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Mercado ao vivo: Bolsa cai com a piora nos dados econômicos; Vale puxa a queda

Investidores digerem novos números da economia do País e acompanham o cenário fiscal

Data de publicação:16/11/2021 às 10:47 -
Atualizado 2 anos atrás
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Após o feriado da véspera, a Bolsa retoma as atividades nesta terça-feira, 16, em queda, puxado pela Vale, que sente os impactos da queda do preço do minério de ferro na China - ações recuam mais de 2% - e pelo varejo, que reflete a deterioração dos dados da inflação.

Além disso, houve uma piora nos novos indicadores do País divulgados pela manhã: o IBC-Br recuou 0,27% em setembro, e o mercado já revê suas estimativas da inflação e Selic. O mercado continua atento aos imbróglios políticos e fiscais. Às 13h56, o índice Ibovespa recuava 1,61%, perdendo o patamar dos 105 mil pontos: 104.658. Já o dólar à vista passou a subir - alta de 0,80% - cotado a R$ 5,501.

Foto: B3/Divulgação
Sede da B3 em São Paulo | Foto: Divulgação

Ao longo da manhã, o mercado ficou por dentro de novos dados econômicos, entre eles as novas projeções dos economistas do mercado para os principais indicadores divulgadas no Boletim Focus.

Seguindo a tendência do documento anterior, os especialistas fizeram novas revisões altistas na inflação. De acordo com o Focus, as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram de 9,33% para 9,77% para o fim de 2021 - a 32ª alta seguida para este ano. E de 4,63% para 4,79% para 2022. E de 3,27% para 3,32% no ano seguinte.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu o avanço forte da inflação e o duro trabalho que o Banco Central terá para trazer o indicador para próximo da meta de 3,25%, com margem de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo.

"É importante ser realista e entender o quão disseminada está a inflação e será difícil trabalho do BC", disse ele, participante de painel no IX Fórum Jurídico de Lisboa, na capital portuguesa, organizado pela Universidade de Lisboa, Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e Fundação Getulio Vargas (FGV).

Já a Selic, taxa básica de juros, ficou estável em 9,25% em 2021 e em 11,00% para 2022. Mas para 2023, sofreu ajuste altista: de 7,50% subiu para 7,75%.

Já as estimativas do PIB seguem recuando nos últimos boletins do BC. Os economistas do mercado ajustaram suas projeções de crescimento para o País de 4,93% para 4,88% para 2021, e de 1,00% para 0,93% em 2022.

Com o avanço da inflação, os bancos – incluindo os gigantes financeiros internacionais - também passaram a revisar suas estimativas para o crescimento do Brasil. No mês passado, o Itaú já havia reduzido de 5,3% para 5,0% a sua projeção de crescimento para o PIB de 2021, e indicado queda de 0,5% em 2022.

O Credit Suisse reduziu a sua projeção para o PIB deste ano, de 5% para 4,8%, e também passou a estimar retração de 0,5% no próximo ano - ante a projeção anterior de alta de 0,6%

Já o Haitong reduziu suas projeções de 4,9% para 4,2%, neste ano, e de 0,5% para queda de 0,3% em 2022. Para o quarto trimestre, a projeção de crescimento foi reduzida de 0,3% para 0,1%. "Acreditamos que a chance de uma recessão técnica em 2021 é elevada", escreve o economista-chefe do banco, Marcos Ross.

Já o JP Morgan estima que o crescimento do PIB de 2021 será de 4,8%, e não mais de 5,0%. Para 2022, a estimativa de variação zero do PIB foi mantida.

O BC também divulgou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de setembro, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB). O indicador registrou queda de 0,27% em setembro sobre agosto, segundo dados sem ajustes sazonais.

No mês anterior, a desaceleração foi de 0,29%, dado revisado ante queda de 0,15%. O resultado de setembro veio levemente melhor em relação às expectativas dos analistas, que apostavam em um recuo de 0,30% no mês.

No escopo do avanço da inflação, outro dado que foi apresentado durante a manhã desta terça-feira foi o Índice de Preços Geral – 10 (IGP-10) pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Segundo o instituto, o indicador subiu 1,19% em novembro, ante queda de 0,31% no mês anterior. O resultado acelerou menos do que o esperado e ficou abaixo da mediana de 1,51% e próximo do piso das estimativas de alguns analistas, que apostavam em uma variação positiva entre 1,12% e 2,05%.

Com isso, o índice acumulou alta de 17,47% no ano e de 19,78% em 12 meses. Em novembro de 2020, o índice subira 3,51% no mês e acumulava elevação de 23,82% em 12 meses.

Juros futuros

Os juros futuros começaram a terça-feira em baixa, em sintonia com o dólar. O movimento é mais acentuado nos longos.

Às 9h30, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 caía para 11,59%, de 11,64% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 recuava para 11,67%, de 11,74%, e o para janeiro de 2023 caía para 11,95%, de 11,98% no ajuste de sexta-feira.

Sobe e desce da Bolsa

Nesta terça-feira, com a piora das projeções para a inflação, as ações das gigantes varejistas trafegam no terreno negativo. Às 13h47, os papéis da Lojas Americanas, Magazine Luiza, Lojas Renner e Via despencavam 9,41%, 9,96%, 4,10% e 6,76%, respectivamente. No setor de supermercados, o Pão de Açúcar subia 3,71%.

Além da Vale, siderúrgicas como a CSN, Usiminas e Gerdau operam em queda, influenciadas pela baixa no preço do minério de ferro na China. Às 13h43 os papéis das gigantes caíam 5,08%, 4,74% e 0,87%, nesta sequência.

Ainda em commodities, a Petrobras vive um dia positivo no pregão, refletindo o ambiente positivo do petróleo lá fora. No mesmo período, as ações da petroleira subiam 0,70%.

Os bancos também vivem um dia de recuo em seus papéis. Às 13h46, o Itaú, Bradesco e Santander desvalorizavam 0,78%, 0,39% e 2,33%, respectivamente.

A temporada de divulgação de balanços trimestrais das empresas perde um pouco a força nesta semana, com um volume menor de companhias apresentando os números do terceiro trimestre. Os resultados se mantêm impactando seus papéis.

No mesmo horário, as ações da Eletrobras, Ânima Educação, Cosan e Vibra caíam 3,34%, 3,57%, 2,04% e 1,10%, nesta ordem. O recuo dos papéis da Méliuz é ainda mais acentuado - 8,01%.

Guedes: economia cresce

Enquanto os economistas estão puxando o freio de suas projeções para o crescimento da economia nos próximos anos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na véspera que a economia está crescendo “acima da média mundial”.

"Isso graças a uma orientação do nosso presidente de não deixar nenhum brasileiro para trás durante a pandemia. Não faltou dinheiro para saúde, mas ao mesmo tempo prosseguimos com as reformas estruturantes", afirmou o ministro a empresários durante discurso no fórum Invest in Brazil, realizado na Expo Dubai.

Segundo ele, a economia está crescendo, apesar das constantes projeções para baixo de economistas e instituições financeiras, e do aumento da taxa de juros promovido pelo Banco Central para tentar conter a alta da inflação.

Guedes disse que o Brasil tinha "muito juros" no passado e que agora estão "mais baixos". Segundo ele, além do crescimento de 5,5% neste ano, o Brasil tem mais de 100 bilhões de dólares de investimento estrutural contratados nos próximos.

Em outro momento, Guedes disse que a revista The Economist está “errando todas” sobre o governo brasileiro. Em reportagem sobre o País, a revista inglesa apontou que o presidente Bolsonaro é “nocivo à economia do Brasil”.

Para o ministro, a publicação já espalhou previsões que se mostraram exageradas do Fundo Monetário Internacional, sobre o impacto do novo coronavírus na economia brasileira. "Falaram que o Brasil ia cair 10% (na pandemia), cai 4%, que a Inglaterra ia cair 4%, caiu 10%. A Economist está liderando as previsões para o buraco".

Para a publicação, uma das mais prestigiadas sobre economia no mundo, Guedes e Bolsonaro "conduzem o País não apenas a um retorno à incontinência fiscal, como também a outras mazelas econômicas que têm castigado o Brasil: aumento da inflação, altas taxas de juros e baixo crescimento".

A reportagem considera que Guedes apoia uma "dissimulada tentativa de contornar o limite constitucional para gastos públicos".

Cenário fiscal

A divulgação dos novos dados econômicos não tira a atenção dos investidores em relação aos imbróglios fiscais e políticos do País.  Após prever que 2022 será mais difícil do que este ano, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que a retomada da economia "depende muito" da solução a ser encontrada para problemas atuais, como precatórios, espaço fiscal e Bolsa Família - programa que, na realidade, foi substituído pelo Auxílio Brasil.

Pacheco fez sua projeção para o cenário econômico do ano que vem durante evento em Portugal e comentou sobre as soluções com jornalistas em Lisboa ao final do evento.

"A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios foi aprovada na Câmara dos Deputados, com uma maioria absoluta. Nós faremos um estudo agora no Senado Federal", disse.

Ele lembrou que, primeiro, o tema passará pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e terá como relator o senador Fernando Bezerra, de Pernambuco. Depois, os senadores apreciarão a questão no plenário. É preciso ter um quórum qualificado de aprovação, que deve ser feita em dois turnos.

"O objetivo é dar solução à questão dos precatórios, para que possam ser pagos dentro do teto de gastos públicos, inclusive dentro do teto de precatórios", enfatizou.

O presidente do Senado voltou a dizer que considera muito inovadora a possibilidade de diversos negócios jurídicos capazes de esgotar a dívida, inclusive e especialmente, o pagamento de dívidas fiscais.

"Isso é uma criatividade, que é inteligente, oportuna e pode ser um fator decisivo de convencimento no Senado", avaliou. Em seu pronunciamento, ele já havia abordado o tema.

PEC dos Precatórios: servidores públicos

Enquanto a votação da PEC dos Precatórios não ocorre no Senado, o tema segue sendo assunto de afirmações de integrantes da cúpula governamental. No dia anterior, o presidente Jair Bolsonaro disse na véspera que estuda destinar parte dos recursos bilionários a serem liberados pela PEC dos precatórios a servidores públicos.

A proposta de emenda à Constituição altera o teto de gastos e viabiliza o pagamento do programa substituto do Bolsa Família, o Auxílio Brasil de R$ 400, até o fim de 2022, ano eleitoral.

A PEC vem enfrentando oposição por partidos de esquerda, com forte base sindical, e sindicatos do funcionalismo que veem ameaças ao pagamento de dívidas a servidores aposentados que ganharam na Justiça o direito de receber benefícios atrasados. O presidente não esclareceu se planeja algum tipo de reajuste salarial a categorias.

"Tínhamos previsto pagar em torno R$ 30 bilhões no ano que vem e passou para quase R$ 90 bilhões. Essa diferença tem que entrar no teto. E se entrar, a gente para o Brasil", afirmou Bolsonaro, durante entrevista na Expo Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

"Não queremos romper o teto. Propusemos ao Congresso, e a Câmara deu sinal verde, para parcelar mais da metade disso aí. Daí dá para a gente atender os mais necessitados, atender a questão orçamentária, e pensamos até em, dado o espaço que está sobrando, atender em parte os servidores.

No exterior

Lá fora, as atenções estão voltadas aos Estados Unidos, com a divulgação de novos dados econômicos, incluindo as vendas no varejo e a produção industrial do país.

Segundo dados do Escritório de Estatísticas do país, o setor varejista registrou alta de 1,7% nas vendas em outubro, somando US$ 638,2 bilhões. No trimestre, houve alta de 15,4% em relação ao mesmo período de 2020.

Já a produção industrial subiu 1,6% em em outubro ante setembro, após cair 1,3% na comparação mensal do mês anterior, de acordo com dados publicados nesta terça-feira pelo Federal Reserve, (Fed, o banco central americano). O resultado foi maior do que a expectativa dos analistas, que esperavam uma variação positiva de 0,8%.

"Os investidores estão preocupados que os gargalos de oferta causados pela pandemia, que estão por trás da alta nos preços ao consumidor, levem o Fed a subir juros no curto prazo, correndo o risco de interromper a recuperação", afirma o analista Ian Lyngen, do BMO Capital Markets.

"Em última análise, tudo se resume aos riscos de inflação e taxa de juros e levará meses até termos uma imagem mais clara disso", diz, na mesma linha, o analista da Oanda Edward Moya.

Divulgado no dia anterior, o índice de atividade industrial Empire State, que mede as condições da manufatura no Estado de Nova York, subiu de 19,8 em outubro para 30,9 em novembro, acima do previsto.

Do outro lado do mundo, os mercados acionários da Ásia fecharam sem sinal único, nesta terça-feira. Investidores observaram a reunião virtual entre os presidentes da China, Xi Jinping, e dos Estados Unidos, Joe Biden, sem reviravoltas na relação bilateral, mas em um tom de menos tensões.

Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei subiu 0,11%, aos 29,808,12 pontos. A redução das tensões bilaterais entre China e EUA foi aspecto positivo para o mercado japonês.

Na China, a Bolsa de Xangai fechou em baixa de 0,33%, aos 3.521,79 pontos, chegando a subir em parte do dia, mas sem impulso. A Bolsa de Shenzhen, de menor abrangência, recuou 0,51%, aos 2.563,68 pontos.

Já em Hong Kong, o índice Hang Seng terminou em alta de 1,27%, aos 25.713,78 pontos. O avanço é o sexto consecutivo. O ANZ destacou que o encontro de líderes das potências poderia levar os EUA a reduzir tarifas comerciais contra produtos chineses.

Na Coreia do Sul, o índice Kospi recuou 0,08% em Seul, aos 2.997,21 pontos. A sessão foi de volatilidade, com realização de lucros em alguns setores, como transporte marítimo, montadoras e companhias aéreas, após ganhos recentes. Em Taiwan, o índice Taiex subiu 0,33%, aos 17.693,13 pontos.

Na Oceania, o índice S&P/ASX 200 terminou em queda de 0,67% em Sydney, aos 7.420,40 pontos. Mineradoras estiveram entre as baixas. O quadro foi negativo mesmo após o Banco Central da Austrália (RBA, na sigla em inglês) reforçar a postura de que não deve elevar os juros em breve no país. / com Tom Morooka e Agência Estado

Sobre o autor
Julia Zillig
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