Analistas indicam 25 ações para presentear as crianças e começar a formar uma poupança
Para diversificar o portfólio de ações das crianças, especialistas recomendam setores e empresas perenes e de alta qualidade
Em época de crise e de pandemia, situação que leva a reflexões sobre o uso cada vez mais racional do dinheiro, o Dia das Crianças pode ser um bom momento para conversar com os pequenos sobre finanças. Nem todo mundo terá condições de gastar com presentes e isso precisar ser colocado de forma muito transparente a eles. É hora também de mostrar a importância de economizar e guardar dinheiro para conseguir atingir objetivos no futuro.
Quanto mais cedo for iniciada a formação de uma poupança, melhor, até porque será possível assumir riscos em uma renda variável. Pensando nisso, a Mais Retorno reuniu indicações de analistas de diferentes casas de investimento sobre as melhores ações para investir com as crianças atualmente e como escolher as empresas e setores da Bolsa de Valores em investimentos de longo prazo.
Como escolher as ações para crianças?
A premissa básica do mundo dos investimentos é, sempre respeitando o perfil de investidor de cada um, tentar manter a carteira sempre o mais diversificada possível. Assim, é possível minimizar os riscos e maximizar os resultados, principalmente no longo prazo.
Especificamente com as ações não é diferente. O consenso entre os especialistas é tentar montar um portfólio com ativos variados, de diferentes setores da Bolsa. No entanto, mesmo com a diversificação, há os setores que podem trazer mais retorno para o investidor, com base no tipo de produto ou serviço que ele oferece ao mercado.
Além da diversidade setorial, a analista de investimentos da Toro, Paloma Brum, fala sobre a importância de contemplar, também, a diversidade geográfica. Ela explica que, investindo em companhias com receitas dolarizadas, "os riscos de mercado são minimizados e diminui-se a chance de que uma única alocação comprometa a rentabilidade de toda a carteira".
Uma das recomendações de ações para crianças da analista, pensando no longo prazo, é a Weg, empresa especializada na fabricação e comercialização de motores elétricos, transformadores, geradores e tintas.
Com clientes ao redor do mundo, a Weg tende a continuar se beneficiando do aquecimento da atividade industrial na China, do avanço da sua participação de mercado nos EUA e no México, da resiliência de equipamentos de ciclo longo e da recuperação da demanda por equipamentos de ciclo curto no exterior, explica a especialista.
Setores perenes
Entre todas as possibilidades, Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos, destaca os setores de telecomunicações, energia elétrica e infraestrutura. Estes são segmentos mais "resilientes" da economia, afirma Paula, já que, mesmo em momentos de crises, eles continuam funcionando porque seus produtos ou serviços são essenciais para a população.
No atual cenário de crise hídrica que atinge o País, o que vem encarecendo a energia elétrica para a população geral e a indústria, as empresas do setor continuam com sua geração de caixa, uma vez que os contratos de energia são feitos com os governos e têm prazos de duração de anos.
Não só isso: com a conta de luz mais cara, algumas companhias que trabalham com energia elétrica, dependendo de em que parte da cadeia estão posicionadas, estão lucrando ainda mais, o que traz boas perspectivas para os papéis.
"Dentro do setor elétrico, o segmento de transmissão é pouco impactado pelos riscos hidrológicos e pelas variações de preço", explica Paloma. Assim, a analista da Toro comenta sobre a ISA CTEEP, que atua somente neste segmento, o que a leva a uma vantagem comparativa contras as outras companhias do setor.
No mesmo contexto, os analistas consultados para esta matéria também indicaram a Equatorial e Taesa, ambas do setor de energia elétrica, e a Sanepar, empresa de saneamento básico que atua no Paraná.
Setores com pouca concorrência
O estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, ressalta também os setores que apresentam uma barreira de entrada grande, o que dificulta o surgimento de novos concorrentes com um crescimento tão expressivo a ponto de "bater de frente" com as companhias mais tradicionais.
Um exemplo é a própria B3, a Bolsa de Valores brasileira, que tem sua operação em São Paulo. O estrategista comenta que, embora, ocasionalmente, apareçam notícias sobre a possibilidade de nascerem outras bolsas, esse é um setor de difícil entrada, o que torna a empresa a líder absoluta do segmento. Dessa forma, as perspectivas de crescimento para a companhia são boas e, atualmente, a ação está barata na visão de muitos analistas do mercado.
A mesma lógica é válida para a Ambev, líder do mercado de cervejaria no Brasil, e para a Vivo e a Tim, todas listadas nas indicações para este Dia das Crianças.
Empresas líderes em seus setores
Para Paula Zogbi, a diversificação em setores é muito interessante quando levada em conta a qualidade da empresa, já que as companhias consideradas de alta qualidade pelo mercado, geralmente as líderes em seus segmentos, são as que costumam conseguir repassar o aumento dos preços nos seus próprios produtos, garantindo o seu crescimento e, com isso, a valorização de suas ações.
"Quanto mais resiliente for a tese da empresa, mais sentido faz pensar nela como uma proteção contra a variação da inflação", afirma a especialista. Ela comenta que, atualmente, algumas empresas estão bastante descontadas em relação ao seu histórico, mas apresentam alta qualidade, são líderes em seu setores e têm fortes perspectivas de crescimento, como Natura, SulAmérica, Notredame Intermédica e Lojas Renner, por exemplo.
Paloma Brum afirma que a Lojas Renner é considerada uma das empresas mais bem geridas da Bolsa brasileira. " A companhia é a nossa favorita no segmento de moda, por ter exposição à clientela de classes A e B, cujo consumo é mais resiliente em cenários de crise", explica a analista da Toro.
Nesse mesmo sentido, Paloma indica as ações da Totvs, líder no mercado de sistemas de gestão empresarial, "que possui atuação diversificada entre os segmentos econômicos, o que a protege em parte diante de crises econômicas. Suas vendas são compostas em sua maioria por clientes de maior porte, o que contribui positivamente para o ticket médio mensal", afirma Paloma.
As construtoras Cyrela e MRV Engenharia - a primeira com foco maior em alta renda e a segunda, em empreendimentos residenciais populares - também são citadas pelos analistas como destaques do seu setor, bem como a Rede D'Or e a Raia Drogasil na área de saúde e a Localiza no ramo de locação de veículos.
O estrategista da RB Investimentos comenta que a Rede D'Or, embora tenha feito sua estreia na Bolsa recentemente, é uma empresa "muito bem consolidada no mercado há bastante tempo". Cruz fala também sobre a Raia Drogasil, que com 14% de participação no mercado de varejo farmacêutico do Brasil, "é líder do seu setor e apresenta um plano de crescimento muito consistente".
Os especialistas indicam, ainda, as empresas mais tradicionais, com uma geração de caixa mais previsível e que pagam dividendos de tempos em tempos. No setor financeiro, que é a principal porta de entrada dos investidores estrangeiros na Bolsa pela sua liquidez, os analistas recomendam Bradesco e Itaú, bancos privados que estão investindo em seus processos de digitalização e modernização, explica Paloma.
Cruz também menciona os papéis do Bradespar e Itaúsa porque, apesar das empresas sentirem, de certa forma, as movimentações que acontecem no Bradesco e no Itaú, são companhias boas pagadoras de dividendos, afirma o estrategista. Por fim, ele indica a Vale e a Petrobras com o mesmo propósito de lucrar com os dividendos.
Como falar sobre o mercado de ações para as crianças?
Thiago Godoy é Head de Educação Financeira na Xpeed e considera que as crianças devem participar ativamente do processo de escolha das ações e outros produtos para a montagem de seu portfólio. Ele comenta que é importante deixar com que a criança crie vínculos com a atividade da empresa onde ela está investindo para que possa haver uma associação de valores para além do consumo.
Nesse sentido, o especialista recomenda que os pais apresentem aos filhos a variedade do mercado de ações, com papéis de companhias que façam parte do dia a dia da criança, "como a marca de roupa ou de comida que ela gosta, ou até um setor como o de energia elétrica, que é essencial para muitas das atividades dela no dia a dia".
Simultaneamente, Godoy acredita que é importante ensinar os conceitos básicos sobre o mundo dos investimentos às crianças desde cedo, falando sobre como as empresas podem valorizar ou desvalorizar e como funciona essa variabilidade. O educador comenta ainda que, conforme o aprendizado de matemática for avançando, outros conceitos podem ser apresentados.
Com esse processo educativo sendo parte do dia a dia da criança, o educador destaca que os pais podem permitir aos filhos escolherem os setores e empresas onde querem investir com base em suas próprias vivências.
Gustavo Cruz ressalta também que, com os avanços tecnológicos dos últimos tempos, as crianças têm cada vez mais acesso à internet, o que torna mais abrangente o acesso aos conteúdos de educação financeira.
Para Paloma Brum, o mais importante é "orientar a criança sobre buscar um relacionamento saudável com o dinheiro, prover insumos para que ela ganhe conhecimento sobre finanças pessoais, economia e negócios. Dessa forma, a própria criança poderá começar a desenvolver a sua experiência no universo de investimentos".
A analista recomenda que as crianças, juntos às suas famílias, realizem aportes recorrentes, em vez de se concentrarem em comprar todos os ativos em uma única data. "Assim, elas podem se beneficiar de preços médios melhores ao comprar ativos em datas diferentes", comenta a especialista.
Carteira diversificada
De acordo com Paula Zogbi, o mais importante quando se pensa em um investimento de longuíssimo prazo - como é o caso do portfólio de uma criança que vai usar o dinheiro só na vida adulta - é buscar manter o poder de compra, com ativos que tenham o potencial de proteger contra a inflação. Nesse sentido, a diversificação da carteira não deve ser feita apenas com ações de diferentes setor, mas com diferentes tipos de produtos.
A analista afirma que também é interessante ter no portfólio, a depender do perfil de investidor da família em questão, algumas "pimentinhas" como os criptoativos, por exemplo. Ou seja, ativos que são mais arriscados no curto prazo, mas que apresentam uma tese de investimento pensando no longo prazo, na evolução do mercado.
Entretanto, Paula ressalta a importância de produtos como os títulos do tesouro IPCA, que têm vencimento no longo prazo e oferecem proteção contra a variação dos preços ao longo do tempo. Além disso, a especialista também considera os fundos imobiliários como uma boa opção, já que possuem uma rentabilidade mensal com os proventos.
"Os fundos imobiliários também tendem a se beneficiar da inflação no longo prazo, pensando que os imóveis são reavaliados e os aluguéis são corrigidos (para cima)", explica a analista da Rico.
Paloma Brum destaca também que, caso a família e a própria criança tenham um perfil mais conservador, ou seja, de maior aversão ao risco, há outras formas de investir buscando maximizar os ganhos.
Pensando nos diferentes títulos presentes na renda fixa (títulos públicos ou privados, pré ou pós fixados em diversos indicadores, como a Selic, CDI ou IPCA), a analista da Toro explica que "é possível diversificar entre taxas e prazos diferentes, buscando uma melhor rentabilidade do capital".
Já para os investidores com perfil moderado ou arrojado, "uma carteira bem diversificada, entre renda fixa e renda variável, tende a minimizar os impactos na rentabilidade dos ativos, em relação às mudanças econômicas que possam surgir", comenta Paloma.
A especialista destaca ainda que, além de ser importante manter um percentual do capital aplicado em renda fixa, para os investidores mais tolerantes ao risco, a renda variável oferece diversas opções de investimento, como os BDRs (títulos que representam ações de empresas listadas no exterior) e ETFs (fundos indexados a algum índice), por exemplo.
Gustavo Cruz compartilha da mesma opinião e considera que "sempre é interessante ter algum ativo do exterior na carteira, porque o Brasil (com os cenários político e econômico) é um risco a mais para o portfólio".
Simultaneamente, Paloma faz uma ressalva em relação à reserva de emergência, explicando que, antes de mais nada, a criança, ou a família, deve separar uma parte do dinheiro para formar essa reserva. Para a analista, o ideal para esse objetivo é focar nos produtos de renda fixa de menor risco, para preservar o capital e conseguir resgatá-lo de forma rápida em momentos de necessidade.
"Uma parte, aquela que a criança tende a precisar de forma mais imediata, pode ser colocada em Títulos Públicos Federais, no Tesouro Selic, que apresentam liquidez diária ou em títulos de renda fixa privada, como um CDB, sem prazo mínimo de resgate", comenta a especialista.