Na última reunião do Copom neste ano, mercado quer saber como fica a Selic em 2023
Cresce a percepção de que juro pode subir ano que vem pressionado pela piora fiscal
O mercado financeiro chega à última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que decide o rumo da taxa básica de juros, a Selic, na quarta-feira, 7, com o olhar voltado para 2023.
Para esse encontro do colegiado do BC, não se esperam surpresas. Existe a convicção, praticamente uma unanimidade entre analistas e economistas do mercado, de que a Selic será mantida onde está desde agosto, em 13,75% ao ano, e encerre 2022 nesse patamar.
“A Selic será mantida em 13,75% porque há novo e relevante componente no cenário que pode redirecionar a política monetária para novas altas: a PEC da Transição, já em tramitação no Senado, que propõe valor substancial fora do teto de gastos por até quatro anos”, afirma Ricardo Tadeu Martins, economista-chefe da Planner Corretora.
De fato, o que tem sido foco mais recentemente dos agentes econômico-financeiros é a possível trajetória da Selic para 2023, principalmente por causa da piora na percepção do risco fiscal do País.
Gastos públicos podem pressionar a Selic
O cenário de preocupação com as contas públicas já leva gestores e investidores a revisar o possível início de corte da Selic. Previsto inicialmente para o fim do primeiro semestre ou início do segundo semestre de 2023, esse possível ciclo de redução do juro básico tem sido postergado para o fim de 2023. Ou nem isso.
Não faltam agentes no mercado que põem em dúvida um ciclo de afrouxamento monetário no próximo ano e revisam as expectativas até mesmo para um viés de alta para a taxa básica de juros no ano que vem.
O mercado financeiro está em meio a muitas incertezas e “precisa de tempo para analisar como está e como poderá ficar o cenário inflacionário, não só no Brasil, como em termos globais”, avalia Guilherme Mendes, especialista em renda fixa da Blue3.
Ele afirma que “o País vive ainda uma inflação persistente” e o Banco Central vai esperar clarear melhor o cenário na virada do ano, “com a chegada da nova equipe econômica, a política fiscal a ser adotada, e a PEC (Proposta de Emenda Constitucional que prevê despesas sociais fora do texto de gastos) que será aplicada”.
Em meio a essa indefinição, para a reunião de dezembro do Copom, diz Mendes, “um consenso entre os economistas de mercado é a manutenção da Selic, não porque se acredita que o juro tenha chegado ao pico, mas porque é preciso avaliar os novos dados de inflação e a política fiscal, que ainda não existe, do novo governo”.
Expectativas com o comunicado do Copom
Essa espera pela clareza de cenário acirra o interesse do mercado pelo comunicado que o Copom divulga no fim da reunião nesta quarta-feira, sobre os próximos passos na condução da política monetária.
Um dos pontos considerados, de acordo com as expectativas dos agentes, seriam as incertezas com o impacto dos gastos públicos na trajetória de equilíbrio fiscal. Alguns analistas consideram, no entanto, que o momento ainda seria prematuro para acenar com mudanças mais substanciais no tom do comunicado.
“O comunicado do Copom virá com viés sobre o risco fiscal e alerta das consequências da PEC sobre a economia, mesmo porque os riscos externos permanecem conhecidos, embora com leve propensão de estabilização”, acredita o economista da Planner.
O mercado financeiro, enquanto isso, vai fazendo seus ajustes, por conta própria. Em momentos de maior estresse, em meio a um debate mais acalorado sobre a PEC da Transição, a precificação da taxa Selic nos contratos futuros de juro com vencimento em meados do próximo ano chegou a 15%.
O mercado de juros, analisa Mendes, não está conseguindo avaliar os preços em relação à incerteza fiscal, mas essa pressão já foi maior, comenta o especialista. “A incerteza foi reduzida e ficou mais amena em relação ao que o mercado pensa, a partir das negociações políticas, no Congresso, em torno dessas propostas.”
“A PEC foi protocolada no Senado com nítida cláusula que será usada como moeda de troca ou poder de barganha, o que deve reduzir de forma considerável o valor desejado” (de gasto fora do teto proposto pelo novo governo), calcula Martins.
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