Real foi a moeda que mais se valorizou no ano passado; quais as perspectivas para o câmbio em 2023?
Alta dos juros favoreceu a valorização do real com a entrada de investimentos estrangeiros no País
O real foi a moeda que mais se valorizou em 2022. Levantamento da Bloomberg aponta que, incluindo os juros, a moeda brasileira sustentou uma valorização de 19,40% no ano passado.
Para sustentar a liderança no ranking, o real deixou para trás o peso mexicano e até mesmo o dólar americano, que ganhou um empurrão do FED, após altas consecutivas da taxa de juros.
A dúvida sobre a moeda brasileira é se, com o novo governo, o real manterá o mesmo vigor em 2023.
O suporte dos juros altos
No ano, a moeda nacional ficou à frente até do peso mexicano, a segunda com maior valorização no período, com 15,61%. Ambas foram destaque em valorização porque Brasil e México elevaram bastante a taxa de juros, avalia o analista José Raymundo Júnior.
E o Brasil levou vantagem na atração de capital porque saiu na frente ao fazer primeiro a lição de casa. “O Brasil começou a subir os juros bem antes dos demais países e colheu os frutos disso”, avalia Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos.
Moeda/País | Paridade | Variação |
Peso/México | 0,051887 | +6,37% |
Real/Brasil | 0,183568 | +4,31% |
Rublo/Rússia | 0,013790 | +2,61% |
Dólar/Singapura | 0,746701 | +1,05% |
Rial/Arábia Saudita | 0,265999 | -0,13% |
Dólar/Hong Kong | 0,127898 | -0,27% |
Franco/Suíça | 1,078050 | -0,98% |
Coroa/Rep. Tcheca | 0,044105 | -3,14% |
Dólar/Austrália | 0,686887 | -4,55% |
Kuna/Croácia | 0,141842 | -5,60% |
Dólar/Canadá | 0,738364 | -5,84% |
Coroa/Dinamarca | 0,142650 | -6,11% |
Euro | 1,060952 | -6,12% |
Dólar/Nova Zelândia | 0,631866 | -6,93% |
Yuan/China | 0,145172 | -7,51% |
Rúpia/Índia | 0,012075 | -10,16% |
Libra Esterlina/Reino Unido | 1,205415 | -10,59% |
Ien/Japão | 0,007649 | -11,78% |
Coroa/Noruega | 0,098950 | -12,20% |
Florim/Hungria | 0,002672 | -13,19% |
Lira/Turquia | 0,053350 | -30,15% |
Peso/Argentina | 0,005604 | -37,40% |
Juros altos foram o atrativo que seduziu capitais para investimento nesses países. Sem incluir os juros, em ganho nominal, a moeda mexicana fica à frente do real, com 6,37%, comparado com 4,31% da moeda brasileira.
O real subiu cerca de 5%, sem considerar os juros, diz Raymundo Júnior. Com a adição da taxa de juros, segundo o levantamento da Bloomberg, chega-se a uma valorização perto de 19%, comenta.
O analista afirma, ainda assim, que “a única coisa que tem feito o real a ter um desempenho razoavelmente bom, em que pese estar bastante desvalorizado, é a queda do Dólar Index.
Esse índice americano, que mede a força do dólar na comparação com o desempenho de uma cesta de moedas, recua 10% em sua relação à máxima, em fins de setembro de 2022, quando chegou a bater 114,8 pontos.
Na comparação do dólar real contra o Dólar Index, isso equivale a uma relação de queda de 10% da cesta de moedas e a uma relativa estabilidade do dólar real, sem considerar a taxa de juros.
Dólar caro?
E qual seria a cotação do dólar em reais pelo valor do Dólar Index no fim de setembro com a taxa de juros de 13,75%, a mesma de hoje? Seria R$ 5,55?, questiona Raymundo Júnior.
Em um cenário recente de certa estabilidade do real e de queda de 10% do Index no período, em uma correlação perfeita o dólar deveria estar abaixo de R$ 5, calcula. “Ou seja, o dólar está bastante caro hoje.”
O analista aponta pelo menos três fatores que estariam sugerindo que o dólar não tem espaço para uma alta forte no Brasil. Um deles é que o juro real (Selic menos a inflação prevista) está em quase dois dígitos, calcula.
Joga em favor da moeda brasileira também os juros dos Fed funds, as taxas de curto prazo americanas, que descontada a inflação (CPI) estão quase em torno de 10% abaixo, “o que também é favorável ao real contra a moeda americana”.
Ademais, segundo Raymundo Júnior, o que sugere que o dólar próximo de R$ 5,50 está muito caro no Brasil é a queda de 10% do dólar Index desde outubro até os primeiros dias de janeiro.
É certo que o juro alto oferece uma espécie de blindagem para a moeda nacional, mas essa defesa tem um limite, de acordo com o analista. “Existe um nível máximo de desaforo que a moeda aguenta”, referindo-se a possíveis estripulias econômicas que o novo governo venha a cometer.
Por enquanto, “o atual patamar em torno de R$ 5,50 deve ser respeitado e o dólar à vista pode até voltar para o nível de R$ 5,20”, acredita. “O relatório Focus, que não é a melhor medida, coloca o dólar a R$ 5,26 no fim deste ano e a R$ 5,27 no fim de 2024”, comenta. “Com juros tão altos, isso pode sugerir também que o dólar deve cair”.
O analista diz esperar uma queda adiante do dólar, embora o intervalo de R$ 5,00 com R$ 5,50 deva ser mantido por ora, e que uma cotação de R$ 5,40/R$ 5,50 seria boa hora para quem precisa vender. “Ainda que com o risco de que o dólar continue subindo, mas aparentemente já está em seu topo”.
Raymundo Júnior, alerta, no entanto, que se persistirem as notícias negativas no cenário doméstico, “muitas não seriam exequíveis, como a revisão da reforma da Previdência, pode ser que o dólar rompa, pelo menos momentaneamente, R$ 5,50”.
Comprar ou vender dólar?
Ele ressalta, contudo, que esse não é o cenário principal nem sugere que é momento de comprar dólar. “Acho que faz mais sentido a venda. Até mesmo para aproveitar o carrego para o investidor que comprou dólar perto de R$ 5,15/R$ 5,20 em dezembro”.
Para o analista, passando algumas dúvidas de política econômica e os dados de inflação americana vindo melhores, com perspectiva de alta menor de juros nos Estados Unidos, o dólar poderia voltar ao patamar mais baixo, em torno de R$ 5,20.
Para Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos, “é difícil falar em comprar ou vender, porque o dólar tem oscilado muito, beirando a casa de R$ 5,15 a R$ 5,60, muito por conta do novo governo”.
Ele acredita, porém, que, “enquanto não houver uma ação mais concreta que seja vista como pouco mais populista, sob o viés do mercado, não deve haver um rompimento muito grande dessa barreira de R$ 5,50”.
É um nível de preço que atrai o exportador, “que despeja uma quantidade muito grande de dólares no mercado”, e a mesma coisa acontece quando vem abaixo, “quando ocorre muito movimento de saída de capital”.