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Copom
Economia

A decisão do Fed pode impactar a decisão do Copom na quarta-feira? Confira a opinião dos especialistas

Para os especialistas, elevação dos juros americanos em 0,75 pp já estava precificada pelo mercado

Data de publicação:28/07/2022 às 05:00 -
Atualizado 2 anos atrás
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A decisão monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na última semana, que resultou em uma alta de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros dos EUA, poderá influenciar de alguma forma o ajuste da Selic nesta semana pelo Comitê de Política Monetária, o Copom?

Os diretores do Banco Central se reúnem na terça e quarta-feira para definir o rumo da taxa básica de juros no País.

Copom
Foto: Reprodução

De acordo com os especialistas entrevistados para essa reportagem, a elevação de 0,75 p.p já estava precificada pelo mercado, tanto lá quanto aqui.  

“Nas últimas semanas, a volatilidade tem marcado o comportamento da Bolsa, e o dólar vem se desvalorizando, o que pode ser um sinal de que esse efeito já foi absorvido pelo mercado e com isso, deve ser menos relevante na reunião do Copom”.

Alexandre Augusto, professor da ESPM

No entanto, o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, deu algumas postas sobre prováveis próximos passos do Fed.

De acordo com ele, o BC americano pretende interromper o processo de alta na taxa de juros quando a inflação estiver se movendo para baixo. Indicou também que o ritmo dos ajustes vai depender dos dados futuros.

Além disso, Powell reiterou que não será necessário manter o ritmo atual, com a possibilidade de o Fed adotar elevações de menor magnitude nas próximas reuniões.

Segundo Christopher Galvão, analista da Nord, se houver alguma interferência, ela deve ser sentida no médio prazo.

“Isso aconteceria se o Fed tiver que encerrar 2022 com um patamar de juros acima de 3% a 3,5%, nível que já está sendo considerado pelo mercado. Se isso ocorrer, será mais uma pressão para os nossos juros, que podem ficar em patamar elevado por mais tempo”.

Christopher Galvão, analista da Nord

Para Fernanda Mansano, economista e professora de análise de cenário econômico do Ibmec, a postura do Fed não deve provocar grandes reflexos na reunião do Copom na próxima semana. “Hoje o comitê faz uma política monetária muito focada na inflação e na economia doméstica”, frisa.

Aperto monetário antecipado

No Brasil, o mercado segue alinhado na aposta de que o Copom optará por uma elevação de 0,50 ponto porcentual na Selic, taxa básica de juros do País e projeta mais um aumento de menor magnitude na reunião de setembro.

De acordo com Galvão, esse segundo aumento ainda está incerto, “muito por conta do cenário atual, no qual temos uma atividade econômica surpreendendo para cima e o mercado de trabalho mais aquecido”.

Um ponto que difere entre o ciclo de aperto monetário no Brasil e nos Estados Unidos é o tempo. Em 2021, enquanto o Fed sinalizava que iria mexer nos estímulos e sinalizar que poderia começar uma fase de alta nos juros, o BC brasileiro já estava com esse movimento em curso, com o País começando o ano com juros na casa dos 2% e terminando em 11,25% ao ano.

“Como essa diferença de patamar de juros é grande entre os Estados Unidos e o Brasil, não são os movimentos do Fed o que mais pesa nas decisões do Copom atualmente, mas sim a reação dos ativos, como as commodities, que tendem a favorecer a inflação global”.

Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos

Alexandre Augusto, da ESPM, destaca a reatividade do BC brasileiro. “Nas últimas reuniões, o BC tem sido ágil em suas decisões frente a um cenário de incerteza global. Mas somam-se a isso ainda fatores que requerem atenção, como os riscos fiscais”.

Inflação

Denis Medina, economista e professor da FAC-SP, aponta que a Selic já está bem elevada e não deve ter grandes avanços além do patamar de 14% a 14,25% ao ano, mesmo com um cenário de desafios.

“A inflação arrefeceu um pouco, mas ainda se mostra resistente, apesar dos esforços do governo na redução de impostos e do aperto monetário do BC”.

Denis Medina, economista e professor da FAC-SP

Para os próximos encontros do colegiado, Fernanda destaca que se o Fed apertar o cerco ainda mais na política monetária, isso pode gerar algumas mudanças.

“Com elevações mais fortes, haverá um fluxo de capital daqui para os Estados Unidos, com os investidores atraídos pelos bons rendimentos dos títulos públicos de lá. Isso pode gerar uma maior desvalorização do câmbio e, consequentemente, aumentar a pressão inflacionária”.

Recessão

A postura contracionista do Fed foi influenciada pelos dados preocupantes da economia americana, principalmente no que diz respeito à inflação – em particular, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês).

“A alta de 1,3% na taxa mensal e de 9,1% no acumulado de 12 meses – a maior em 40 anos – aumentaram o receio de que a inflação será mais resiliente e disseminada do que esperam”, aponta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Para Andrey Nousi, especialista em finanças e fundador da Nousi Finance, a grande discussão nesse momento é se o enfraquecimento econômico é reflexo de uma recessão. E, se sim, se ela será branda ou severa. “O mercado precifica que não haverá nada grande demais”, ressalta.

Para Sung, o PIB americano do segundo trimestre pode “dar uma primeira sinalização sobre o que esperar na próxima reunião”.

“Esse ritmo de aperto monetário eleva ainda mais as chances de uma recessão no final deste ano ou no início de 2023”, enfatiza.

Na coletiva de imprensa após a decisão monetária, o presidente do Fed foi indagado se ele considera que os Estados Unidos possam viver uma recessão. A resposta foi que "será necessário desacelerar o crescimento da economia e isso deve acontecer ainda neste ano".

No entanto, voltou a insistir que a autoridade monetária vai fazer um pouso suave, controlando a inflação sem provocar uma recessão.

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Sobre o autor
Julia Zillig
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