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Mercado Financeiro

Investimento de impacto: por que você ainda terá um

No final de 2017, a revista inglesa The Economist relatou em um artigo um caso bastante peculiar: uma jovem de aproximadamente 25 anos, ao herdar a…

Data de publicação:14/01/2020 às 10:00 -
Atualizado 2 anos atrás
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No final de 2017, a revista inglesa The Economist relatou em um artigo um caso bastante peculiar: uma jovem de aproximadamente 25 anos, ao herdar a “pequena” fortuna de US$ 500 milhões, perguntou aos futuros responsáveis pela gestão do seu dinheiro se eles sabiam o que era “investimento de impacto”.

Desconhecendo o assunto e, principalmente, a determinação da herdeira, eles responderam que não incluiriam no seu portfólio empresas fabricantes de cigarros. Insatisfeita com o que ouviu, ela demitiu todos os seus assessores e montou o seu próprio family office.

Como objetivo, estipulou que os seus investimentos deveriam atender a 2 critérios:

  1. Dar retorno;
  2. Gerar um impacto positivo na sociedade e no meio ambiente.

Por mais que alguns possam argumentar que se trata de um caso isolado, a verdade é que os chamados millenials (nascidos nos anos 80 e 90) serão os maiores receptores da riqueza gerada pela valorização dos ativos nos últimos 10 anos (algo próximo a US$ 24 trilhões).

Pela força econômica que representam, já são chamados de geração SRI (sigla em inglês para “investimento socialmente responsável”) e, antes mesmo de “colocarem a mão no dinheiro”, já fazem barulho.

São notórios os relatos de endowments de grandes universidades no exterior que têm excluído sistematicamente de suas carteiras os investimentos tidos como “banidos” (bebidas, cigarros, armas de fogo e casinos) para receber doações de ex-alunos.

O investimento de impacto

Como ficou evidente, não se trata de um grupo de meninas bem-intencionadas cuidando de algumas plantinhas ou comprando artesanato em comunidades distantes. O que está em jogo é nada menos que a convicção para escolher, entre os ativos do mercado financeiro, os que receberão os fartos recursos que em breve trocarão de mãos.

Dito isso, o investimento de impacto não pode ser confundido com “caridade”, visto que já representa um mercado de US$ 12 trilhões. Enquanto pessoas afortunadas de mais idade consideram a filantropia como algo separado do mundo dos investimentos, as gerações mais novas querem “investir” seguindo os seus valores pessoais.

Felizmente para eles, o mercado de investimentos sustentáveis não poderia ser melhor:

A rentabilidade

Em um levantamento realizado em 2015, com mais de 2.000 casos, descobriu-se que, em 90% deles, empresas aderentes ao “mundo ESG” (que contempla os critérios ambientais, sociais e de governança) obtiveram um retorno pelo menos igual, se não superior, às demais.

As mesmas evidências foram encontradas nos próprios índices divulgados pelo mercado financeiro. Entre fevereiro de 2005 e agosto de 2018, o Global 100 Index (com as 100 empresas mais sustentáveis do mundo) apresentou um desempenho melhor que o MSCI All Country World Index (127,35% do primeiro, quando comparados com os 118,27% do segundo):

A alocação

Usando uma estratégia distinta dos endowments citados anteriormente, o que os gestores de fundos, responsáveis por 75% dos investimentos sustentáveis, têm feito é integrar uma abordagem ESG ao próprio processo de seleção de ativos:

No mundo, fundos com essa estratégia têm atraído um público cada vez maior. Apenas no ano passado, tiveram uma captação líquida (diferença entre aportes e saques) de aproximadamente US$ 5,5 bilhões, mesmo com a ameaça de elevação de juros nos EUA.

O motivo é bastante simples: mesmo quando há volatilidade, os cotistas evitam sacar os recursos pois sabem que não encontrarão outros fundos, com características semelhantes, para investir.

As bolsas de valores globais também fazem a sua parte: ao exigir das empresas listadas relatórios de sustentabilidade cada vez mais detalhados, elas ajudam a “elevar a barra”.

O mercado

Apesar de ser bastante difundida, a indústria de fundos não é a única via para quem busca ativos ESG. Considerando o ambiente de baixas taxas de juros, os títulos de renda fixa “verdes” captaram, no ano de 2018, nada menos do que US$ 580 bilhões:

Conhecidos como green bonds no mercado internacional, eles pagam juros periodicamente e são direcionados para projetos sustentáveis.  Como de praxe, os primeiros papéis desse gênero foram emitidos pelo Banco Mundial e pelo Banco Europeu de Investimento. Juntos, eles coordenaram emissões em 25 moedas distintas.

Ao longo dos anos, uma série de fatores induziu o crescimento desse setor:

  • A criação de empresas certificadoras, que dão algum respaldo para que os gestores de recursos possam escolher os projetos que pretendem financiar;
  • A participação das grandes instituições financeiras;
  • Os Green Bond Principles, conjunto de regras para a gestão desses recursos e a divulgação de informações aos investidores.

O investimento de impacto no Brasil

No caso do Brasil, o país é um dos signatários do Acordo de Paris, cujo objetivo é reduzir as mudanças climáticas (o componente “E” da sigla ESG).

Por conta disso, cabe ao país investir, até 2030, US$ 152 bilhões na recuperação de florestas, pastagens e no aumento das fontes renováveis (de 10% para 23% da matriz energética). Dada a meta ambiciosa, existe uma infinidade de opções que podem surgir nos próximos anos.

O que já existe

Um exemplo recente de título verde foi a emissão de um Certificado de Recebível do Agronegócio (CRA) da Suzano Papel e Celulose. Isento de Imposto de Renda (IR), ele teve uma demanda muito acima do esperado.

Ofertado no mercado para captar R$ 1 bilhão, ela foi três vezes maior em função do selo FSC. Emitido pela ONG FSC Brasil, é ela quem atesta a presença dos critérios econômicos, ambientais e sociais.

Em relação à indústria de fundos em si, o país já conta com 3 ETFs que se encaixam no contexto ESG:

  • Índice Carbono Eficiente (ICO2);
  • Índice de Governança Corporativa (IGCT);
  • Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).

Mas não é onde se encontram as oportunidades mais promissoras.

O que está surgindo

Gestoras de venture capital, fundadas por herdeiros de grandes grupos empresariais, estão indo muito além do que indicam os manuais corporativos de boas práticas.

Para esse grupo, não há forma melhor para se endereçar as externalidades do que pelo uso da tecnologia. Sem ela, nenhum projeto sustentável ganha escalabilidade. Além disso, aplicam dentro de casa o que esperam de suas investidas.

Isso significa obter a mesma certificação: ser uma “Empresa B”. Ao testarem na prática os processos que mensuram quesitos como:

  • Governança;
  • Modelo de negócios;
  • Comunidade;
  • Meio ambiente;
  • Colaboradores.

Usam a experiência adquirida para selecionar as candidatas que receberão os recursos (aproximadamente 8 empresas). Esse número é semelhante ao adotado pelos fundos baseados na estratégia de valor.

Dito isso, percebe-se duas coisas:

  1. Suas atividades serão acompanhadas de perto pelos gestores;
  2. O investimento é de longo prazo, tempo suficiente para gerar o impacto desejado.

O futuro

Outras iniciativas do mundo das startups também prometem ganhar apelo.

A Empresa Brasileira de Conservação de Florestas (EBCF) se associou recentemente a um banco digital. Ao abrir contas e cobrar tarifas de acordo com o perfil socioeconômico do correntista, o banco pretende destinar parte de suas receitas para que a EBCF possa aumentar as áreas de conservação sob a sua gestão.

Para ganhar escalabilidade, incorporou ainda uma carteira digital para o armazenamento de moedas virtuais. Com o intuito de evitar a oscilação de preços das demais criptomoedas, criou a sua própria “stable coin”, moeda cujo lastro é um ativo real (nesse caso, a própria reserva ambiental mantida pela EBCF).

Sua sustentabilidade virá da:

  • Venda de produtos orgânicos plantados pela comunidade;
  • Venda de créditos de carbono;
  • Concessão de autorização para pesquisas de cunho científico (biodiversidade).

Essa estrutura de funding só foi possível porque a criptomoeda “verde” está registrada junto à Finma, entidade reguladora Suíça, o que permite que capte recursos de várias partes do mundo, inclusive de brasileiros.

Apesar do Brasil ainda não ter a sua própria legislação para as criptomoedas, já se aceita que sejam transacionadas dentro do país, desde que amparadas por jurisdições que as regulem adequadamente.

Com planos para ampliar a reserva ambiental em 40 vezes o seu tamanho atual, a primeira oferta inicial de moeda (ICO) da EBCF parece ser só o começo.

Conclusão

As instituições financeiras, como intermediárias que são, via de regra vão na direção de onde está o dinheiro. Se antes se fazia uma distinção entre “fazer o bem” e “investir”, a geração SRI, que vai herdar verdadeiras fortunas em ativos altamente líquidos, quer fazer o bem investindo naquilo que acredita.

A indústria de fundos já entendeu esse contexto. Como possui acesso a muita informação, foi a primeira a perceber que:

  • Empresas sustentáveis geram retorno;
  • Seus investidores são bastante fiéis.

O que começou com a exclusão de algumas empresas de grandes portfolios foi aprimorado para uma nova abordagem na seleção de ativos, contemplando não só as ações de empresas que se tornaram referência pelas suas práticas, mas por novos instrumentos que foram criados a partir de aprimoramentos do mercado (a certificação e um arcabouço próprio).

O Brasil tem muito a ganhar, dadas as metas do Acordo de Paris que precisa cumprir e o mercado ainda incipiente de instrumentos financeiros atrelados a projetos ESG. Felizmente para nós, o investimento de impacto chega juntamente com as vantagens da tecnologia e a presença de gestoras e startups especializadas e comprometidas.

 "Vamos inventar o amanhã e parar de nos preocupar com o passado."

Steve Jobs
Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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