Selic X inflação: Quem ganha em 2022? Debate divide opiniões
Escalada dos preços começou no Brasil antes da guerra na Ucrânia
A elevação da taxa básica de juros, a Selic, instrumento usado pelo Banco Central para combater a inflação, não tem funcionado. Tanto nos dados estatísticos quanto nos preços que o consumidor encontra nas compras.
A taxa básica de juros, a Selic, vem em alta contínua desde março de 2021, e de lá para cá a inflação também só subiu. A Selic passou de 2,00% ao ano, em março de 2021, para 12,75% nesta última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
No mesmo período, a inflação medida pelo IPCA saiu de 0,93%, em março de 2021, para 1,62%, em março de 2022. A inflação acumulada no período passou de 6,1% para 11,3% em 12 meses.
A alta tem sido atribuída à inflação global, sobretudo aos impactos sobre as commodities pela guerra na Ucrânia. Uma aceleração de preços puxada, segundo especialistas, por fatores de oferta, pela desorganização das cadeias de produção e pelos gargalos de logística, principalmente.
O fato é que a alta dos preços domésticos que pressionam o IPCA é um fenômeno anterior à guerra no Leste da Europa. Denis Medina, economista e professor da FAC – SP (Faculdade do Comércio), vê uma combinação de fatores domésticos e externos no processo inflacionário. Com peso maior de componente externo.
“A inflação no momento é mais de oferta, como reflexo da guerra na Ucrânia e do lockdown na China, diante dos surtos de covid-19”
Denis Medina, da FAC-SP
Mas, para ele, a preocupação maior vai além da pressão inflacionária de momento, explica. “O problema que preocupa é a inflação inercial”, um risco que ele atribui ao aumento expressivo dos preços das matérias primas no exterior, com repasse apenas parcial no mercado doméstico.
“As indústrias não conseguiram repassar todo o custo, estão com as margens apertadas e em algum momento vão fazer isso”, acredita.
Para inflação de oferta, Selic é adequada
Nesse cenário em que a inflação espelha mais uma crise de oferta que de demanda, “a Selic está em um nível adequado em relação ao efeito que ela poderia produzir sobre a inflação”, analisa Medina.
“Não adianta levar a Selic muito além de onde está (12,75%), porque vai matar a economia, sem falar do aumento brutal do endividamento público.”
Denis Medina
Rodrigo Leite, professor de finanças e controle gerencial do Coppead/UFRJ, avalia também que “a escalada inflacionária no Brasil começou antes da guerra na Ucrânia” e o aumento da Selic não terá efeito sobre a aceleração de preços domésticos.
Ele afirma que um dos fatores que potencializam a inércia inflacionária no País são os recursos que o governo distribui na forma de programas sociais, como o Auxílio-Brasil.
“Nesse sentido, o aumento da Selic é importante para conter a alta de preços derivada do aumento da demanda de quem é beneficiado por esses programas”, acredita.
Rodrigo Leite, do Coppead/UFRJ
Para professor, a alta da Selic não resolve o problema de escalada dos preços, “mas impede que a inflação avance de forma ainda mais rápida e descontrolada”.
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