Ata do Copom: a possibilidade de voltar a aumentar a Selic é citada
Desaceleração econômica é necessária para garantir convergência da inflação à meta, afirma documento do Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a destacar, na ata de seu encontro deste mês, a deterioração das expectativas de inflação para prazos mais longos e mais uma vez citou a possibilidade inclusive de voltar a aumentar a Selic. Na semana passada, o Copom manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida.
O Copom enfatizou que a incerteza nos cenários avaliados força o BC a continuar vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação.
"O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", completou a ata, reiterando a mensagem já divulgada no comunicado da semana passada.
Desinflação global
O Copom manteve sua avaliação de que o processo de desinflação global é "desafiador" e possivelmente ocorrerá de forma mais lenta do que usualmente observado. Na ata, o colegiado enfatizou que a inflação está disseminada no segmento de serviços e que o quadro geral requer atenção aos indicadores de inflação subjacente.
"Nesse contexto, a redução das pressões inflacionárias continua a requerer o compromisso e a determinação dos bancos centrais com o controle da inflação, através de um aperto de condições financeiras mais prolongado", enfatizaram os integrantes do Copom. Eles comentaram que essa determinação, ainda que com possível impacto sobre preços de ativos no curto prazo, contribui para um processo desinflacionário global "mais crível e duradouro".
Sistema bancário
A ata lembrou que desde a reunião do Copom anterior, houve a liquidação de alguns bancos regionais nos Estados Unidos e a fusão de dois bancos suíços de grande porte e que isso gerou um aumento das preocupações em torno do sistema bancário nas economias centrais.
“O Comitê seguirá acompanhando de forma atenta essa situação, analisando os possíveis canais de contágio, mas avalia que o impacto direto sobre os sistemas financeiros doméstico e de outros países emergentes é, até o momento, limitado, sem mudanças na estabilidade ou na eficiência desses sistemas financeiros”, afirma.
O Copom fez uma ampla defesa do sistema de metas de inflação, que foi alvo de críticas do governo federal e foco de discussões entre agentes do mercado financeiro pelo fato de não terem sido cumpridas pelo Banco Central nos últimos anos e provavelmente não ser atingida também em 2023.
"O comitê avalia que a credibilidade das metas perseguidas é um ingrediente fundamental do regime de metas de inflação e contribui para o bom funcionamento do canal de expectativas, tornando a desinflação mais veloz e menos custosa", trouxe o colegiado na ata.
De acordo com o Copom, decisões que induzam uma reancoragem das expectativas reduziriam o custo desinflacionário e as incertezas associados a esse processo. Após o debate sobre o nível de meta adequado, houve um aumento das expectativas de inflação porque o mercado entendeu que a meta poderia ser flexibilizada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Tradicionalmente, a reunião do CMN que trata de metas é a de junho, mas as discussões sobre seu "nível ótimo" devem continuar a ocorrer até lá./ AGENCIA ESTADO