Com Selic em 13,75%, Brasil seguirá com o juro real mais alto do planeta, acima de 9,60% nos fundos de renda fixa
Perspectiva de juro real ainda mais alto é sustentado pela sinalização de inflação mais baixa em junho, com número até negativo
Dificilmente o Brasil perderá o posto de país com o juro real mais alto do planeta com a manutenção da Selic em 13,75% na reunião do Comitê de Política Monetária nesta quarta-feira, 21, como é a aposta unânime do mercado.
Ao contrário, como a inflação indica estar em queda, a distância para o segundo colocado, no ranking de países de maior juro real, o México, poderá ficar maior ainda.
Com o juro básico da economia em 13,75% e a inflação pelo IPCA em 3,94% nos últimos 12 meses, na base maio, a taxa real no País é de 9,44%. Já no México, o juro é de 11,25%, e a inflação está em 5,84%, com a taxa real de 5,11%.
Mesmo que haja algum corte nesta reunião, o que é considerado bastante improvável, a liderança nesse ranking seguiria por aqui.
Entre as maiores economias do mundo, em apenas 11 países o juro supera a inflação, nos demais ele é negativo. Os dados são do site Clube dos Poupadores.
País | Juros | Inflação | Juro real |
Brasil | 13,75% | 3,94% | 9,44% |
México | 11,25% | 5,84% | 5,11% |
Rússia | 7,50% | 2,5% | 4,88% |
China | 3,55% | 0,2% | 3,34% |
Arábia Saudita | 5,75% | 2,8% | 2,87% |
Índia | 6,50% | 4,25% | 2,16% |
Indonésia | 5,75% | 4,0% | 1,68% |
África do Sul | 8,25% | 6,8% | 1,36% |
Estados Unidos | 5,25% | 4,0% | 1,20% |
Canadá | 4,75% | 4,4% | 0,34% |
Coreia do Sul | 3,50% | 3,3% | 0,19% |
Ganho real
A atual condição continua favorecendo a renda fixa, principalmente porque a inflação deve ser mais baixa em junho, com possibilidade de até de número negativo para o IPCA.
Segundo especialistas, a tendência de forte queda dos preços no atacado, refletidos na deflação anual em abril (-2,17%) e maio (-4,47%) no IGP-M chegaria agora aos preços finais, ao consumidor.
No gráfico abaixo estão os 9 fundos de renda fixa da classe Simples mais rentáveis no período de 1 ano, até o dia 16 de junho. O ganho real proporcionado por eles é vísivel em relação ao IPCA no período, projetado em 3,55%.
A parcela que supera a inflação oferecida por eles fica entre 9,70% e 9,60%. Em nenhum outro país do mundo a renda fixa é tão generosa.
Interessante notar que esse ganho é pago por uma das aplicações mais seguras do mercado. A carteira dos fundos é formada essencialmente por papeis do governo: Tesouro Selic, Tesouro IPCA, Tesouro Prefixado. A garantia vem do próprio Tesouro Nacional.
Mais ainda, os fundos da família Simples, justamente por terem uma composição de carteira que não exige uma gestão mais dinâmica, não cobram taxa de administração e oferecem liquidez imediata, em sua grande maioria.
Futuro da Selic
Na opinião do economista Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, a reunião desta quarta-feira é uma das mais importantes reuniões dos últimos tempos.
“Avaliamos que o desafio da autoridade será na sinalização, ou ausência de, para a condução do juro. Hoje o mercado espera um sinal do BC sobre a possibilidade de afrouxamento monetário e a ausência desta sinalização trará um tom hawkish”, afirma o economista.
Ao mesmo tempo, a pressão política vem aumentando nesses últimos dias para que o Banco Central inicie já a redução da Selic.
Nesta terça-feira, o ministro da Casa Civil, Rui Costa chegou a defender mudanças na legislação de modo a permitir o presidente da República demitir o presidente do Banco Central, segundo a Agência Estado.
Atualmente, a lei de autonomia do BC prevê que o presidente o País encaminhe ao Senado um pedido de exoneração antecipada do presidente da autarquia, mas com o aval do Senado.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem mandato até o fim de 2024. Rui Costa lembrou que o dirigente foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que teve seu projeto político-econômico derrotado nas urnas no ano passado.
Mas o mercado trabalha com a perspectiva de queda dos juros somente no segundo semestre deste ano. Na reunião de agosto (dias 1 e 2) ou de setembro (19 e 20) do Copom.
Aumento do juro real
O ministro ainda reiterou que o Banco Central está, na prática, aumentando os juros reais do país. Desde agosto de 2022, a taxa está em 13,75%, sem alteração para cima ou para baixo nesse período.
Ele explica que como a inflação está em queda, ao manter o mesmo nível da Selic, os juros reais que correspondem à diferença entre a taxa de juro e a inflação, acabam subindo
“A inflação está em queda. A taxa real é descontar a inflação. Se era e está em 5%, o BC, ao manter a taxa nominal, aumentou a taxa real de juros”, disse ele.
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