Nova Selic atrai as atenções da semana; mercado aposta em alta de 1,25 a 1,50 ponto porcentual
Para o mercado, alta de 1 ponto no juro básico será insuficiente para brecar a inflação
O mercado financeiro inicia nesta segunda-feira, 25, a semana que fecha outubro, com expectativas sobre a nova Selic, que será conhecida na quarta-feira, 27. Mas com investidores e gestores de mercado tentando repercutir ainda com mais clareza os efeitos sobre os ativos financeiros do drible aplicado pelo governo ao teto de gastos, na semana passada, ao propor R$ 400 como valor para o Auxílio Brasil.
O principal evento da semana refere-se à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que definirá a nova taxa básica de juros, a Selic.
O encontro de dois dias do colegiado, formado pelo presidente e diretores do BC, começa nesta terça-feira, 26, e termina na quarta-feira, 27, quando, no início da noite, será conhecida a nova Selic.
A expectativa sobre a decisão do Copom foi aguçada com o aumento de incertezas fiscais depois que o governo acomodou as despesas do Auxílio Brasil fora do limite de despesas estabelecido pela lei de responsabilidade fiscal.
O entendimento de especialistas é que o temor de desarranjo fiscal, que coloca mais lenha na fogueira da inflação, leve o BC a adotar uma política monetária mais dura, com elevação mais forte da Selic.
As estimativas das casas de análise vêm passando por rápidas e seguidas revisões, diante da piora de expectativas sobre as contas públicas, por causa do imbróglio fiscal.
Em vez uma elevação de um ponto porcentual, a dose aplicada em reuniões anteriores do Copom e já sinalizada pelo BC, as previsões de bancos e consultorias passaram a variar entre uma alta de 1,25 ponto porcentual e 1,50 ponto.
Revisão dos ajustes da Selic
A XP revisou o cenário fiscal e de inflação e passou a estimar uma elevação de 1,50 ponto porcentual na no juro básico reunião do Copom desta semana e mais 1,50 ponto no último encontro do ano, em dezembro. A taxa básica, que está em 6,25%, encerraria 2021 em 9,25% ao ano.
É a mesma estimativa, em relatório, do banco UBS, mas há previsões também de altas ligeiramente menores, como uma elevação de 1,25 ponto, dos bancos Credit Suisse, Goldman Sachs e BTG Pactual.
O mercado financeiro, de forma geral, está convicto de que uma alta de um ponto porcentual, como vinha ocorrendo sistematicamente nos últimos encontros, ficou no passado. Novas projeções de Selic continuarão sendo objeto de exercício para analistas de mercado entre hoje e amanhã.
O boletim Focus com estimativas mais recentes de indicadores econômicos, principalmente em relação à inflação, que o BC divulga nesta segunda-feira deverá municiar com dados mais atualizados as apostas dos agentes financeiros.
Um ambiente de expectativas que deve manter o mercado financeiro mais na defensiva, e sujeito à elevada volatilidade nos negócios até que seja conhecida a nova Selic.
Outro evento que atrai a atenção, e pode dar subsídio às apostas de investidores e gestores de mercado, é a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) do mês pelo IBGE, nesta terça-feira.
Considerado um indicador preliminar de inflação, o dado pode sinalizar o que poderá ser a inflação oficial, calculada pelo IPCA em outubro de ponta a ponta, que será conhecida em novembro.
Bolsonaro e Guedes: nova defesa do Auxílio Brasil a R$ 400
Durante o último fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o valor de R$ 400 para o Auxílio Brasil. Juntamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes, concedeu entrevista à imprensa. “Convidei o Paulo Guedes para conversar com vocês", em mais um gesto de confiança para o chefe da Pasta.
Ao longo da conversa, Bolsonaro falou sobre a situação fiscal e econômica do País, da alta inflacionária, dos preços dos combustíveis, defendeu as reformas e mais uma vez tentou justificar o descumprimento do teto de gastos para que fosse possível dar o Auxílio Brasil de R$ 400,00.
Bolsonaro destacou que o custo de vida tem aumentado, com a inflação que chegou a dois dígitos e que os mais pobres têm sofrido bastante. "É uma preocupação nossa", disse o presidente. Ele voltou a criticar a política do "fica em casa" e disse que o mundo está sofrendo ainda com o que ele espera ser o "fim da pandemia".
"Muitos países estão com desabastecimento e nós não temos esse problema. Sabemos que o custo de vista tem aumentado. Ano passado, demos o auxílio emergencial, gastamos o equivalente a 13 anos de Bolsa Família. O Brasil tem que voltar à normalidade", disse o presidente.
Pediram exoneração o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e sua adjunta, Gildenora Dantas. Também pediram para deixar o cargo o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, e seu adjunto, Rafael Araujo.
O movimento gerou especulações em torno também de uma possível saída de Paulo Guedes. Na sexta-feira, 22, Bolsonaro foi pessoalmente ao Ministério da Economia e concedeu entrevista ao lado de Guedes para reafirmar sua confiança e apreço a ele.
Guedes também defendeu mais uma vez a decisão do governo federal de alterar a regra do teto de gastos, considerada a âncora fiscal do País, para viabilizar o pagamento de R$ 400 no Auxílio Brasil até dezembro de 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro pretende buscar a reeleição.
O ministro da Economia disse que foi preciso "moderar a velocidade da aterrissagem fiscal", para atender a população mais frágil neste momento, e defendeu as reformas para que o País tenha solidez fiscal.
Segundo ele, uma possível aprovação da reforma administrativa traria uma economia de R$ 300 bilhões nos próximos oito a dez anos, frente ao gasto de R$ 30 bilhões para que o Auxílio Brasil chegue aos R$ 400,00.
CPI da Covid: projetos de lei parados
Além de apontar crimes cometidos na pandemia, o relatório final da CPI da Covid, apresentado na semana anterior, faz 16 sugestões de projetos de lei e uma proposta de emenda à Constituição (PEC) relacionados aos temas tratados nos seis meses de trabalho do colegiado. Pelo menos dez, porém, são baseados em proposições antigas, algumas delas paradas há anos, que nunca avançaram na Câmara ou no Senado.
As propostas incluídas no relatório estão concentradas em cinco temas principais: combate à desinformação e fake news, alterações na Lei Penal, proteção social, mudanças no sistema de saúde e homenagens às vítimas e profissionais de saúde. As outras são sobre temas variados.
Desses, o projeto mais antigo é sobre a criminalização de notícias falsas. Foi apresentado há quase três anos, em dezembro de 2018, pelo senador Humberto Costa. O projeto, porém, nunca saiu da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e, hoje, não tem nem relator definido - o antigo relator do texto era o senador Rodrigo Pacheco, que deixou a CCJ ao se tornar presidente da Casa.
A exemplo do projeto de Costa, a proposta da CPI define como crime a disseminação de notícias falsas, mas sem um critério claro para determinar o que seria considerado "fake news" - uma abordagem que é criticada por especialistas, sobretudo por causa dos riscos para a liberdade de expressão.
Um segundo projeto da CPI sobre o assunto busca incluir os serviços de internet que fazem pagamentos aos usuários - como YouTube e Twitch - no rol das empresas que estão sujeitas ao controle de órgãos antilavagem de dinheiro, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Wall Street e o mundo
No exterior, os investidores seguem acompanhando a temporada de balanços corporativos nos Estados Unidos, que têm trazido resultados positivos – nesta semana é a vez das big techs apresentarem seus números - Amazon, Apple, Facebook, Microsoft e Twitter.
Por outro lado, o mercado não perde o olho na inflação e está atento às perspectivas da China, com um novo avanço da variante delta por lá. Em Nova York, os futuros operam levemente positivos.
O governo chinês procurou dissipar as preocupações sobre a desaceleração da economia com um longo comentário na mídia estatal descrevendo como o governo está gerenciando os riscos e continua confiante em atingir suas metas para o ano.
Na última sexta-feira, 22, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), disse que a inflação no país não está “moderada” e sim “bem acima da meta”
"Problemas de gargalos nas cadeias de suprimentos continuarão pressionando os preços no curto prazo, e provavelmente durarão muito mais do que o Fed deseja", diz o analista de mercado Edward Moya, da Oanda, ao comentar a perda de fôlego das bolsas após os comentários do chefe do banco central dos EUA. "Se a inflação acabar sendo persistente, o Fed usará suas ferramentas."
Em um evento, Powell reafirmou que o processo de tapering, como é chamada a redução gradual das compras de ativos, deve mesmo ser anunciado "em breve". Ele também reconheceu que os preços devem ficar elevados por mais tempo do que o previsto inicialmente, o que elevou as apostas em alta antecipada de juros.
Durante a semana anterior, os resultados corporativos de empresas como Tesla, Netflix e United Airlines surpreenderam positivamente os investidores, o que impulsionou as bolsas.
"Até agora, menos de 20% das empresas divulgaram seus resultados do terceiro trimestre, no entanto, a grande maioria desses relatórios foi melhor do que o esperado, com aproximadamente 80% das empresas do S&P 500 superando suas estimativas", afirmam analistas da LPL Financial.
Do outro lado do mundo, o mercado financeiro asiático fechou o pregão desta segunda-feira majoritariamente em alta, após o banco HSBC divulgar balanço trimestral melhor do que o esperado e apesar de um novo surto de covid-19 na China.
O índice Hang Seng ficou praticamente estável em Hong Kong, com ligeiro ganho de 0,02%, aos 26.132,03 pontos. A ação local do HSBC, que lucrou mais do que se previa no terceiro trimestre, subiu 0,43%. Embora seja britânico, o HSBC tem foco na Ásia.
Já o papel da Evergrande, gigante do setor imobiliário chinês que escapou de um calote formal no fim de semana, caiu 0,74% em Hong Kong.
Na China continental, os mercados fecharam no positivo, graças aos papéis de empresas de energia. O Xangai Composto subiu 0,76%, aos 3.609,86 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,85%, aos 2.433,22 pontos.
Em outras partes da Ásia, o sul-coreano Kospi teve alta de 0,48% em Seul, aos 3.020,54 pontos, e o Taiex apresentou ganho apenas marginal em Taiwan, de 0,03%, aos 16.894,24 pontos.
Exceção, o japonês Nikkei caiu 0,71% em Tóquio, aos 28.600,41 pontos, pressionado por ações de tecnologia e da indústria de alimentos.
O tom positivo predominou na região asiática, apesar de relatos sobre novos casos de infecção por covid-19 na China, que decidiu impor restrições de viagens em regiões afetadas.
Na Oceania, a bolsa australiana ficou no azul, impulsionada em especial por petrolíferas. O S&P/ASX 200 avançou 0,34% em Sydney, aos 7.441,00 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado