Fundos de ações: sair ou investir neste momento? Especialistas opinam
Resgate desse tipo de fundos somou R$ 52,4 bilhões no primeiro semestre, segundo a Anbima
Para os investidores de renda variável no Brasil, não habituados à montanha russa do segmento, o ano de 2022 tem causado fortes emoções. A começar pelo próprio movimento da Bolsa – no primeiro semestre, o Ibovespa acumulou queda de 6%, trafegando entre os 101 mil pontos a 122 mil, e depois chegando a 112 mil.
Para quem investe em fundos de ações, o sentimento não foi diferente. E muita gente acabou zerando suas posições nesse tipo de ativo com o desempenho de muitos deles decepcionando os cotistas. o esperado nos últimos 12 meses.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o montante líquido resgatado foi de R$ 52,4 bilhões nos seis primeiros meses de 2022.
Embora tenha ocorrido essa movimentação, o que é melhor fazer nesse momento? Manter ou sair dessese ativos? Para todos os especialistas entrevistados pela Mais Retorno, a recomendação foi unânime: não mexer com os investimentos em fundos de ações.
Visão de longo prazo
Segundo eles, a aversão ao risco dos investidores aumentou diante das incertezas do cenário externo - com ciclo monetário agressivo nos Estados Unidos, inflação global nas alturas, guerra na Ucrânia, crise energética, recessão, entre outros - e também dos fatores internos como níveis elevados da Selic e da inflação que, apesar de estar arrefecendo, ainda segue mostrando fôlego.
Somam-se a isso ainda as dúvidas do desempenho da economia nos próximos meses com as eleições locais.
Erik Sala, analista de fundos da DVinvest, aponta que um dos grandes erros dos investidores é não olhar para esses fundos com visão de longo prazo – no mínimo de 10 anos.
“O investidor costuma ficar apavorado quando há uma sequência de quedas na rentabilidade dos fundos, o que acaba muitas vezes incentivando decisões precipitadas de saída. Vale lembrar que a Bolsa é o melhor lugar para recuperar as perdas. Só é preciso ter paciência e estômago”.
Erik Sala, da DVinvest
Sala refere-se a uma citação de Peter Lynch, um dos investidores mais influentes do mundo, que diz "no mercado de ações, o órgão mais importante é o estômago, não o cérebro".
Em outras linhas, o mais importante, na renda variável, é ter resistência e resiliência, com estômago para lidar com as oscilações e a volatilidade do mercado.
Confira 20 fundos de ações com retorno atraente
A seleção de fundos foi feita a partir de estudos e base de dados da Economatica. São fundos com boa perfomance nos períodos de 12, 24 e 36 meses.
Fundo | Classe | Gestora | Rentabilidade 12 meses (19 Ago21 a 19Ago22) | Rentabilidade 24 meses (19 Ago20 a 19Ago22) | Rentabilidade 36 meses (19 Ago19 a 19Ago22) |
Opportunity Carteira FIA | Livre | Opportunity | 73,86% | 104,65% | 106,48% |
Am3g FI Ações | Livre | BNP Parribas | 47,02% | 83,45% | 79,09% |
Clic FIA | Livre | Mercantil do Brasil | 44,78% | 109,17% | 65,94% |
Warren Apollo FIA BDR Nível I | Índice Ativo | Warren | 44,52% | 43,89% | 45,13% |
America Fc FIA | Livre | KP Gestão de Recursos | 38,11% | 50,28% | 63,95% |
Fmhe FIA Ie | Investimento no Exterior | BTG Pactual | 36,17% | 56,97% | 63,47% |
Xingo FIA | Livre | 3G Radar | 35,93% | 64,68% | 51,52% |
Xingo FIC FIA 360 | Livre | 3G Radar | 34,65% | 62,34% | 50,31% |
KP Bz Equities FIA | Livre | KP Gestão de Recursos | 34,37% | 42,98% | 48,37% |
Ti Hedge FIA | Livre | Kinitro Capital | 33,75% | 11,72% | -16,20% |
Franklin Clearbridge Infrastructure Value FIA Ie | Investimento no Exterior | Western Asset | 33,37% | 62,07% | 57,53% |
Eclipseon FIA Ie | Investimento no Exterior | Ujay Capital | 30,08% | 44,19% | 30,49% |
Charles River FIA | Livre | Charles River | 22,40% | 63,29% | 100,23% |
Tarpon Gt Master FIA | Livre | TPE | 21,40% | 59,05% | 113,54% |
Absolute Pace Lb Master FIA | Livre | Absolute | 20,52% | 50,39% | 95,20% |
JPP FIA | Livre | JPP Gestão | 18,25% | 42,72% | 42,87% |
Absolute Pace Long Biased CSHG II Fc FIA | Livre | Absolute | 18,05% | 40,43% | 70,49% |
Absolute Pace Lb Adv Fc FIA | Livre | Absolute | 17,97% | 40,71% | 69,95% |
FIA BRB Petrovale | Ações Setoriais | Plural Investimentos | 17,96% | 81,64% | 124,06% |
Absolute Pace Long Biased CSHG Fc FIA | Livre | Absolute | 17,90% | 40,69% | 71,39% |
Oportunidades
Para os especialistas, vários pontos reforçam a tese de manutenção dos investimentos em fundos de ações. Um deles é o fato de que a Bolsa está negociando bem abaixo dos seus pares internacionais, o que pode se tornar uma oportunidade interessante para quem quer entrar na renda variável nesse momento.
“Com o fim do ciclo da Selic e a inflação recuando, o cenário fica mais favorável para permanecer ou entrar no mercado acionário, inclusive via fundos”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Luiz Felippo, sócio e analista de fundos da Nord Research, aponta que o fato de a renda fixa ter ficado atrativa com o avanço da taxa de juros levou muita gente a diminuir a exposição em renda variável - incluindo nos fundos de ações - e olhar com mais carinho para o CDI.
"Há muitos investidores que ainda estão machucados após o comportamento da Bolsa nos últimos dois anos, o que acaba reduzindo a tolerância ao risco. Porém, vale lembrar que o mercado de renda variável é cíclico e o cenário atual não vai perdurar para sempre".
Luiz Felippo, da Nord Research
Conhecimento nunca é demais
Para alocar em um fundo de ações, os especialistas fazem várias recomendações. Uma das mais importantes é conhecer os fundos com bastante propriedade, incluindo o histórico dos gestores que estão à frente deles.
Moliterno ressalta que normalmente, os investidores entregam o assunto nas mãos dos gestores e em períodos de baixa, acabam ficando insatisfeitos com os resultados por não conhecer a fundo as estratégias daquele ativo e já querem mudar de posição.
"Ao investir em um fundo de ações, o investidor está delegando essa missão ao gestor. Mas é importante que ele tenha conhecimento de informações importantes, como por exemplo, quais parâmetros esse fundo irá seguir. Há diversas classes dentro do guarda-chuva dos fundos de ações".
Rodrigo Moliterno, da Veedha
Em relação aos gestores, Sala, da DVinvest, aponta que os investidores costumam olhar o histórico deles de gestão dos fundos de apenas 12 meses, o que não é suficiente para dizer que ele seja bom ou não.
"O prazo de um ano é pouco para avaliar esse histórico. Costumo comparar a atuação de um gestor de fundos com um médico. Ele vai evoluindo com o passar dos anos, se tornando cada vez mais capacitado com o passar do tempo".
Comportamento
Segundo os especialistas, muitos investidores acabam assumindo posições, de compra ou venda, em momentos inadequados, o que acaba trazendo prejuízo.
O que muitas vezes coloca o investidor em pânico quando enfrenta uma fase de queda nos ativos é a sua exposição. "No caso dos fundos de ações, esse resgate expressivo pode ter acontecido porque muitos investidores podem ter alocado boa parte de seus investimentos ligados à Bolsa".
Por isso é importante diversificar a carteira. "Existe uma coisa que é conhecer o caminho e outra que é percorrê-lo. O dia a dia na Bolsa é difícil, cheio de emoções. Cada investidor tem um perfil de tolerância ao risco e ele deve levar isso em conta na hora de pulverizar as posições", ressalta Felippo.
O analista traz um exemplo de como avaliar essa resistência ao risco. "O investidor deve ter consciência sobre qual o tamanho da perda de investimentos que ele consegue aguentar e se sentir confortável. Se for suportar prejuízo de até 15%, o ideal é alocar 30% em renda variável. Em momentos delicados sempre há boas oportunidades".
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