Mesmo com riscos domésticos, câmbio pode chegar a R$ 5 no fim de 2021, avalia BTG
Apesar das incertezas políticas, o fluxo cambial favorável, grande número de IPOs e estabilidade das commodities podem ajudar na valorização do real
O mês de setembro será decisivo para o rumo do câmbio, segundo relatório do BTG Pactual. Segundo os analistas da casa, o cenário de acomodação da taxa de câmbio observado nos últimos trinta dias, pode não se repetir nas próximas semanas.
A aposta da casa é na cotação do real em R$ 5,00 no final deste ano, mas sem deixar de acompanhar “a escalada de tensão entre os Poderes e aos riscos ficais que permeiam o cenário doméstico”.
“As agendas internacional e nacional serão intensas do ponto de vista monetário e fiscal, além dos eventos de caráter político que podem alterar as propensões ao risco das principais empresas do mercado”, destaca o BTG em documento.
No cenário doméstico, a casa de análise destaca que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pode adotar um comunicado mais duro na próxima reunião e os eventos políticos podem elucidar o rumo das contas públicas para 2022.
“A existência de um cenário hídrico adverso e de uma inflação de serviços persistente – e perigosa – é indiscutível entre os economistas, que esperam que o comitê de política monetária do BCB faça um comunicado mais firme no encontro deste mês, em busca de acomodar as expectativas para a inflação de 2022”, apontam os analistas.
Caso essa expectativa se confirme, de acordo com o BTG, o fluxo financeiro para o Brasil pode aumentar, favorecendo a taxa de câmbio.
Ambiente fiscal
De acordo com a análise do BTG, o mês de setembro também será decisivo para a agenda política, que tem no radar a discussão da reforma tributária e da reforma administrativa na Câmara, além de discussões sobre como acomodar o crescimento nas despesas com os precatórios e reformulação do Bolsa Família.
“A restrição temporal imposta pela eleição do próximo ano nos indica que caso estes temas não avancem este mês, poucas mudanças relevantes serão feitas até que a composição do novo governo seja definida”, destacam os analistas.
Estados Unidos
Já no cenário internacional, o BTG enfatiza a reunião do comitê de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que acontece no próximo dia 22, e pode trazer a definição de quando será iniciado o tapering – retirada de estímulos da economia.
Para o banco, o panorama desenhado neste momento sugere que a autoridade monetária iniciará o processo em dezembro deste ano, com o anúncio ocorrendo na reunião de novembro, “visto que o mercado de trabalho nos Estados Unidos ainda está performando abaixo da expectativa”.
“A reunião de setembro pode confirmar que ainda é cedo para reduzir o suporte à liquidez, o que é elemento favorável para a composição do fluxo financeiro para os países emergentes, sendo, portanto, positivo para o real”, apontou o BTG.
Comportamento dos juros
Segundo o banco, os juros no Brasil seguiram precificando a incerteza política, refletidas na reforma tributária, nos gastos com precatórios e na tensão entre o Executivo e o Judiciário.
“A possível dissipação destes riscos políticos, somada à atuação do Banco Central do Brasil para conter a inflação em 2022, pode provocar a redução dos juros mais longos, deixando a curva flat (sem disparidade entre os juros de curto e longo prazo)”.
Risco, commodities e moeda
Os analistas do BTG destacaram outros aspectos no relatório sobre o tema. Afirmaram que o CDS (Credit Default Swap, título derivativo do mercado financeiro que tem como objetivo evitar inadimplência em operações de crédito) não refletiu a precificação vista na curva de juros, o que pode ser explicado, em parte pela melhora nos fundamentos econômicos com o avanço da vacinação.
A estabilidade das commodities nos últimos 30 dias, “com vetores altistas em alguns componentes, como café, açúcar, e baixistas nas metálicas, como minério de ferro”, traz um cenário positivo para o real “visto que contrata a expectativa de entrada de dólares através do canal comercial”.
Outro aspecto levantado pelo banco foi o fortalecimento do dólar DXY sob o ponto de vista global, motivado pelo discurso mais duro do Fed. “A continuidade desse cenário é desfavorável para o real”, avalia a casa de análise.
Precificação de risco
Após aceleração significativa entre junho e meados de agosto, a volatilidade do real caiu nas últimas semanas, período em que a cotação da moeda andou de lado, próximo ao valor de R$5,20. Segundo o BTG, a relação entre a volatilidade do real de 1 mês e 12 meses está retornando à média histórica.
“Este movimento será importante para a apreciação do real até o final do ano, visto que é acompanhado pelos exportadores que desejam internalizar suas receitas”, enfatiza o banco.
Fluxo cambial
O mercado de câmbio registrou entrada líquida de cerca de US$4 bilhões em agosto, a maior média diária da série histórica para o mês, segundo o BC. Um dos destaques foi a recuperação do fluxo pela conta financeira, que superou US$ 2,0 bilhões no mês passado, de acordo com o BTG.
“Com esse resultado, o País acumula um fluxo cambial de US$ 20 bilhões entre janeiro e agosto deste ano, resultado muito superior ao observado no ano passado. Isso é explicado pela recuperação da economia e pelo atrativo desconto dos ativos, tendo em vista os movimentos recentes no mercado doméstico de capitais”, analisaram os analistas.
O grande número de abertura de capital por parte das empresas na Bolsa (IPO, em inglês) também segue colaborando com a expectativa de entrada de dólares no segundo semestre, reforçou a casa de análises.
Exportações
O bom momento das exportações também deve favorecer o real. “O superávit comercial totalizou US$7,7bilhões em agosto, muito superior ao saldo do mesmo mês de 2020 - US$ 5,8 bilhões, e foi o maior da série histórica para o mês”, apontou o BTG.
Para os especialistas, “o cenário positivo para o setor externo nos faz acreditar que, caso a volatilidade do câmbio diminua, a apreciação do real pode ocorrer via internalização da receita dos exportadores”.