Selic e risco fiscal permanecem na agenda dos investidores nesta terça-feira
Com risco fiscal no radar, investidores esperam por alta de até 1,50 ponto porcentual na Selic
O mercado financeiro iniciou a semana mais tranquilo, mas o humor de investidores e gestores pode virar nesta terça-feira, 26, dia que antecede à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, sobre a taxa básica de juros, a Selic.
A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, compensou parte das pesadas perdas acumuladas na semana passada, ao fechar o pregão com valorização de 2,28%, em 108.714,55 pontos. O dólar, que havia nadado de braçadas na semana anterior, recuou 1,27%, para R$ 5,56.
As preocupações com o risco fiscal, que ditaram o tom pessimista aos mercados na semana passada, deu uma trégua na véspera. Mas a expectativa de analistas e especialistas é que a preocupação com a questão fiscal volte ao radar do mercado hoje.
O risco de desarranjo nas contas públicas, agravado pelo voluntarismo do governo na formulação do Auxílio Brasil, é o principal tema de debate e avaliação no mercado para arredondar os prognósticos para a nova Selic.
O mercado chega à reunião do Copom com a opinião dividida entre uma elevação de 1,25 ponto porcentual e de 1,50 ponto na taxa básica, mas ganha força a ideia de que o Copom poderá decidir alinhado com o grupo que aposta fichas em uma alta maior, de 1,50 ponto porcentual.
Política monetária ainda mais apertada
O motivo é a política fiscal expansionista – o governo está sinalizando gastos maiores para bancar um benefício mais alto, o que exigiria uma política monetária contracionista, de juros mais altos, para conter a pressão inflacionária gerada pela oferta de mais dinheiro na economia.
O IPCA-15, que o IBGE divulga pela manhã, poderá balizar também a formulação dos prognósticos do mercado sobre a nova Selic. Os dados que vieram com a última edição do boletim Focus indicaram piora para a projeção de inflação. O IPCA estimado para este ano subiu para 8,97% e para 2022 avançou para 4,4%. A Selic para 2021 foi revista para 8,75%.
O foco principal por estes dias será a decisão sobre a Selic, mas a atenção do mercado se volta também à nova temporada de balanços corporativos que terá início ainda esta semana.
O ambiente na política e na economia não anda bem, mas alguns balanços trimestrais sempre trazem boas novidades, o que pode dar alguma animação ao desalentado mercado de ações, segundo especialistas.
A safra de balanços trimestrais nos EUA animou os negócios nas bolsas americanas. Os principais índices do mercado de Nova York fecharam com sinal positivo, o que também contribuiu para melhor desempenho da B3.
CPI da Covid: Bolsonaro
Os capítulos finais da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado estão no radar dos investidores, com o presidente Jair Bolsonaro no centro da pauta. O relator, Renan Calheiros, defende que o presidente Jair Bolsonaro seja expulso das redes sociais.
A ideia é incluir em seu relatório final, a ser votado nesta terça-feira, 26, um pedido de medida cautelar nesse sentido, a ser encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em transmissão ao vivo pelas redes sociais, na última quinta-feira, 21, Bolsonaro distorceu informações e disse que relatórios oficiais do governo do Reino Unido indicavam que pessoas vacinadas com duas doses contra covid-19 estão desenvolvendo aids "muito mais rápido do que o previsto". As declarações de Bolsonaro geraram reação da classe médica e política.
"Bolsonaro reincide a cada dia, faz questão de cometer os mesmos crimes. Não muda. Só porque a CPI se encaminha para a reta final, ele acha que vai voltar a falar sozinho de novo nas redes sociais. Essa última declaração, sobre vacina e aids, agrava ainda mais as circunstâncias dele", disse Renan.
"Vou fazer um registro duro no relatório da CPI e estamos, adicionalmente, entrando com ação cautelar junto ao STF para bani-lo das redes", completou, ressalvando que esse pedido ainda depende de aprovação de seus pares. O parecer de Renan também aumentará o número de indiciados, de 66 para, no mínimo, 74 pessoas.
Wall Street e o mundo
Lá fora, os investidores estão atentos aos números dos balanços corporativos do terceiro trimestre das big techs. Na véspera, foi a vez da Tesla ganhar os holofotes, que atingiu US$ 1 trilhão em valor de mercado, além de ter impulsionado a renovação do recorde histórico do S&P 500 com a disparada de 12,66% de suas ações na bolsa americana.
No fechamento do pregão, o índice Dow Jones teve ganhos de 0,18%, aos 35.741,15 pontos, o S&P 500 avançou 0,47%, aos 4.566,48 pontos, e o Nasdaq teve alta de 0,90%, aos 15.226,71 pontos.
A ação da montadora disparou após a Hertz, uma locadora de veículos dos EUA, anunciar a encomenda de 100 mil veículos da Tesla para a sua frota até o fim de 2022, em negócio avaliado em cerca de US$ 4,2 bilhões.
Além disso, o Model 3 da montadora foi o carro mais vendido na Europa no mês passado. Com a companhia dominando globalmente o segmento de veículos elétricos, investidores começam a acreditar que o rali da ação da Tesla não deve acabar tão cedo, segundo a avaliação de Edward Moya, analista da Oanda. Como indício disto, ele cita o aumento do preço-alvo do papel da empresa pelo analista do Morgan Stanley, Adam Jonas, de US$ 900 para US$ 1,2 mil.
Com o noticiário favorável e os resultados positivos, a Tesla se tornou a quinta empresa dos EUA a ter valor de mercado igual ou superior a US$ 1 trilhão, atrás apenas de Microsoft, Apple, Amazon e Alphabet, companhia controladora do Google.
Após o fechamento das bolsas, o Facebook (+1,26%) também informou seu desempenho no trimestre passado. A empresa de Mark Zuckerberg registrou lucro líquido de US$ 9,194 bilhões no terceiro trimestre deste ano, alta de 17% sobre o mesmo período de 2020.
O lucro por ação foi de US$ 3,22, acima da previsão dos analistas de US$ 3,19. A receita da companhia ficou em US$ 29,010 bilhões, um avanço de 35% contra o registrado no mesmo intervalo do ano passado.
Apesar da temporada de balanços estar impulsionando as bolsas nas últimas semanas, a Capital Economics afirma que o futuro para os índices é de menor apetite por risco, diante da escalada recente dos juros dos Treasuries, que não deve cessar diante do movimento de compensação por conta da alta inflação nos EUA.
"Embora não esperemos um tombo do mercado de ações nos EUA, duvidamos que ele permanecerá tão resiliente em face do aumento dos rendimentos dos Treasuries quanto nas últimas semanas", diz a consultoria britânica.
Quanto ao noticiário político, a Casa Branca informou na véspera que deixará de proibir viagens internacionais aos EUA a partir de 8 de novembro, dia em que colocará em prática novas regras que permitem a entrada de viajantes completamente vacinados contra a covid-19.
Já o presidente Biden defendeu sua agenda de investimentos durante a tarde, enfatizando seu papal para o combate da crise climática. Segundo a CNN, o senador democrata Joe Manchin deu seu apoio à proposta de gastos de US$ 1,75 trilhão da Casa Branca, após reunião com o mandatário americano.
No continente asiático, as bolsas fecharam sem direção única nesta terça-feira, com parte delas acompanhando o tom positivo do dia anterior em Wall Street e as chinesas, e de Hong Kong pressionadas por ações do setor imobiliário.
O índice japonês Nikkei subiu 1,77% em Tóquio, aos 29.106,01 pontos, influenciado pelo desempenho positivo dos papéis ligados aos setores de transporte marítimo e siderurgia.
O sul-coreano Kospi avançou 0,94% em Seul, aos 3.049,08 pontos, e o Taiex registrou ganho de 0,83% em Taiwan, aos 17.034,34 pontos.
Planos do governo chinês de testar um imposto imobiliário por cinco anos, revelados no fim de semana, derrubaram ações de incorporadoras tanto na China continental quanto em Hong Kong nesta terça.
O Xangai Composto caiu 0,34%, aos 3.597,64 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto recuou 0,36%, aos 2.424,39. Em Hong Kong, o Hang Seng teve baixa de 0,36%, aos 26.038,27 pontos.
A iniciativa de Pequim, que tem o objetivo de combater a especulação imobiliária, vem num momento de preocupação com a frágil situação financeira da Evergrande, gigante da construção chinesa que tem tido dificuldades de honrar suas dívidas. Hoje, a ação da Evergrande sofreu um tombo de 4,12% em Hong Kong.
Na Oceania, a bolsa australiana ficou praticamente estável, devolvendo quase todos os ganhos de mais cedo no pregão. O S&P/ASX 200 teve alta marginal de 0,03% em Sydney, aos 7.443,40 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado