Descubra onde 18 gestores de fundos se posicionam em outubro diante de cenário de muitas incertezas
As alocações consideram quadro recessivo, queda das bolsas internacionais e Selic sem nenhuma alta
Os gestores de fundos de investimentos de 18 casas não apostam mais em alta dos juros no curto prazo no Brasil. E entendem que o maior risco doméstico está na política fiscal, relacionada ao controle das contas públicas. Lá fora, é a persistência da inflação em níveis elevados, que leva os bancos centrais a seguidos ajustes dos juros para acima, com risco de recessão, que mais preocupa.
A maioria já se posiciona esperando um quadro recessivo global, queda das bolsas internacionais e manutenção da Selic em níveis elevados até 2º trimestre de 2023.
Em levantamento feito pela XP Investimentos com gestores de fundos separados em principais classes de ativos – Renda Fixa (com foco em crédito privado), Multimercados e Renda Variável (long only e long biased) -,presentes em carteiras recomendadas, foi possível fazer um raio-X de como eles entendem e enxergam os desafios e as oportunidades para o próximo trimestre.
Veja, a seguir, um quadro-resumo das opiniões dos profissionais sobre riscos, dados macroeconômicos e segmentos promissores para alocação na Bolsa.
Temas | Visão dos gestores (maioria) |
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Riscos globais | Aperto monetário e inflação mais permanente |
Risco doméstico (principal) | Política fiscal |
Selic | Não sobe mais (unanimidade) |
Início de corte da Selic | Segundo trimestre de 2023 |
Selic pós fim do ciclo de corte | Abaixo de 10% ao ano |
Selic de equilíbrio no longo prazo | Entre 7% e 8% |
Câmbio fim de 2022 | Entre R$ 5,20 e R$ 5,50 |
Bolsa, B3, fim de 2022 | Percepção construtiva para o mercado |
Bolsas americanas | 66% estão com posições vendidas em ações ou índices |
Setores promissores | Financeiro, utilities, varejo, consumo discricionário, tratamento de resíduos, malls e celulose, infraestrutura |
Setores de risco | Commodities, empresas cíclicas globais |
Recessão início | Ocorrerá dentro dos próximos 6 meses |
Recessão está no radar
A inflação global que surpreende negativamente os bancos centrais do mundo e faz ganhar força o movimento de alta dos juros tem colocado em xeque o futuro do crescimento global.
A dúvida é saber o início do processo de recessão. A maior parte dos gestores (42%) dos três tipos de fundo acredita em uma recessão nos próximos seis meses, 28% entendem que ela já está aí, 14% acreditam em uma recessão de forma lenta e duradoura e os restantes 14% em uma recessão de forma aguda e rápida.
Pelo sim, pelo não, os gestores já se têm posicionado em relação a um cenário recessivo. Do total de gestores, 57% disseram que mudaram pouco seu portfólio e 43% que não fizeram nenhuma alteração.
Os maiores riscos globais apontados por esses gestores são o aperto monetário e a inflação persistentemente alta. Eles pontuam ainda que monitoram os impactos do aperto dos juros nos EUA na economia.
Já por aqui, os profissionais entendem que a velocidade de aumento dos juros pelo Banco Central desacelerou a alta da inflação, diferentemente do que ocorre na economia global. E isso levaria a uma posição mais cautelosa e otimista de busca de diversificação no mercado local.
Selic sem alta no curto prazo
Os gestores de fundos de renda fixa, multimercados e ações não acreditam, de forma unânime, em alta da taxa básica de juros, a Selic, no curto prazo. Em relação ao início de redução dos juros, 71% entendem que esse movimento poderá ocorrer no segundo trimestre de 2023 e 29% apenas no terceiro trimestre do próximo ano.
No fim do ciclo de corte, 57% dos gestores acreditam que a Selic ficará abaixo de 10% ao ano e 43% a situam entre 10% e 11% ao ano.
Crédito privado nos fundos de renda fixa
Os fundos de renda fixa recomendados são os com carteiras formadas predominantemente por ativos de crédito privado – títulos de dívida emitidos por empresas privadas.
Os gestores de renda fixa (80%) apontaram a inflação persistentemente alta como o principal risco global, seguido (20%) do aperto monetário. No Brasil, a política fiscal é vista, quase por unanimidade, como o maior risco. As eleições também são um risco para 20% desses gestores.
As estratégias para os fundos multimercado
Os fundos da classe multimercado com carteiras recomendadas comportam diferentes estratégias, desde fundos macro com alta, média ou baixa volatilidade, passando pelos fundos sistemáticos/quantitativos, até os fundos long short.
As diferentes respostas na pesquisa passam informações valiosas sobre como os gestores avaliam riscos e oportunidades para montar diferentes estratégias.
Em suas expectativas macro, 50% deles não fazem projeções para Selic e câmbio; em relação a bolsa, boa parte (66%) não têm estimativas para essa variável, cerca de 33% se mostram construtivos com o Ibovespa até o fim de 2022 e, ainda, alguns gestores veem o Ibovespa em 140 mil pontos.
As projeções dos gestores para o câmbio indicam um intervalo menor entre as cotações para o fim de 2022, variando entre R$ 5,20 e R$ 5,50.
Juros Brasil
Se na pesquisa realizada em junho de 2022, 66% dos gestores não tinham nenhuma posição direcional em juros no Brasil, agora em setembro de 2022 esse número reduziu para 50%. Além disso, foi possível ver que o número gestores com posições tomadas em juros foi a zero, uma vez que não contam mais com alta da Selic.
Nesta última pesquisa, vemos uma nova divisão igualitária entre os gestores que estão apostando na queda dos juros brasileiros (50% aplicados) e os que não estão com posições direcionais (50% tomados).
Ações
“Quando falamos de ações, todos os gestores pontuaram que possuem posições compradas, tanto via ações diretamente, quanto via índices”. Uma aposta na valorização da bolsa. A preferência dos gestores, vista por setores, são commodities, infraestrutura, energia e serviços financeiros.
Em âmbito global, há uma diversificação de posições, 66% dos gestores possuem alocação global vendidas diretamente ou via índices, 17% demonstraram baixa alocação ou posições compradas em países distintos e 17% pontuaram estar vendidos em S&P500.
Commodities
Os gestores têm aumentado a posição das carteiras em commodities. Cerca de 33% dos fundos não têm atualmente exposição direta a commodities no portfólio (era de 50% na pesquisa anterior). Nas posições em setembro, 66% dos gestores se dividiam em posições táticas em petróleo, soja e energia, comparado com 50% da pesquisa anterior.
Perspectivas positivas para os fundos de ações
As carteiras recomendadas pelos gestores mostram duas principais estratégias dessa classe de ativos para representar as estimativas e perspectivas para 2022: os fundos long only e os fundos long biased. São duas diferentes estratégias. O long biased trabalha com posições compradas e vendidas; o long only opera só com posições compradas.
Os gestores desses fundos têm uma visão mais construtiva do País como cenário para 2023, por causa do adiantado ciclo de aperto monetário e da resposta positiva da economia, melhor que os agentes esperavam.
As preocupações vêm principalmente do futuro da política fiscal do País e de turbulências no exterior, em que, para os gestores, questões geopolíticas relacionadas a Rússia, China e Europa seguirão no radar.
Os setores da bolsa que passam maior otimismo são o financeiro, de utilities, consumo discricionário, tratamento de resíduos, varejo e celulose. É praticamente consensual entre os gestores que os maiores riscos estão no setor de commodities e ações de empresas cíclicas globais – associados às preocupações com um aperto monetário mais forte nas economias desenvolvidas e maior probabilidade de recessão. Ambos seriam impactados por menor demanda, em um cenário de recessão.
Riscos para as bolsas
No País, a preocupação é com a política fiscal, independentemente do candidato vitorioso na eleição. Gestores entendem que não à toa a influência da eleição no mercado seguiu marginal durante a campanha.
Gestoras participantes |
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ARX Investimentos |
Brasil Capital |
Capitânia Investimentos |
Giant Steps Capital |
Guepardo Investimentos |
Ibiuna Investimentos |
Kadima Asset Management |
Kapitlo Investimentos |
Kinea Investimentos |
JGP Gestão de Recursos |
Legacy Capital |
Moat Capital |
Oceana Investimentos |
SPX Capital |
Távola Capital |
Tork Capital |
Truxt Investimentos |
XP Asset |
O relatório da XP Investimentos é assinado por Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos; Clara Sodré, Nathália de Sá e Pablo Kaique, os três são analista de alocação e fundos.