Juros futuros: a reação à alta da Selic e o que mexe com esse mercado
Os juros futuros também reagiram ao esticão da Selic, que pulou de 2% ao ano para 2,75% ao ano. A reação foi uma alta mais forte…
Os juros futuros também reagiram ao esticão da Selic, que pulou de 2% ao ano para 2,75% ao ano. A reação foi uma alta mais forte nos contratos com vencimento mais próximo, e mais suave nos de prazos mais longos.
No fim dos negócios na quinta-feira, logo após a alta da Selic, os juros foram cotados em 2,988% para junho de 2021, em 5,495% para julho de 2022, e em 7,32% para julho de 2024. Os juros na curva mais longa ficaram em 7,99% para janeiro de 2027, em 8,15% para janeiro de 2028 em 8,28%. Entenda por que apresentaram essa oscilação.
Nesta sexta-feira, os juros caem ligeiramente, refletindo muito mais o comportamento dos juros americanos no mercado futuro. Lá esses juros que subiram bem nos últimos dias e tiveram um ajuste para abaixo nesta sexta. Os juros daqui acompanharam. Os contratos curtos com vencimento em junho de 2021 estão em 2,986%; em julho de 2022, em 5,475%; em julho de 2024, em 7,03%. Na curva mais longo, os negócios saem a 7,97% para janeiro de 2027; 8,12% para janeiro de 2028; e 8,27% para janeiro de 2029.
Entenda por que os juros apresentaram essa oscilação diariamente no mercado futuro.
Nesse mercado, os contratos são fechados em cima de expectativas dos investidores sobre o comportamento dos juros em determinado tempo, daqui a alguns meses ou anos.
As oscilações refletem, portanto, o que o mercado espera da inflação, do dólar, do cenário político-econômico e como isso vai impactar nos juros. E não só daqui, mas também nos Estados Unidos, na China, Europa, enfim, nas principais economias globais. São analisados todos os vértices que possam influenciar o comportamento dos juros até o vencimento do contrato. E são vários.
A alta de 0,75 ponto porcentual juro básico da economia surpreendeu o mercado, porque foi maior que a esperada.
De imediato, segundo o gestor da Integral Investimentos, Marcos Iorio, “o que se viu no mercado foi um forte ajuste nos vértices mais curtos de juros, com vencimentos até 2024”. Quer dizer, nos contratos com vencimentos nos próximos três anos, período em que as decisões do Copom costumam alcançar e influenciar esse segmento.
Iorio explica que agora o mercado está dividido sobre o tamanho desse novo ciclo de alta dos juros. Interesse que desloca a atenção à divulgação da ata do Copom na próxima terça-feira. Uma sinalização preliminar, contudo, já indica a possibilidade de que a Selic avance mais 0,75 ponto, na próxima reunião do Copom.
Se for assim, a Selic subiria para 3,5%. Nessa toada, o ciclo de alta poderá ser mais curto, até que as autoridades monetárias cheguem ao nível adequado do juro básico.
Tudo indica, diz o especialista, que o Banco Central deve promover esses ajustes mais acentuados e acompanhar o movimento da inflação para então definir os próximos passos. O limite de ajuste, também pela sinalização dada, seria uma taxa básica de 4,50% até o fim do ano.
Outra reação do mercado a uma correção maior da Selic, para segurar câmbio e inflação, foi a queda momentânea dos juros em contratos de vencimentos mais longos. Houve ligeiro recuo no início dos negócios nesta quinta-feira, mas depois as taxas voltaram a apresentar pequena alta.
O movimento foi visto como reflexo das oscilações dos juros dos Treasuries, títulos do Tesouro americano, que estão na máxima dos últimos anos, o que também mexe com os juros futuros por aqui.
“Não fosse esse movimento dos Treasuries a gente teria visto uma queda maior nos juros longos”, comenta o gestor da Integral Investimentos. Um comportamento que deverá persistir até a divulgação da ata do Copom.
Por que os juros futuros estão no sobe e desce
Marcos Iorio explica que o mercado futuro de juros tem passado por forte volatilidade. Em boa medida, alimentada pelas expectativas de inflação cada vez mais alta.
“Na parte mais curta da curva, o que tem influenciado são os passos da política monetária na tentativa de conter a inflação”, explica. “Uma inflação mais elevada era esperada mais para frente, mas isso acabou se antecipando, e o BC rapidamente precisou atuar no câmbio para conter a alta do dólar”. Uma alta que sabidamente pressiona a inflação.
Nessa mesma linha veio também uma elevação mais agressiva dos juros futuros, porque boa parte do mercado considerava improvável uma Selic de 2,75% neste momento. Apesar da inflação em alta, mas pressionada pelo dólar caro, parecia descabida uma elevação da Selic em um quadro de desemprego elevado e atividade econômica fraca.
Os juros futuros ganharam estímulos também do exterior para avançar. As taxas dos papeis do Tesouro americano, os Treasuries, subiram, pós a aprovação do superpacote de US$ 1,9 trilhão de estímulo à economia.
A ideia é que essa dinheirama aqueça o consumo e pressione a inflação. E mais cedo ou mais tarde o Fed (banco central americano) terá de elevar os juros para conter a inflação por lá. Ainda que o comunicado da última reunião do FED sinalize que o juro permaneça estável até 2023.
Aqui, os juros sobem também para concorrer com essas aplicações lá de fora. Uma disputa que tem como parâmetro o nível das taxas de juro.
O que influencia as taxas na curva longa
O principal fator que influencia os juros na curva longa, explica o gestor da Integral, é a questão fiscal. A dificuldade do País de tocar suas reformas, como a administrativa e tributária, que já estão no Congresso, coloca em dúvida a capacidade do governo de pôr em ordem nas contas públicas.
A partir do segundo semestre do ano, o aumento da incerteza política com o início da corrida presidencial pode botar renovada pressão sobre os juros.
Cenário que ganhou mais um ingrediente de dúvida com a anulação da condenação do ex-presidente Lula. Uma decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que abre caminho para que o ex-presidente volte a concorrer às eleições.