Teve seu celular roubado? Saiba o que fazer para evitar correr o risco de perder o seu dinheiro com a ação dos criminosos nos apps de bancos
Números de furtos e roubos dispararam no primeiro trimestre de 2022
A cena é cada vez mais comum, corriqueira. Giovana Pinheiro, jornalista de 28 anos, esperava um motorista de aplicativo chegar ao seu local de partida, na Avenida Paulista, no coração de São Paulo. Por um breve momento, desbloqueou seu celular para verificar a placa do veículo, que estava a poucos metros de distância. Foi o suficiente para que, em questão de segundos, um assaltante de bicicleta levasse o aparelho desbloqueado da mão dela.
Giovana foi vítima de um crime que cresce a números alarmantes. Desprevenidos que pegam o celular no meio da rua para responder a uma mensagem ou, até mesmo, motoristas que deixam o aparelho aberto no GPS enquanto dirigem sofrem com a ação extremamente rápida de criminosos, que buscam aparelhos desbloqueados para acessar aplicativos de bancos e levar o dinheiro das vítimas.
Com o aumento número de casos de roubo e furto desse tipo - sobretudo em cidades movimentadas, como São Paulo -, cresce também a preocupação de ter o celular roubado e, além desse tipo de prejuízo, sofrer também com a ação dos criminosos nos aplicativos bancários. No entanto, especialistas afirmam que há mecanismos de proteção e, em casos extremos, até de reaver o seu dinheiro com os bancos.
Números de roubos e furtos em São Paulo
Roubos | Furtos | |
Casos em março de 2022 | 11.937 | 21.005 |
Casos no 1° trimestre de 2022 | 33.883 | 53.208 |
Casos em março de 2021 | 9.548 | 12.192 |
Casos no 1° trimestre de 2021 | 30.689 | 38.890 |
O que fazer depois de ter o celular roubado?
Bloquear o aplicativo do banco
De acordo com Marcelo Lau, coordenador acadêmico do MBA em Ciberseguança da FIAP, a coisa mais importante a ser feita imediatamente após o roubo é o bloqueio dos aplicativos e todas as outras formas de acesso ao banco. Essa medida pode ser feita por meio de uma ligação de qualquer outro celular e evita que o criminoso consiga utilizar os recursos da conta da vítima.
É importante anotar o número de protocolo de atendimento e o horário em que a ligação, além do nome da pessoa que realizou o atendimento, se possível. Essas informações comprovam que o pedido de bloqueio foi feito. Assim, qualquer movimentação financeira que for feita depois disso pode ser contestada, para que a vítima receba seu dinheiro de volta ou cancele qualquer outra operação.
Bloquear o aparelho celular
Na sequência, tão importante quanto bloquear os acessos ao banco, destaca Lau, é bloquear, também, o aparelho celular. Isso porque, mesmo que o bloqueio dos acessos seja feito, se o aparelho ainda estiver funcionando, o criminoso pode utilizar a opção de redefinir senha nos aplicativos para tentar acessar as contas bancárias.
O bloqueio do celular pode ser feito por uma ligação para a operadora, que vai bloquear, também, o chip (passo importante para que o criminoso não consiga usar o chip em outro aparelho). Para isso, é necessário ter acesso ao IMEI, que é o registro de identidade do celular. Vale a pena levar sempre uma anotação no bolso com esse número.
Mais uma vez, é importante anotar o protocolo de atendimento e informações sobre a ligação em que o bloqueio foi solicitado.
Boletim de Ocorrência
Após realizar os bloqueios necessários, que devem ser feitos de forma muito ágil, é necessário que a vítima formalize o crime em um Boletim de Ocorrência (B.O.). Em algumas cidades, inclusive, é possível registrar o ocorrido de forma virtual, acessando o site disponibilizado pelas autoridades competentes.
Marcelo Lau pontua que, na hora de fazer o registro, a vítima precisa identificar se ela passou por um roubo ou um furto. "Roubo é mediante violência física ou verbal, enquanto o furto é quando alguém tira algo de você sem que você consiga perceber", explica.
O especialista em cibersegurança afirma que é "muito importante" registrar o B.O. porque qualquer coisa que vier a acontecer depois do roubo com o criminoso utilizando o celular pode ser contestada pelo boletim. A vítima fica respaldada e consegue confirmar que houve o crime com esse registro.
O que fazer se o criminoso conseguir utilizar o app do banco?
Giovana, a jornalista mencionada no início do texto que foi assaltada na Avenida Paulista, teve algumas dores de cabeça após o roubo com os aplicativos dos bancos em que tem conta, porque antes de que ela conseguisse bloquear os acessos, o criminoso já tinha solicitado dois empréstimos, um em cada banco. O primeiro era no valor de R$ 5 mil e, o segundo, de R$ 25 mil.
Nos dois casos, Giovana conseguiu ver que o empréstimo tinha sido feito e solicitou aos bancos envolvidos que cancelassem a operação antes que os criminosos conseguissem resgatar o dinheiro. Porém, ela mesma considera que teve sorte, porque boa parte das pessoas que sofre com esse tipo de crime só percebe que foi lesada quando já é tarde.
O coordenador acadêmico da FIAP explica que, se todos os passos iniciais forem seguidos logo após o crime acontecer e, mesmo após a solicitação de bloqueio dos acessos à conta do banco, do aparelho celular e da formalização de um boletim de ocorrência, ainda assim a vítima tenha qualquer outro problema com transações bancárias por ação do criminoso, é possível solicitar o reembolso do dinheiro que foi perdido.
"Normalmente, o banco monitora as atividades do cliente e quando tem atividade suspeita bloqueia o canal para as transações, mas se a vítima sentir que, mesmo depois de fazer tudo que estava ao seu alcance, se sente prejudicada, ela pode pedir para reaver o dinheiro (ou ter outras operações canceladas, caso dos criminosos que pedem empréstimo no nome da vítima)", ressalta Lau.
A quem recorrer se os criminosos levarem dinheiro do app pelo celular roubado?
O primeiro passo é conversar com o próprio banco para explicar a situação e apresentar os documentos que provem todo o corrido: protocolos de atendimento e boletim de ocorrência. Se a instituição não resolver o problema, a vítima pode recorrer ao Procon, que dá um prazo de resposta de até 10 dias para o banco.
Em última instância, o cliente do banco que foi prejudicado pela ação do assaltante pode entrar com um processo contra a instituição para reaver o dinheiro.
Também é possível prestar uma queixa sobre o banco ao Banco Central do Brasil.
Dicas para proteger o celular se ele for roubado
Embora não tenha como controlar a ação dos criminosos, há alguns recursos que fornecem uma proteção a mais para o celular caso ele seja roubado. Confira as dicas de segurança do professor Marcelo Lau:
- Escolher senhas fortes e não repeti-las em outros aplicativos;
- Não salvar as senhas em um bloco de notas ou no navegador do celular;
- Ativar a autenticação de dois fatores em todos os aplicativos que permitirem essa prática;
- Evitar aplicativos que enviem códigos de recuperação de senhas por SMS ou e-mail;
- Configurar o celular para bloquear automaticamente após um minuto em que não há utilização de nenhum serviço do aparelho;
- Instalar um bom antivírus no celular.