Recondução de Powell ao Fed lá fora e situação fiscal no Brasil favorecem alta do dólar
Algumas condições como relação entre exportações e importações e juros em alta podem segurar escalada da moeda
A situação fiscal do Brasil continua gerando muita apreensão aos investidores. A PEC dos precatórios foi aprovada na Câmara, fato que tirou um pouco de pressão no câmbio, que caiu de R$ 5,75 para R$ 5,40 em quase 3 semanas. O Dollar Index segue forte e subindo e o dólar/real caiu um pouco, como pode ser observado no gráfico abaixo que mostra as cotações de fechamento semanal destas duas moedas (atualizado até 22/11/21).
Fonte: Wagner Investimentos.
Motor externo: o DXY está em tendência de alta de médio prazo e de longo prazo e ganhou muita força nas últimas semanas basicamente por cinco motivos:
- Dados econômicos acima do esperado nos Estados Unidos e mais fracos na Europa e na China;
- Início do processo de redução de compra de ativos pelo Fed (tapering);
- Avanço da Covid na Europa, que adota novas medidas de distanciamento social, inclusive lockdowns;
- Inflação persistente e alta nos Estados Unidos. A Europa está adotando novas medidas de restrição devido a Covid e isso deve piorar ainda mais os gargalos de suprimentos na cadeia produtiva global;
- Joe Biden fez o esperado e reconduziu Jerome Powell para a presidência do Fed. Porém, parte do mercado apostava que Lael Brainard, que assumirá a vice-presidência, pudesse ser a escolhida. Powell e Brainard são “dove” (“pomba”) e, traduzindo o economês, favoráveis a juros baixos, mas, Brainard é mais “dove” do que Powell, ou seja, mais adepta a juros baixos.
Motor interno: A PEC dos precatórios foi aprovada na Câmara e está no Senado com expectativa de ser aprovada no início de dezembro, porém há risco de “fatiamento” do texto em meio as negociações políticas. Assim, o mercado não sabe como ficará o texto final, gerando dúvidas. Além disso, há duas más notícias:
- Congresso deve incluir cláusula de reajuste automático anual para o Auxílio Brasil e para a tabela do Imposto de Renda, aumentando a indexação, algo muito negativo para as expectativas de inflação;
- O Ministério da Economia reviu o valor que a PEC dos precatórios abre no Orçamento e aumento de R$ 91 bilhões para R$ 106 bilhões, valor 15% acima do divulgado até a semana passada.
Em resumo: os dois motores estão ligados para favorecer o dólar a subir!
Próximos eventos relevantes:
- 01 de dezembro – PMI Manufacturing (EUA, Europa e China)
- 02 de dezembro – PIB 3º trimestre (Brasil)
- 03 de dezembro – Payroll (EUA). PMI Serviços (EUA e Europa)
- 08 de dezembro – Reunião do Copom
- 10 de dezembro – IPCA (Brasil) e CPI (EUA)
- 15 de dezembro – Reunião do Fed (comunicado, conferência de imprensa e novas projeções)
Caminhos para o dólar/real:
Acreditamos que o Dollar Index seguirá em tendência de alta, fato que sugere que o dólar/real seguirá em tendência de alta. É muito difícil estimar até que patamar o dólar/real subirá ou se fez máxima. Há muitos fatores em questão e destaco os que precisam ser acompanhados para compreender melhor a dinâmica do dólar no Brasil:
- Eleições: falta mais ou menos um ano para conhecermos o futuro Presidente. Se os principais candidatos (supondo Bolsonaro, Lula, Moro e Leite / Dória) seguirem uma linha de ajuste fiscal, essas eleições podem não ser tão dramáticas como as de 2014 e 2018. Vamos aguardar a composição das chapas! É importante destacar que a única análise que interessa nesta coluna é a econômica;
- Termos de troca: o Banco Central publicou uma apresentação de Roberto Campos Neto de 19 de outubro e há um gráfico muito interessante sobre termos de troca:
Resumidamente, “termos de troca” é uma média ponderada. É a relação entre os preços de exportações e os preços das importações ponderados pelo peso de cada item na composição da balança comercial. Quanto mais alta a relação significa que com as mesmas exportações é possível importar mais. Essa melhora no Brasil se deve à explosão dos preços das commodities.
Observe que no Brasil e nos outros países destacados há uma diferença muito grande entre a taxa de câmbio e os termos de troca. Assim, esse fundamento até o momento não tem funcionado, mas no longo prazo há uma convergência! Em resumo, o dólar deveria cair;
- Taxa Selic. Há um ano era possível comprar dólares com custo mensal de R$ 0,01 e hoje esse custo está em torno de R$ 0,05, fato que dificulta apostar em dólar muito alto a partir de um nível elevado, como R$ 5,60. Além disso, observando o relatório Focus, o mercado projeta Selic em dois dígitos em 2022 e IPCA abaixo de 5%, fato que deixa o juro real (acima da inflação) acima de 5%, muito elevado em termos globais.
Concluindo: termos de troca muito favoráveis para o Brasil, taxa Selic em dois dígitos e com juro real alto e cenário eleitoral eventualmente mais favorável seriam fatores internos (motor interno) que podem limitar a alta do dólar ou até mesmo provocar uma queda do dólar. Lembre-se sempre de analisar o “motor externo” e o “motor interno” conjuntamente!
Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!
Abraços,
José Faria Júnior
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