Decisão do BC de aumentar a Selic e sinalizar continuidade do ciclo de alta foi acertada, dizem especialistas
Projeções para Selic ainda este ano vão de 13,75% a 14%
O Banco Central acertou em elevar a Selic em 0,5 ponto porcentual e também em sinalizar a continuidade do ciclo de alta na próxima reunião do Comitê de Política Monetária em agosto.
Essa é a percepção de analistas e economistas do mercado financeiro sobre o aumento da taxa para 13,25% e as indicações dos próximos passos da política monetária que vieram no comunicado divulgado logo após a reunião desta quarta-feira, 15.
Tanto o cenário externo como o doméstico trazem muitas incertezas e riscos, e o entendimento do mercado foi o de que o Banco Central não tinha espaço para agir de outra forma.
Selic pode chegar a 14%
Para o economista e analista CNPI, Fábio Louzada, “qualquer alta nos juros americanos impacta as economias do mundo todo, inclusive no Brasil. Não tem como o Brasil decidir pelo fim do aperto monetário se os EUA continuarem subindo forte a taxa de juros".
Ele explica que diante de uma inflação persistente, a forma de conter os preços ainda é manter as taxas de juros altas porque freia a demanda e o consumo. Nesta quarta-feira o Federal Reserve aumentou o juro básico da economia americana em 0,75 pp para uma faixa entre 1,5% e 1,75% ao ano.
“Se a inflação está alta e os juros subindo nos EUA, acredito que no Brasil devemos fechar o ciclo de alta em cerca de 14%”.
Fábio Louzada, economista
Próximos ajustes da Selic podem ser mais pontuais
Idean Alvez, sócio e chefe da mesa de operação de renda variável da Ação Brasil, lembra que aqui o Copom iniciou o processo de aperto monetário muito antes dos EUA. Isso permite que os ajustes a partir de agora sejam pontuais na Selic.
Os próximos ajustes, segundo Alvez, terão de ser calibrados, de modo a conter a inflação de um lado, sem deprimir ainda mais a atividade econômica e sem aumentar o desemprego. O processo precisa ser “soft landing”, com uma aterrisagem suave dos juros.
“É difícil imaginar que o problema da inflação seja resolvido no curto prazo e sem a geração de uma recessão nos próximos semestres.
Idean Alvez, Ação Brasil
Todo o movimento feito pelas autoridades monetárias precisa de clareza na divulgação. “A forma assertiva de comunicação tanto do Copom como do Fed se dá justamente para tentar não gerar pânico nos mercados e também para não aumentar a percepção de risco”, afirma Alvez.
Ele alerta para o fato de que se as decisões não forem bem comunicadas, poderá haver um efeito manada, com a correção de preços dos ativos nos principais mercados.
"Os mercados estão se movendo e, após esse período de alta de juros e evaporação via inflação do dinheiro injetado pelos estímulos monetários, nunca antes vistos, ecom as economias se fechando mais para suas próprias economias (menor globalização), teremos um novo rearranjo dos mercados", prevê Alvez.
Preocupação com o ajuste fiscal
O economista-chefe da WHG, Fernando Fenolio, chama a atenção para o trecho do comunicado do Copom em que os diretores do BC ressaltam a preocupação em relação ao risco fiscal, mais precisamente sobre o subsídio concedido ao preço dos combustíveis.
“Se por um lado o subsídio ajuda a reduzir a inflação no ano corrente, ela pode tornar o desafio de convergência da inflação no horizonte de 2023 mais difícil”
Fernando Fenolio, WHG
E isso pela junção de dois motivos, segundo Fenolio, tanto pela recomposição e redução de imposto como também pela pressão na demanda. Ele esclarece que o subsídio concedido na compra de um bem o torna mais barato e acaba por liberar mais recursos para a compra de outros bens.
“O BC coloca isso como um risco diante da sensação de que a inflação fica mais baixa esse ano, pela redução mecânica do imposto, mas para o próximo ano o efeito pode ser contrário, gerando mais inflação ou dificultando a convergência”, diz o economista da WHG.
A combinação dessa perspectiva na política fiscal com as projeções de inflação do mercado que continuam subindo, estão acima de 4% e cada vez mais distante da meta de 3,25% para 2023, não permitiu que o BC anunciasse o fim do ciclo de aperto na política monetária.
“Nesse ambiente, a decisão foi acertada e prudente”, afirma Fenolio, porque, além disso, o BC sinalizou uma alta de igual magnitude ou menor, de 0,5 ou 0,25 ponto porcentual. A WHG projeta em mais 0,5 basis points com a taxa chegando em 13,75%.
Como ficam os investimentos
No atual cenário de juros altos e perspectiva de novo aumento, para o especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, empresa de tecnologia e educação para investidores, Ricardo Jorge, o título pós-fixado indexado à Selic está entre os investimentos mais indicados.
“Quanto mais a taxa Selic subir, maior a rentabilidade do título. A grande vantagem é a baixíssima volatilidade. Então, dificilmente um investidor terá grandes surpresas como em outros títulos mais arriscados”.
Ricardo Jorge, Quantzed
A remuneração desses papeis corresponde exatamente à Selic corrente com boa liquidez, explica Jorge. É recomendável, principalmente, se o investidor apostar que a taxa Selic vai continuar subindo.
Já em relação aos títulos atrelados ao IPCA, é preciso entender que há a composição mista de uma parte prefixada, o cupom de juros, e a pós-fixada, que é a inflação.
“Se o investidor achar que a inflação continuará subindo, e não acredito que vá subir na mesma velocidade do início do ano para cá, os títulos ligados ao IPCA são boa opção de investimento”, pondera o especialista de renda fixa.
Ele alerta, no entanto, que não convém alongar muito o prazo. Papeis com vencimento em 2040, por exemplo, contam com um prazo muito longo para investimento com marcação de mercado.
"Pode acontecer de o investidor precisar de dinheiro no momento em que o mercado está trabalhando com taxas ruins e contrárias à posição dele, então pode ocorrer prejuízo", esclarece Jorge.
Para diminuir risco, o melhor é trabalhar com prazos mais curtos como até 2026 no máximo. Só se deve ter ativos indexados à inflação se o investidor pensar que a inflação irá subir.
“Eu não acho que a inflação persistente seja o cenário para 2024 a 2026. Existe o processo de aperto monetário em nível global com o Brasil na frente. Esse aperto monetário global vai fazer com que preços dos ativos voltem a arrefecer, então não acredito em inflação persistente. Isso faz com que esses investimentos fiquem mais para o final da minha lista”, afirma Jorge.
A opção pelos prefixados
O momento atual tende a beneficiar mais os prefixados, diz o especialista da Quantzed, porque o BC tende a diminuir mais os juros ao longo do tempo. O prefixado tem muita sensibilidade à marcação da curva de juros.
O investidor deve investir no prefixado se acredita que o cenário está caminhando para um ponto de inflexão no aperto monetário e que o BC irá parar de subir juros, esclarece Jorge. Nesse momento, dado o aperto monetário do BC e de outras economias mundiais, ele acredita que o ciclo de alta está no fim.
Aposta na diversificação
E como muito dificilmente é possível acertar o ponto exato em que o juro vai parar de subir, vale a pena diversificar não só em classe de ativos, como nas entradas, orienta o especialista. "O investidor já pode ir comprando ativos prefixados de pouco em pouco".
Por ordem, ele recomenda: no topo da lista o Tesouro Selic, mais seguro. Em segundo lugar, ativos prefixados com menor participação do portfólio acreditando que o resultado possa ser alavancado com queda de juros a partir do ano que vem e, por último, ativos atrelados ao IPCA.