SVN Gestão: recessão global, juros nos EUA, China e commodities são pontos de atenção no radar dos gestores
Gestores estão privilegiando uma carteira mais defensiva com commodities e utilities, e títulos de inflação
Qual o tamanho da recessão global? Até onde chegam os juros americanos? A economia chinesa vai deslanchar? Vai conseguir beneficiar as commodities? Brasil será favorecido? São vários os pontos de atenção para os gestores da SVN Gestão nesse começo de agosto.
O que de concreto se tem nesse momento, segundo Leonardo Morales, sócio e diretor da SVN, é que a queda nos preços das commodities e os números mais fracos da atividade econômica nos Estados Unidos parecem ter retirado parte das pressões para a elevação dos juros americanos. Ao mesmo tempo, os radares do mercado se movem para a China, onde há espaço para estímulos monetários e fiscais, mas que continua com sua política de abre e fecha da economia diante da meta covid zero.
É a partir dessa realidade, e considerando todas essas questões no cenário externo, que Morales se prepara para atravessar esse mês, ou até avançando um pouco mais neste segundo semestre, e posicionar as carteiras de seus fundos de investimentos.
"Na gestão devemos sempre atentar para os riscos na mesa. Atualmente temos muitos pontos de atenção no radar, principalmente com a alta probabilidade de recessão. Os níveis de preços, no entanto, são muito importantes, e a volatilidade de curto prazo em níveis mais altos pode gerar boas oportunidades para investimentos de longo prazo", afirmam os gestores da SVN.
Morales acredita que o mercado deve continuar convivendo com a volatilidade no segundo semestre, o que também exige estratégias: "Seguimos cautelosos, mas aproveitando as oportunidades e por isso estamos privilegiando uma carteira mais defensiva com commodities e utilities, além de títulos de inflação de curto e médio prazo".
Como as carteiras da SVN estarão posicionadas
O gestor esclarece que em seus fundos mantêm exposição a títulos públicos e privados indexados à inflação com juros reais acima de 5,5% ao ano; algumas posições de curto prazo em prefixados com a percepção de que o ciclo de alta está chegando ao fim; posições com liquidez em títulos referenciados ao CDI para novas oportunidades; para exposição ao exterior e dólar, há alocação em BDRs; e ações de commodities e empresas defensivas, que geram caixa e tem poder e repasse de preços, foram as escolhidas.
Há ainda uma pequena exposição ao ouro, por ser um ativo real que oferece proteção em momentos de crise geopolítica e inflação alta.
Expectativas em relação ao Fed
Embora os números do mercado de trabalho nos Estados Unidos demonstrem um aquecimento da economia, o que deixa o Federal Reserve (Fed, banco central americano) em alerta em relação à inflação e novas altas dos juros para combatê-la, Morales acredita que "talvez ele não precise ser tão duro, tão forte no ajuste dos juros, que acabe provocando uma realização adicional para os mercados".
Até porque houve uma correção acentuada nas empresas americanas, refletida no movimento do S&P.
"A queda dos ativos de risco no primeiro semestre foi relevante e acompanhada de uma destruição de riqueza não vista há muito tempo. Essa destruição de valor provavelmente se traduz em uma inflação mais baixa lá na frente"
Leonardo Morales - SVN Gestão
Parece não haver dúvidas de que o principal objetivo da autoridade monetária americana seja o de conter a alta dos preços, a maior em 40 anos. Segundo o gestor, no entanto, o recuo nos preços do minério de ferro e do petróleo, de certa forma, deixou o Fed mais confortável e com a possibilidade de se preocupar um pouco mais com o crescimento da economia dos EUA.
Dúvidas sobre o crescimento na China
Se por um lado há um alívio nos fatores que afetaram os ativos de risco em julho, especialmente na primeira quinzena do mês, de outro, a questão está em saber de onde virá a alavanca e o suporte para a economia global. É aí que a segunda maior economia do mundo, a chinesa, entra em cena.
Há preocupações com a China que, com a política de tolerância zero em relação à pandemia e consequente fechamento de grandes cidades, acaba por afetar diferentes setores econômicos, registrando queda em vários indicadores, nas vendas no varejo, no PMI (nível de compras para produção industrial), da sua economia como um todo, relata o diretor.
"A falta de clareza no critério utilizado para tais medidas – poucos casos e mortes notificados – tem feito preço, principalmente nas commodities, por conta do aumento da incerteza com as projeções de crescimento por lá", dizem os gestores da SVN.
O fato é que os bancos vêm revisando os números de crescimento do país para baixo, o que derrubou as commodities.
"A covid já é uma página virada no Ocidente há um bom tempo, mas continua no Oriente, e todos olhos estão voltados para isso, para o governo chinês, que tem espaços para novos estímulos, monetários e fiscais", diz Morales.
Morales - SVN
Para ele, um suporte adicional às commodities é de certa forma positivo para o Brasil, que exporta esses produtos e tem a China como um dos seus principais compradores.
Eleições e questão fiscal no cenário doméstico
No cenário doméstico, destaca o gestor, o que mais pesou nos mercados em julho foi a questão fiscal com a concessão e aumento de benefícios sociais sem a contrapartida de fontes de receita, por meio do "pacote de bondades".
Um entrave que para o gestor foi superado com a arrecadação recorde do governo, notadamente com a distribuição de dividendos da Petrobras, que rechearam os cofres públicos e "vieram em boa hora para o governo".
Morales destaca que houve uma melhora geral no humor dos mercados na segunda quinzena de julho. Lá fora, a redução na curva dos juros americanos, que chegou a precificar uma alta de 100 pontos-base, mas que acabou ficando em 75pb, trouxe um certo ânimo e favoreceu as commodities.
A percepção de que o Fed não seria tão agressivo trouxe alguma tranquilidade aos mercados e fortaleceu moedas dos países emergentes, entre elas o real.
O mercado interno foi nessa esteira, ajudado também pela diminuição das tensões fiscais e a divulgação de balanços corporativos do 2º trimestre, que surpreenderam positivamente por aqui. Tudo isso permitiu que a Bolsa de Valores, a B3, fechasse o mês no azul e com valorização superior a 4,6%.
À medida que as eleições se aproximam, mais os números da corrida para a presidência devem catalisar as atenções e mexer com os mercados. No entanto, os fatores externos vão continuar exercendo forte influência nos ativos, acredita o gestor.