Boletim Focus: projeção da inflação para 2022 salta de 5,65% para 6,45%
Estimativa foi impactada pela disparada de preços das commodities provocada pela guerra na Ucrânia, além de surpresas de alta na inflação corrente
Com intensa deterioração do cenário inflacionário, a mediana apurada para o IPCA de 2022, índice de inflação oficial, saltou de 5,65%, no último documento, para 6,45%, segundo Relatório Focus divulgado na manhã desta segunda-feira, 14, pelo Banco Central. A estimativa foi impactada pela disparada de preços de commodities provocada pela guerra na Ucrânia, além de surpresas de alta na inflação corrente. Há um mês, a mediana era de 5,50%.
Além disso, o Focus também mostrou altas nas projeções para 2023 e 2024, indicando uma desancoragem mais ampla a dois dias da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual a autoridade monetária anunciará a nova Selic, taxa básica de juros. O BC já adiantou que o ajuste será de um ponto porcentual, menor que o das últimas reuniões. Mas eventos recentes criaram dúvidas nos agentes, que passaram a revisar as expectativas.
Prova disso é o aumento das projeções dos economistas para o indicador de 12,25%, no último documento, para 12,75% ao ano até o fim de 2022. Para os anos seguintes, também houve ajuste de alta nas estimativas: de 8,25% para 8,75% para 2023, e de 7,38% para 7,50% em 2024.
IPCA acima do teto da meta do BC para 2022
Após a nona alta consecutiva, a estimativa do IPCA para 2022 já está 1,45 ponto porcentual acima do teto da meta estabelecida para este ano, de 5,00%, apontando probabilidade cada vez maior de novo descumprimento pelo BC de seu mandato principal em 2022, após o desvio registrado em 2021, quando o IPCA foi de 10,06%. O alvo central é de 3,50%, com tolerância de 1,50 ponto porcentual para cima e para baixo (2,00%).
Já a expectativa para o IPCA em 2023 subiu de 3,51% para 3,70%, se distanciando do centro da meta (3,25%, banda de 1,75% a 4,75%). A mediana era 3,50% há quatro semanas.
Considerando as 111 alterações nos últimos cinco dias úteis, a mediana para 2022 também subiu, de 5,78% para 6,54%. Para 2023, as 109 alterações feitas nos últimos cinco dias úteis elevaram a estimativa mediana de 3,50% para 3,72%.
A mediana para 2024 também subiu, de 3,10% para 3,15%, enquanto a projeção para 2025 continuou em 3,00%. Há quatro semanas, as projeções eram de 3,04% e 3,00%, nessa ordem. A meta para 2024 é de 3,00%, com margem de 1,5 ponto porcentual (de 1,5% para 4,5%). Para 2025, por sua vez, a meta ainda não foi definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
No comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) de fevereiro, as projeções para a inflação do BC estavam em 5,4% em 2022 e 3,2% em 2023. Na oportunidade, o colegiado elevou a Selic em 1,5 ponto porcentual, para 10,75% ao ano.
Melhora nas projeções do PIB
Os economistas do mercado melhoraram suas previsões para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, que passou de 0,42% para 0,49%. Há um mês, a estimativa era de 0,30%.
Para 2023, por sua vez, a mediana cedeu de 1,50% para 1,43%, de 1,50% há quatro semanas. Para 2024, a estimativa seguiu em 2,00%, mesma projeção de quatro semanas atrás. O documento mostrou ainda a mediana para 2025, que também continuou em 2,00%. Há um mês, a estimativa de crescimento do PIB em 2025 já era de 2,00%.
O boletim do BC também apontou que a projeção para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB para 2022 passou de 60,65% para 60,50%, ante 60,90% de um mês atrás.
O documento ressaltou ainda a alteração na relação entre o déficit primário e o PIB deste ano, de 0,75% para 0,70%. Há um mês, o porcentual estava em 0,97%. Já a relação entre déficit nominal e o PIB em 2022 continuou em 8,00%, mesmo porcentual de quatro semanas antes.
Em relação a 2023, a estimativa para a dívida líquida em relação ao PIB subiu de 63,93% para 64,00%, de 64,30% há um mês. A mediana para o déficit primário continuou em 0,50% do PIB e para o rombo nominal passou de 7,15% para 7,10%. Os porcentuais eram de 0,50% e 7,10%, respectivamente, há quatro semanas.
O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do governo, antes do pagamento dos juros da dívida pública. Já o resultado nominal reflete o saldo já após as despesas com juros.
Câmbio em queda
O Focus também trouxe nova alteração no cenário da moeda norte-americana em 2022 e 2023. A estimativa para o câmbio este ano cedeu de R$ 5,40 para R$ 5,30, ante R$ 5,58 de quatro semanas atrás. Para 2023, passou de R$ 5,30 para R$ 5,21, ante R$ 5,45 de um mês antes.
A projeção anual de câmbio publicada no Focus é calculada com base na média para a taxa no mês de dezembro, e não mais no valor projetado para o último dia útil de cada ano, como era até 2020. Com isso, o BC espera trazer maior precisão para as projeções cambiais do mercado financeiro. / com Agência Estado