Finanças Pessoais

Saiba o que é preciso fazer para poder se aposentar com R$ 1 milhão aos 60 anos

Quanto mais cedo o início da acumulação, menor o valor a ser poupado a cada mês

Data de publicação:19/04/2022 às 12:30 - Atualizado 3 anos atrás
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A construção de uma reserva financeira que complemente o orçamento na aposentadoria, com folga financeira, é condição cobiçada por muita gente para não depender dos magros benefícios do INSS, o sistema público de previdência. Qual o melhor caminho para aos 60 anos ter condições de se aposentar com R$ 1 milhão? Um montante que vai permitir uma renda extra por um bom tempo.

Porém, não garante uma renda mensal vitalícia. "Ele assegura um rendimento mensal em torno de R$ 3.020, considerando um juro real de 2% ao ano, pelos próximos 40 anos”, calcula Flávio Pretti, planejador financeiro CFP pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).

Disciplina, força de vontade, determinação, persistência e perseverança são alguns dos pontos importantes para conseguir somar R$ 1 mi aos 60 anos - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

É um investimento que, portanto, garantirá uma retirada por 40 anos, “até zerar o capital com 100 anos”, avalia Pretti.

“Se viver mais que isso, ficará sem dinheiro, ainda que conte com o benefício do INSS, que, pelo valor do teto atual, somado com esse rendimento, garantiria uma renda mensal em torno de R$ 9 mil”.

Flávio Pretti, planejador financeiro CFP pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar)

Quando começar

Dez entre dez especialistas afirmam que a formação de um patrimônio financeiro demanda tempo e deve ser iniciado o quanto antes.

Uma jornada que requer também disciplina, força de vontade, determinação, persistência e perseverança. Diferentes adjetivos voltados para uma mesma finalidade. Além de uma carteira diversificada e equilibrada de investimentos, adequada ao perfil e aos objetivos de cada um.

Quanto é preciso guardar para se aposentar com R$ 1 milhão

E quanto é necessário poupar a cada mês para chegar aos 60 anos com R$ 1 milhão de reserva: R$ 700, R$ 1 mil, ou R$ 7 mil?

A resposta vai depender de quando se começa a acumulação. Uma poupança formada desde a tenra idade, logo após o nascimento, exigirá valores mensais menores para alcançar essa meta.

“Se em vez de presente, pais e parentes juntarem dinheiro precocemente para o recém-nascido, o valor mensal de acumulação desde criança será menor”, explica Pretti.

Quem começa a acumular com 20 anos, diz Flávio, tem 40 anos ou 480 meses para juntar dinheiro e chegar ao milhão aos 60. Considerando uma taxa de juros real, acima da inflação, conservadora, de 2,00% ao ano ou 0,17% ao mês, será preciso guardar R$ 1.370 todo mês, calcula.

O valor da poupança mensal fica maior quando essa jornada rumo ao R$ 1 milhão se inicia mais próximo de 60. Quem começa aos 30, tendo à frente 30 anos ou 360 meses, precisa guardar e investir R$ 2.040 mensalmente.

Pelos cálculos do planejador financeiro, os valores mensais exigidos sobem para R$ 3.400, aos 40 anos, e R$ 7.740, aos 50 anos. Um valor que mais que dobra no espaço de tempo de dez anos mais, observa.

A diferença é mais gigantesca ainda quando se compara com o valor mensal exigido de uma criança que começa a poupar ao nascer, destaca Pretti. “Com R$ 750 por mês, esse bebê que passa a acumular ao acabar de nascer chega aos 60 anos com R$ 1 milhão”, calcula.

Juro composto acelera acumulação

A simulação de investimento usa como referência para o cálculo um juro real de 2,00% ao ano ou 0,17% ao mês – um dado conservador, como diz o planejador financeiro. Até recentemente, o juro real rodou negativo, mas com o ciclo de alta da Selic, que persiste, a expectativa é que se torne positivo e permaneça acima de 2% ao ano durante bom tempo.

“Essa conta de calcular quanto é preciso para chegar ao milhão tem a ajuda da força de juros compostos”, destaca Carlos Heitor Campani, professor de Finanças do Coppead/UFRJ. “E fica melhor agora que as taxas de juro real, acima da inflação, estão em alta.”

Especialistas afirmam que o que importa, tanto na formação dessa reserva quanto em qualquer aplicação financeira, é o juro real.

“O rendimento que conta é o real, porque com o tempo a inflação vai tirando o poder de compra do patrimônio que está sendo acumulado”.

Cristiano Corrêa, coordenador do curso de Administração e professor de Finanças do Ibmec-SP

Rentabilizar o capital, segundo ele, é considerar apenas o juro real, “porque só ele é capaz de capitalizar e preservar o valor desse dinheiro”, observa. “Não adianta ter R$ 1 milhão daqui 20, 30, 40 anos se esse volume de dinheiro não tiver o poder de compra que tem hoje.”

Pelas suas contas, em cálculo simulado a partir de juros do Tesouro IPCA na quinta-feira, sem descontar os efeitos inflacionários, uma pessoa com 30 anos precisaria fazer aportes mensais de aproximadamente R$ 301 para chegar a R$ 1 milhão aos 60 anos; uma de 40, em torno de R$ 1.044; e uma de 50 anos, cerca de R$ 4.400.

Corrêa chama a atenção ao fato de que, de 30 para 50 anos, a diferença de valor da alocação mensal é multiplicada por quase 14 vezes.

“Isso mostra que o efeito tempo é determinante para quem quer acumular reserva para se aposentar.” O juro real maior, combinado com a força do sistema de cálculo de juros compostos ou juros sobre juros, acelera o processo de acumulação de reserva.

Economia é importante para formar o patrimônio

Economizar e juntar dinheiro fazem parte do conjunto de ações do processo de educação financeira. “Poupar é fazer sobrar um pedaço da receita mensal para ser gasto lá na frente”, diz Pretti. “É preciso criar uma disciplina, começar poupando até muito mais do que precisa, mas é um hábito que se adquire com o tempo.”

O planejador financeiro lembra também que o processo de acumulação precisa de ajustes que vão além do ato de poupar e investir determinada quantia todo mês. Para ele, se a pessoa tiver uma renda de R$ 20 mil, R$ 30 mil por mês e um padrão de vida alinhado com essa receita, terá um baque no rendimento ao aposentar-se. Seu desafio, portanto, será guardar mais dinheiro para tentar manter o padrão de antes, já que passará a ter menos rendimento ao aposentar-se.

A diversificação da carteira de investimentos

O dinheiro em acumulação deve ser investido em uma carteira diversificada, que contemple parcela maior em renda fixa e menor em renda variável – uma composição que depende também do tempo à frente para o fim da jornada. O dinheiro da reserva de emergência, para a cobertura de pelo menos seis meses de gastos, segundo o planejador, deve ir para uma aplicação com liquidez imediata, como o Tesouro Selic.

O Tesouro IPCA é opção interessante para a parcela dos recursos com perfil de longo prazo, sem ligação com compromissos assumidos. O título protege contra a inflação e garante juro real. Opção adicional é a renda variável, ações de empresas sólidas e com bom fluxo de caixa, para tentar apimentar a rentabilidade do dinheiro no longo prazo, analisa.

Os ajustes necessários

Assim como o padrão de vida deve ajustar-se à variação do nível de renda, a carteira de investimentos deve passar por ajustes ao longo do tempo. É preciso adaptar o prazo de investimento à maturação do projeto de vida. “Caso de quem investe em um Tesouro IPCA 2026 para viajar, sabendo que vai usar esse dinheiro só daqui a quatro anos.”

O professor Campani, do Coppead/UFRJ, diz que no investimento de longo prazo vale a pena, pelo menos no início, uma carteira diversificada em ações, com expectativa de rentabilidade maior. 

“Quanto maior o risco da carteira, maior a expectativa de rentabilidade. E quanto maior o prazo de investimento, maior a chance de sucesso”, acredita.

Professor Campani, do Coppead/UFRJ

“Um ganho de 1%, 2% pode parecer pouco, mas em 20, 30, 40 anos vai dar uma diferença danada no valor acumulado lá na frente”, calcula Campani.

A estratégia pode mudar à medida que se for aproximando da aposentadoria, com migração gradual da exposição de maior risco para a de menor risco, “para aplicação indexada à Selic, como o Tesouro Selic, e à inflação, o Tesouro IPCA”.

Cristiano Corrêa, do Ibmec, diz que o patrimônio precisa ser construído e investido em bases sólidas, em títulos que tenham risco de baixo para moderado. “Títulos públicos, como Tesouro IPCA e Tesouro Selic, CDBs de alta liquidez ou de longo prazo que rendam acima do CDI.

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Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.