Vale a pena comprar ou vender ações da Petrobras com a troca de presidência? Especialistas opinam
Neste ano, três executivos já passaram pela cadeira da estatal
A Petrobras é uma das estatais que está no centro das atenções dos investidores nos últimos tempos. Um dos motivos é que ela tem sido alvo de críticas do governo Bolsonaro por conta de sua política de aumento dos preços dos combustíveis e vem vivenciando uma dança das cadeiras em sua presidência.
Porém, além desse fato, outros pontos corroboram para os questionamentos do mercado sobre como se posicionar em relação à companhia: vale a pena vender os ativos, para quem já está exposto, ou comprar ações e iniciar uma jornada de aplicação?
De acordo com Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, há diversos prós e contras que devem ser considerados pelos investidores para balizar essa decisão. Entre os aspectos favoráveis está o preço das ações da estatal, que estão bastante descontados.
“O mercado costuma antecipar acontecimentos futuros e sinaliza um cenário negativo. As ações estão muito baratas, em patamares próximos a algumas petroleiras estatais russas e argentinas”, aponta.
Outro item mencionado por Varejão são os dividendos. Segundo o mercado, a Petrobras deve pagar cerca de 45% do seu valor de mercado em dividendos em 2022.
Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, afirma que a projeção de dividend yield da companhia para este ano feita pela casa está acima dos 30%, ficando acima dos rendimentos entregues pela renda fixa.
Para o economista Fabio Louzada, “a Petrobras vem se organizando e se tornando mais eficiente, focando mais na operação, vendendo ativos que estão fora do core da companhia”, fator que também ajudou a engordar os dividendos.
Commodity já estava meio escassa
A geração de caixa da companhia tem sido bastante expressiva nos últimos tempos, por conta do aumento do preço do petróleo, que já vinha elevado, e ganhou ainda mais tempero com os efeitos da guerra na Ucrânia.
Varejão ressalta ainda que a redução da oferta do petróleo russo no mercado intensificou a demanda apertada da commodity, cujo cenário já vinha sendo realidade na última década.
“Houve poucos investimentos no setor por conta das exigências do mercado sobre a adoção de princípios ESG”.
Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos
A tendência, segundo ele, é que o preço do petróleo ainda siga em patamares bastante elevados por mais algum tempo.
“Se juntar todos os pontos, podemos dizer que as ações da Petrobras estão uma verdadeira barganha, já que é possível comprá-las por um preço abaixo da média e ainda receber uma remuneração elevada”, ressalta.
Troca de comando
Somente nos primeiros cinco meses do ano, a Petrobras já teve três comandantes. Iniciou o ano com Joaquim Luna e Silva, que foi substituído por José Mauro Coelho e após menos de dois meses, entregou o cargo para Caio Mário Paes de Andrade. Anteriormente, Roberto Castello Branco também havia sido demitido.
Essa movimentação traduz a busca do governo Bolsonaro em tentar alterar a política de preços da companhia, que hoje segue a paridade internacional de preços.
Em ano eleitoral, o presidente busca alternativas para tentar baixar o preço dos combustíveis e tem feito críticas constantes à petroleira por conta da elevação do preço da gasolina e do diesel.
“Combustível caro traz impopularidade”, enfatiza Varejão. O especialista da Valor enfatiza ainda que esse é um ponto de atenção sobre os ativos da Petrobras, pois se houver alguma mudança nessa regra de preços, pode significar um prejuízo para o caixa da companhia.
Porém, Varejão acredita que fazer essa alteração não será uma tarefa nada fácil. “Nota-se que mesmo com a troca intensa de presidentes da estatal, não houve nenhuma mudança na política de preços. Não está fácil mexer isso porque há um certo amadurecimento na governança da Petrobras”, avalia.
Mas apesar disso, o especialista aponta para o fato de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se mostrado também um forte crítico da política de preços da estatal petroleira, afirmando que, se vencer as eleições, pretende aumentar o nível de controle do governo na companhia.
“Se isso realmente ocorrer, será um processo desafiador. Com o tempo, ele pode conseguir aparelhar a companhia novamente, praticando uma política de preços não favorável para o caixa da companhia. O investidor precisa ficar atento a isso”.
Wagner Varejão, da Valor Investimentos
Vender ou comprar?
Para os especialistas do mercado entrevistados para essa matéria, as duas alternativas são recomendadas por eles: tanto manter as posições em Bolsa como adquirir ativos da companhia.
Porém, Varejão ressalta que é importante ter alguns aspectos em mente. Um deles é que o mercado de ações é volátil.
“Para quem quer comprar ou manter seus investimentos na Petrobras é fundamental ter visão de longo prazo, de, no mínimo cinco anos. Se o olhar for de curto prazo, é bastante arriscado se expor na companhia”.
Cesar Frade, sócio da Quantzed, enfatiza que os ativos de energia são cíclicos. “Na hora em que o petróleo sobe, os ativos sobem junto, seguindo o movimento da commodity. E se ela cai, eles recuam igualmente”.
Uma das recomendações de Varejão é que os investimentos em ações ou fundos atrelados à estatal não sejam o único investimento feito na carteira.
“É preciso ter um limite de exposição saudável, com uma parcela de participação na composição da carteira que não seja tão expressiva”.
Frade enfatiza ainda que faz sentido comprar ações da companhia, principalmente para carteiras maiores. “Mas é preciso sempre estar atento aos preços. Segurar o ativo por muitos anos, não é vantajoso. O interessante é ficar atento em momentos no qual o ativo está na baixa, comprar e vender na alta”.
A Guide Investimentos manteve os papeis da empresa em sua carteira de junho, mas reforça que a companhia deve enfrentar forte volatilidade na Bolsa até o fim das eleições. "A geração de caixa deve continuar forte se o PPI (programa de paridade de preços) for mantido".
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