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Economia

Filantropia: negócio, investimento ou caridade?

Data de publicação:17/01/2024 às 11:31 -
Atualizado 4 meses atrás
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MacKenzie Scott, quando se divorciou de Jeff Bezos, recebeu uma participação acionária na Amazon que somava US$ 38 bilhões.  Desde então, doou grandes quantias sem exigir nada em troca.  

Para ajuda-la na tarefa, contratou uma consultoria (que nasceu dentro da mesma que atende grandes grupos empresariais) para terceirizar o trabalho de definir a estratégia e selecionar as Organizações Não Governamentais (ONGs) que receberiam os recursos, com base no que fazem, quem são os beneficiários e como afetam as suas vidas.

Tudo muito simples e rápido, como no mundo da internet.

Seu modo de doar reflete uma mudança em relação às fundações norte-americanas criadas há pelo menos 20 anos, que visavam gerir a filantropia nos moldes do capitalismo, via a adoção de  ferramentas do ambiente de negócios para o planejamento e a mensuração de resultados.

Se não há a intenção de lucro, faz sentido colocar um número em tudo?  Como ficou evidente ao longo do tempo, o terceiro setor tem a sua própria lógica, pois o envolvimento dos agentes costuma ser mais pela identificação de uma causa.

Multiplicação da riqueza

Difícil não associar as altas cifras envolvidas com a multiplicação dos ativos, seja por conta das fortunas bilionárias criadas a partir da internet (e mais recentemente, do mundo cripto), seja por conta da grande valorização observada no mercado financeiro depois da crise de 2008.

No início de 2024, podia-se contar 2.562 bilionários, muitos dos quais estarão no Fórum Econômico Mundial em Davos.  Os norte-americanos somam 746.  Se em 2003 possuíam uma fortuna de US$ 955 bilhões (US$ 1,6 trilhão a valores de hoje), ela já ultrapassou os US$ 4 trilhões no ano passado.

Dentro desse grupo, estão os millenials (nascidos nos anos 80 e 90) que investem de acordo com as suas convicções (“investimento de impacto”).  Também conhecido como “investimento socialmente responsável”, ele tem por objetivo dar lucro e, ao mesmo tempo, gerar um impacto positivo no mundo.

Ainda assim, o percentual que destinam à filantropia é relativamente modesto.  Entre as justificativas, o tempo necessário para se encontrar bons projetos, além da pouca autonomia das organizações que recebem os recursos.

Paternalismo

No modelo tradicional dos EUA, preenche-se muitos formulários, sendo que as verbas podem vir até mesmo carimbadas.  O resultado é que se foca mais na burocracia do que no trabalho em campo, fundamental para o êxito de qualquer iniciativa no longo prazo. 

Mas, a digitalização observada durante a pandemia mudou um pouco as coisas.  

Hoje, é bastante comum que instituições em busca de recursos preencham um formulário online.  Uma vez selecionadas, se comprometem a apresentar informações mais detalhadas, para que possam administrar as doações da forma que acharem mais adequada.

Investindo em si

Primeiramente, gastam em sua própria estrutura (pessoal e tecnologia), o que permite não só a realização de um bom trabalho como também o mapeamento do contexto local.

Se tudo der certo, a ONG fica com um histórico de resultados para apresentar e um website para ajudar na transparência dos seus números, o que facilita na hora de ser localizada e avaliada.

Os riscos não são muito diferentes dos de uma startup, por exemplo, que precisa de novas rodadas de investimento até que seja comprada por um grande grupo ou, em um mundo ideal, faça a sua estreia na bolsa de valores.

A partir do momento em que ganha projeção internacional, dois pontos merecem destaque: quanto os intermediários cobram para direcionar os recursos localmente e o custo para se manter toda a estrutura administrativa.

Startup do bem

Afirmar que ONGs que recrutam e trabalham diretamente nas comunidades possuem mais chances de entender a realidade local é citar o óbvio, mas algumas iniciativas vão além.

Aproveitando-se dos estudos elaborados entre 2009 e 2019 sobre renda básica universal e da experiência obtida durante a pandemia, uma ONG nova-iorquina desenvolveu um programa no Quênia onde as doações são feitas via o sistema de pagamentos M-Pesa.

Em sua metodologia de trabalho, uma combinação de recursos humanos e tecnologia.  

As entrevistas para identificar os beneficiários são feitas de porta em porta, com imagens de satélite apontando as regiões mais carentes enquanto a inteligência artificial acompanha o uso dos celulares.  

Uma vez implementado, o sistema é facilmente replicado em outras localidades.  

Fazendo o papel do banco

Além de melhorar os indicadores de saúde, educação e nutrição, as transferências de renda ajudam a movimentar a economia, crescendo 2,5 vezes o valor distribuído por família, sem qualquer impacto inflacionário significativo.  

Para evitar o mau uso do dinheiro, funcionários e líderes comunitários organizam reuniões educativas nas prefeituras.

Já para dar perenidade ao projeto, os próprios participantes fazem o papel do banco.  Cada um contribui com um determinado valor, cujo total é então emprestado pelo período de um mês.  No vencimento, o lucro é dividido entre todos.

Conclusão

Toda uma indústria já se desenvolveu em torno do tema, profissionalizando cada uma das etapas do processo.  O mercado financeiro, como não poderia deixar de ser, também aderiu.  Afinal, quem abraça uma causa dificilmente vai embora por causa da taxa de administração.

Bancos já oferecem assessoria para a filantropia, além dos costumeiros assessores de investimento, advogados e contadores.   

Os EUA como exemplo

Até mesmo para os que desejam doar, mas não são tão ricos assim, o mercado dos EUA criou uma conta poupança específica.  Os recursos acumulados são administrados por um fundo de investimento, enquanto uma ONG cuida dos procedimentos internos, auditorias necessárias e prestação de contas ao fisco.

Pelo conhecimento adquirido, formam bases de dados para consulta, além da divulgação das melhores práticas, pois sabem dos seus limites.  Nas comunidades que atuam, resultados mais perenes dependem da implementação de políticas públicas.

Nesse meio, entra também a criatividade e um pouco de oportunismo.  As famosas limited-liability companies (LLCs) são um instrumento para se fazer o bem, com a vantagem de incluir projetos com o objetivo de lucro.

Independentemente da doação, seja ela em dinheiro, tempo ou até mesmo informalmente, ela deve visar a melhor utilização de recursos e trazer um resultado, como qualquer iniciativa, negócio ou investimento.   

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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