recuperação que devolve o dólar à liderança no ranking vai animar e atrair os investidores para esses fundos, diante de uma perspectiva de maior volatilidade nos mercados nos próximos meses.
Porque o dólar subiu no mês
Setembro foi um mês em que dólar ganhou tração, puxado pelo agravamento de instabilidade política e incertezas econômicas relacionadas à aceleração da inflação, à manutenção do equilíbrio das contas públicas e preocupações com a crise hídrica. Além da recorrente expectativa de mudança na política monetária nos Estados Unidos, e a crise gerada pela perspectiva de calote gerada pela incorporadora chinesa, Evergrande.
A perspectiva de continuidade desse cenário de turbulência pode favorecer a alta do dólar, segundo especialistas, mas não a ponto de tornar a moeda americana uma aplicação competitiva que possa superar a inflação ou o desempenho de aplicações de renda fixa.
Especialmente por causa da elevação da taxa básica de juros, a Selic, que pode atrair o capital estrangeiro para aplicação em renda fixa local, o que tende a deprimir, pela ampliação de oferta, as cotações do dólar.
O retrospecto no ano, do ponto de vista de desempenho e de volume de captação, parece não animar, ademais, uma aposta, pelos investidores, no apelo dos fundos cambiais.
Fundos cambiais no vermelho
No levantamento do portal Mais Retorno, entraram fundos cambiais com 60 cotistas ou mais, patrimônio a partir de R$ 17 milhões, em operação há um ano, e abertos ao público em geral. Nessas condições 29 fundos entraram na pesquisa. Entre eles, apenas 8 tiveram rendimento positivo no ano, até agosto. O que melhor retorno pagou, o BB Cambial Dólar LP VIP, rendeu 0,65% e o oitavo da lista, o Santander FI VIP Cambial, 0,02%. Os demais apresentavam resultados no vermelho no ano.
Um desempenho que está longe da inflação de 5,67% acumulada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no período. E também da renda fixa, cujo juro de referência, o CDI, teve variação de 2,07% no período.
Entre os de melhor retorno no ano, o fundo com maior captação líquida (depósitos menos resgates), também até agosto, foi o Santander FI VIP Cambial, com R$ 142.725.453,81.
Ao considerar o desempenho dos fundos cambiais no ano, nenhum dos 29 fundos conseguiu proporcionar rendimento positivo ao seu cotista.
Fundos cambiais como proteção
Especialistas que acompanham o segmento afirmam que os fundos cambiais são procurados mais como instrumentos de proteção contra os riscos de variação do dólar. Principalmente em momentos de crise e instabilidade político-econômica, como o que o País vive e pode se acentuar daqui para a frente até as eleições presidenciais de 2022. “Um cenário que tende a botar pressão no câmbio”, avalia Zeller Bernardino, especialista em Câmbio da Valor Investimentos.
Mais que uma opção por busca de rentabilidade, o dólar é considerado por especialistas em câmbio bom balizador e balanceador de carteira, reduzindo a volatilidade e dando mais proteção ao conjunto de ativos.
Opção em ETFs
Bernardino diz que os fundos cambiais têm sido procurados sobretudo para proteção contra a volatilidade da bolsa de valores, “via fundos de investimento internacionais, dolarizados, como os de ETF, uma estratégia de controle de volatilidade da carteira”.
Fundos como os de ETF, que replicam a carteira teórica de um índice de referência, podem proporcionar, além de proteção, dupla rentabilidade, tanto com a valorização dos ativos em carteira como com a alta do dólar. A estratégia possibilita que o investidor deixe de se expor ao risco Brasil, embora o coloque também diante de duas variáveis de risco, o de queda do ativo e do dólar, alertam especialistas.
O superintendente de Câmbio do banco Ourinvest, Bruno Foresti, afirma que os fundos cambiais valem como diversificação de investimento para a travessia do momento de crise econômica e instabilidade política que o País enfrenta. “Uma forma de diversificação que exige pouco capital” e desconcentra os recursos ancorados em bolsa, “já que as ações estão muito expostas às condições de risco país”.