Depois de resultado do Santander decepcionar, o que esperar dos balanços dos bancões no 4° trimestre?
Especialista espera que Bradesco e Banco do Brasil sejam os destaques positivos
Nesta quarta-feira, 02, abrindo a temporada de divulgação dos balanços corporativos do quarto trimestre dos grandes bancos brasileiros, o Santander Brasil revelou que, no período entre outubro e dezembro de 2021, registrou um lucro líquido gerencial de cerca de R$ 3,9 bilhões. Este valor, que veio bem abaixo das expectativas do mercado, de R$ 4,3 bilhões, representa uma queda de 10,6% em relação ao lucro do trimestre imediatamente anterior.
O resultado decepcionou investidores e analistas e, no pregão desta terça-feira, 2, as ações do Santander fecharam com baixa de 2,99%, negociadas a R$ 31,75, mas chegaram a cair bem mais. Com os números negativos da instituição, outros papéis dos chamados "bancões" também foram castigados ao longo do dia na Bolsa de Valores, refletindo os temores de que os balanços do setor financeiro ainda a ser divulgados também frustrem as expectativas do mercado.
Fechamento das ações dos bancos
Empresa | Código | Variação |
Santander | SANB11 | -2,99% |
Bradesco | BBDC4 | -1,88% |
Itaú Unibanco | ITUB4 | -1,57% |
Banco do Brasil | BBAS3 | -1,66% |
O balanço do Santander
Em análise elaborada por Renan Manda e Matheus Odaguil, a XP Investimentos destaca que, além do lucro abaixo das expectativas do mercado, a qualidade dos ativos do banco também está mais baixa. "O índice de cobertura do Santander caiu 33 pontos percentuais (p.p.) trimestralmente e 73 p.p. anualmente em 217%, uma vez que o banco realizou poucas provisões mais uma vez, enquanto a taxa de inadimplência aumentou", explica a corretora.
Sobre a carteira de crédito, a XP pontua que o houve uma alta de 12% na comparação anual e alta de 3% na comparação trimestral, impulsionada pelos segmentos de pessoas física - sobretudo nos segmentos de cartão de crédito, crédito pessoal e crédito imobiliário - e PMEs. "Considerando o crescimento da carteira de crédito mais expressivo nas linhas de varejo, acreditamos que o perfil de mix mais arriscado pode ser pressionado em um cenário macroeconômico mais desafiador", explica.
"Considerando o cenário macroeconômico mais desafiador no curto prazo, acreditamos que o banco pode ter que aumentar as provisões ao longo de 2022 à medida que a inadimplência aumenta, impactando a rentabilidade, apesar da potencial expansão da carteira de crédito. Por fim, devido à exposição do Santander a linhas de crédito mais arriscadas e ao seu elevado preço, reiteramos nossa recomendação de Venda com preço-alvo de R$ 36,0 por ação".
XP Investimentos
O que esperar dos balanços dos bancos?
Destaques negativos entre os balanços dos bancos
De acordo com Everton Medeiros, especialista da Valor Investimentos, para entender o que esperar dos balanços dos demais bancos, "o melhor a fazer é olhar quais indicadores já prenunciavam a situação do Santander e como os demais players estavam posicionados nesse sentido (na passagem do terceiro para o quarto trimestre)".
Ele pontua que, no balanço do terceiro trimestre, o Santander mostrou que houve uma alta na margem financeira via aumento de risco do seu mix de crédito e uma redução de 50 p.p. na cobertura frente ao ano anterior.
"Pensando nisso e no peso que o aumento da inadimplência geral trouxe para os bancos, vemos que o Itaú se encontrava em um patamar bem parecido. Sua cobertura também caiu aproximadamente 50p.p. no 3T21 e sua inadimplência subiu 0,21 p.p. Mesmo o banco apresentando uma redução no seu custo de crédito e aumento no lucro líquido é importante estar atento a resultados negativos semelhantes aos do Santander (por motivos também semelhantes) corroborados também por uma queda na receita de seguros que já vinha no 3T21".
Everton Medeiros
Destaques positivos entre os balanços dos bancos
Em contrapartida, o especialista destaca que o Bradesco e o Banco do Brasil estão em uma situação mais confortável, tendo como base os dados apresentados em seus balanços corporativos do terceiro trimestre de 2021.
Sobre o Bradesco, Medeiros comenta que a instituição perdeu somente 28 p.p de sua cobertura e ainda está em um nível superior ao de Santander e Itaú. "Além disso, sua inadimplência subiu em um ritmo menor, o que corrobora com a tese de que seus resultados no quarto trimestre podem ser melhores, mesmo com o cenário macro não favorecendo", afirma.
"Por fim, o Banco do Brasil está bem confortável em termos de índice de cobertura e, no terceiro trimestre, mostrou um Retorno Sobre Patrimônio Líquido (ROE) bem acima das expectativas. Sua cobertura caiu somente 3p.p. frente ao último trimestre, tornando o ativo menos suscetível a surpresas negativas nesse indicador", comenta Medeiros.