Mercado Financeiro

Pregão deve ser morno após três altas do Ibovespa e à véspera de decisão do Copom

Andamento da PEC dos Precatórios e informações mais tranquilizadoras sobre nova cepa do vírus animaram o mercado

Data de publicação:07/12/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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O mercado financeiro deve movimentar os negócios desta terça-feira, 7, com um tom mais cauteloso e atenção voltada à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa hoje e decide, no início da noite de amanhã, a nova taxa básica de juros, a Selic.

A aposta majoritária de analistas de mercado é por um ajuste de 1,50 ponto porcentual, já adiantado pelo Banco Central, com a Selic, de 7,75% no momento, subindo ao patamar de 9,25%, nível em que fecharia 2021.

Mercado deve se manter mais cauteloso e atento à reunião do Copom - Foto: Envato

Alguns analistas até ensaiaram revisão nas previsões de Selic nos últimos dias, tanto para cima em razão dos sinais de inflação persistente, quanto para baixo, por causa do PIB fraco no terceiro trimestre, mas as estimativas convergem basicamente para um aumento de 1,50 ponto.

Foi nesse ambiente de consenso com o rumo da Selic, otimismo com a PEC dos Precatórios, após a aprovação em segundo turno pelo Senado, e notícias menos preocupantes com a variante ômicron do coronavírus que o mercado de ações teve mais um dia positivo na véspera.

Bolsa: terceira alta consecutiva

A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou o pregão com valorização de 1,70%, a terceira consecutiva, em 106.859 pontos.

O avanço do mercado doméstico de ações teve ajuda também da alta das bolsas americanas, diante de notícias mais tranquilizadoras em relação à variante ômicron. O índice Dow Jones subiu 1,87%, para 35.227 pontos; o S& P 500 avançou 1,17%, para 4.591 pontos; e o Nasdaq, da bolsa eletrônica, valorizou-se 0,93%, para 15.225 pontos.

O cenário doméstico dá sinais de que, com o encaminhamento da PEC dos Precatórios e a redução da preocupação com o quadro fiscal, os mercados passaram a trabalhar em ambiente mais calmo. Alguns analistas e gestores até arriscam um palpite sobre possível rali para o mercado de ações, em outros tempos bastante comum nesta época do ano.

Enquanto isso, aos poucos e sem alarde, o dólar vai buscando níveis mais altos. Encostou nesta segunda-feira em R$ R$ 5,70, ao fechar cotado por R$ 5,69, o mais elevado desde 13 de abril.

A valorização do dólar embute o risco-país, a insegurança com a situação fiscal, política e econômica do País, um sentimento que leva investidores mais ressabiados à busca de proteção no dólar.

Especialistas afirmam que nem os seguidos aumentos na Selic, que ampliam a diferença em relação aos juros externos e poderiam atrair capitais para aplicação na renda fixa doméstica, têm sido suficientes para estimular o ingresso de capital estrangeiro no País. Uma entrada de divisas que, ao aumentar a oferta de dólares no mercado, poderia deprimir as cotações.

PEC dos Precatórios: votação mais rápida

Senadores pressionam o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a não fatiar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios e forçar uma votação rápida na Câmara, vinculando o espaço fiscal aberto pela medida em 2022. Pacheco se reuniu na noite anterior com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e não fechou uma solução para o impasse.

A promulgação é alvo de um imbróglio entre Câmara e Senado e pode alongar a implantação do Auxílio Brasil de R$ 400. A proposta é estratégica para o Executivo por abrir margem para novos gastos em ano eleitoral.

O texto foi alvo de críticas por adiar a partir do próximo ano o pagamento de precatórios, que são dívidas reconhecidas pela Justiça, e por mudar a regra de cálculo do teto de gastos, a principal âncora fiscal do País.

Os senadores promoveram alterações para "amarrar" o espaço fiscal da PEC ao novo programa social e a despesas da Previdência, com o argumento de evitar uma "farra eleitoral" no ano que vem.

Lira, por outro lado, quer adotar uma manobra para fatiar a promulgação e garantir a folga de R$ 106,1 bilhões em 2022 sem a vinculação, deixando as alterações para votação só no ano que vem.

A estratégia dos senadores foi fazer a alteração no mesmo artigo que limitou o pagamento de precatórios, blindando a PEC de ser fatiada.

"Esse fatiamento é uma gambiarra. Queremos impedir o governo de fazer loucuras", disse o senador José Aníbal. "Se o Pacheco descumprir o acordo, ele não preside mais o Senado", afirmou a líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet.

No Congresso, parlamentares discutem a possibilidade de Lira levar a PEC alterada pelo Senado direto para o plenário. Líderes da Câmara, no entanto, não veem clima para isso ocorrer, pois faltaria um acordo com a oposição.

Bolsonaro: preço da gasolina ‘tem que cair’

Após dizer que a Petrobras anunciaria uma redução no valor dos combustíveis nesta semana - e levar a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a abrir processo administrativo contra a estatal -, o presidente Jair Bolsonaro declarou que o preço da gasolina "tem que cair" com as baixas nas cotações do petróleo Brent no mercado internacional.

"Precisa ter bola de cristal para dizer que tem que cair o preço da gasolina caindo o Brent? Se eu não me engano, quase US$ 10 de redução. Tem que cair. Eu falei isso aí, pronto, informação privilegiada", afirmou Bolsonaro a apoiadores ao chegar ao Palácio da Alvorada no dia anterior, sinalizando, assim, não ter recebido de forma antecipada notícias sobre estratégias da empresa.

Referência internacional para a formação de preços da Petrobras, o petróleo Brent, negociado em Londres, fechou na véspera a US$ 73,08 o barril. Um mês atrás, o contrato futuro mais líquido desse ativo terminou a sessão cotado em US$ 82,74. Em um mês, portanto, houve queda de US$ 9,66.

De olho nos efeitos da inflação em sua popularidade às vésperas das eleições, o presidente tem sido um crítico contumaz da política de preços da Petrobras, que alinha os reajustes dos combustíveis à variação do petróleo no exterior.

Mais cedo, a Petrobras emitiu um comunicado ao mercado para desmentir a declaração de Bolsonaro do último fim de semana e informou que não antecipa decisões sobre reajustes de preços. Ainda assim, a CVM instaurou processo para investigar a empresa.

STF: emendas de relator-geral liberadas

No cenário fiscal, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF) liberou na véspera a execução das emendas de relator-geral do orçamento (RP-9) previstas para o ano de 2021. O dispositivo é a base do esquema do orçamento secreto e consiste na liberação de dinheiro público a deputados e senadores em troca de apoio ao governo de Jair Bolsonaro no Congresso.

A distribuição dos recursos ocorre sem critérios claros, cabendo a um grupo de parlamentares alinhados aos interesses do Palácio do Planalto definir como e onde as verbas federais devem ser aplicadas.

Weber atendeu em caráter provisório ao pedido dos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, para suspender o trecho da decisão que impedia novas indicações neste ano, sob o argumento de que paralisaria setores essenciais da administração pública.

A relatora do caso também solicitou que a ação seja levada ao plenário da corte para que a decisão possa ser analisada pelos demais ministros. No despacho, a ministra também prorrogou por 90 dias o prazo para que o Congresso, a Presidência da República e os Ministério da Casa Civil e da Economia adotem as medidas necessárias para dar "ampla publicidade" às indicações feitas por parlamentares via RP-9.

A Comissão Mista de Orçamento ignorou a decisão da Corte ao rejeitar propostas que dariam mais transparência aos critérios utilizados para distribuir bilhões de reais a um seleto grupo de parlamentares. Os congressistas também se recusaram a limitar a abrangência das áreas que poderão receber recursos públicos nessa modalidade. Ao contrário: o parecer do relator, deputado Hugo Leal, aumentou o rol de despesas contempladas, estimadas em mais de R$ 16 bilhões.

A aprovação do parecer de Leal pela comissão representa mais um passo do Congresso para manter, em 2022, o mecanismo atual das emendas de relator. A cúpula do Legislativo tenta destravar as verbas suspensas pelo Supremo e concordou em divulgar apenas parte desses repasses, prometendo um novo modelo para o futuro.

As regras para o ano que vem, no entanto, continuam a dar margem para indicações sem nenhum critério de quem será beneficiado e para onde irá o dinheiro federal.

Lá fora

No ambiente internacional, o clima é positivo. Os futuros negociados nas bolsas americanas operam em alta, com as preocupações em torno da variante ômicron do coronavírus. No pregão da véspera, setores mais ligados ao quadro pandêmico, como aéreas e petroleiras, tiveram ganhos importantes.

Sobre a ômicron, o Goldman Sachs destaca que do "lado mais tranquilizador, a concentração de infecções recentes entre os grupos mais jovens e menos vacinados sugere pelo menos alguma imunidade da vacina contra infecções".

Além disso, segundo o banco, a maioria dos especialistas prevê uma proteção vacinal significativa contra hospitalização, especialmente após reforços, enquanto a gravidade da doença condicionada ao estado de vacinação parece semelhante ao da variante delta ou mais benigna.

A percepção corrobora as falas de Anthony Fauci, o principal assessor da Casa Branca sobre temas relacionados à pandemia, à CNN na véspera. Segundo ele, os sinais até agora são "encorajadores", e a maioria dos casos indica que as pessoas apresentam sintomas leves.

Neste cenário, as aéreas dispararam, com alta de American Airlines (+7,88%), Delta Air Lines (+6,00%) e United Airlines (+8,32%). Também ligadas a viagens, Airbnb (+8,46%) e Booking (+5,34%) avançaram. O avanço nos preços do petróleo contribuiu para os ganhos e petroleiras como Chevron (+1,56%), ExxonMobil (+1,13%), Occidental Petroleum (+2,33%) e ConocoPhillips (+2,39%).

Depois de tombar mais de 20% na última sessão seguindo o anúncio de que deixará Nova York, as ações da Didi subiram quase 10% no dia anterior. As disputas entre EUA e China ganharam mais um contorno, com a confirmação oficial do boicote diplomático de Washington à Olimpíada de inverno de Pequim em 2022 por alegações de violações de direitos humanos.

As ações de empresas intensivas em tecnologia, que pela manhã sofreram com o avanço dos juros dos Treasuries, se recuperaram durante o pregão e fecharam em alta, com destaque para Meta (+3,59%), Apple (+2,15%), Intel (+3,53%) e Twitter (+5,70%).

Na Europa, o Stoxx 600 opera em alta com a divulgação de números sobre a economia da zona do euro. O Produto Interno Bruto (PIB) da região cresceu 2,2% de julho a setembro em comparação com os três meses imediatamente anteriores, segundo dados divulgados pela Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia.

O resultado confirmou a segunda estimativa do indicador divulgada em 16 de novembro e aponta que a economia europeia se expandiu em um ritmo forte no terceiro trimestre, recuperando quase a totalidade da perda registrada durante a recessão por conta da pandemia.

No segundo trimestre do ano, a economia da região havia crescido 2,2%. Na comparação anual, a economia do bloco da moeda comum cresceu 3,9% no terceiro trimestre, mais do que a expansão de 3,7% apontada segunda estimativa. A agência de estatísticas revisou o crescimento anual no segundo trimestre, de 14,3% a 14,4%.

No continente asiático, as bolsas fecharam majoritariamente em alta nesta terça-feira, após o Banco Central da Chinha (PBoC) cortar a taxa de compulsório para injetar liquidez na segunda maior economia do mundo. Dados chineses positivos também ajudaram a empurrar para o segundo plano as preocupações sobre a ômicron e o mercado imobiliário do país asiático.

Investidores interpretaram a decisão como um sinal de que Pequim está disposta a agir para evitar que a crise de liquidez no setor imobiliário se dissemine por toda a atividade econômica.

Nesse cenário, a bolsa de Xangai encerrou a sessão com ganhos de 0,16%, aos 3.595 pontos, mas a de Shenzhen, menos abrangente, perdeu 0,72%, aos 2.477 pontos. O índice Taiex, em Taiwan, por sua vez, subiu 0,61%, aos 17.796 pontos.

Em Hong Kong, o Hang Seng avançou 2,72%, aos 23.983 pontos. O papel da Evergrande subiu 0,55%, após o tombo da véspera, de olho no anúncio de formação de um Comitê de Gestão de Risco para lidar com o risco de insolvência da incorporadora.

Também no radar dos negócios, as exportações na China cresceram 22% em novembro ante igual mês de 2020, segundo informou hoje a Administração Geral das Alfândegas do país asiático. O resultado superou as expectativas dos analistas consultados, que projetavam avanço de 16,1%. As importações subiram 31,7% na mesma base comparativa.

No Japão, o Nikkei subiu 1,89%, aos 28.455 pontos, na Bolsa de Tóquio. As ações da companhia ferroviária West Japan Railway (+4,97%) e da aérea ANA Holdings (+3,82%) estiveram entre os destaques, em meio a sinais de que a variante ômicron do coronavírus provoca casos leves da doença.

Em Seul, na Coreia do Sul, o índice Kospi teve alta de 0,62%, aos 2.991,72 pontos, no quinto dia consecutivo de ganhos. O papel da Samsung Electronics teve valorização de 1,44%, após a gigante do setor de tecnologia informar a fusão das divisões de telefonia móvel e de eletrônicos de consumo.

Na Oceania, o S&P/ASX 200, referência em Sydney, avançou 0,95%, aos 7.313 pontos. O Banco Central da Austrália (RBA, na sigla em inglês) anunciou a manutenção da taxa básica de juros em 0,10%. RBA também decidiu continuar com as compras semanais de US$ 4 bilhões em títulos do governo ao menos até meados de fevereiro de 2022. / com Júlia Zillig e Agência Estado

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.