Outubro será um mês difícil, Vale e Itaú estão entre as ações mais recomendadas por 6 casas para proteção
Em períodos de incertezas e volatilidade indicação recai sobre ações defensivas
Setembro foi um mês conturbado para a Bolsa de Valores. No período, o Ibovespa despencou 6,57%, enquanto o dólar disparou 5,88% e fechou o mês cotado a R$ 5,45. Outubro, ao que tudo indica, não será diferente com incertezas econômicas em todas as frentes, local e global. Por isso, as casas de investimento adotaram uma postura mais defensiva em suas carteiras para atravessar o mês. Os destaques ficam por conta das ações dos setores financeiro, de utilities e de commodities. Mas entre eles, os papeis de Vale e Itaú contam com brilho especial.
Com vários focos de tensão em nível local e internacional, os investidores passaram a ter uma postura de cautela e maior aversão ao risco. Movimento que prejudica o mercado de renda variável, principalmente nos países emergentes.
De acordo com análise desenvolvida por Filipe Villegas, analista CNPI e estrategista da Genial Investimentos, o mercado está de olho na probabilidade de estagflação global, o que tem aumentado a preocupação dos investidores. "Esse tipo de cenário é complexo, pois poucos ativos se salvam", afirma ele.
Como parte de uma estratégia defensiva para o portfólio, tentando minimizar as perdas do atual momento do mercado, as casas de investimento atualizaram suas recomendações aumentando a exposição às ações defensivas. Esses papéis são emitidos por empresas menos vulneráveis a turbulências, por serem consolidadas em seus setores, com uma geração de caixa forte e previsível mesmo nos momentos mais sensíveis, de crise econômica.
Setor financeiro
O setor financeiro exerce um forte influência na B3: só os principais bancos, os"bancões" como são chamados, correspondem a cerca de 17% do Índice Bovespa. Portanto, é natural que a composição das carteiras recomendadas compreenda pelo menos uma parte do setor. O que se notou, no entanto, é que existe uma exposição maior a esses papéis nas recomendações de outubro.
Das seis casas de investimento consultadas pela Mais Retorno, todas indicaram ações de bancos ou empresas de seguros para os portfólios.
O analista da Genial destaca que o setor poderia se beneficiar de uma Selic mais alta no curto prazo, ao mesmo tempo em que a percepção de risco a longo prazo poderia diminuir. "Além disso, se realmente estivermos entrando em um novo ciclo econômico global, o mercado poderá buscar alocações mais amplas no setor financeiro (IFNC) e no consumo básico (ICON)", explica Villegas.
A corretora de valores inclui as ações do Santander e da Porto Seguros em seu portfólio, além de manter a exposição aos papéis do Itaú Unibanco.
Em relatório, o BTG Pactual ressalta que, além de ser um setor defensivo, as ações de bancos sofreram uma queda em setembro e agora estão sendo negociadas a "valuations muito atraentes". A instituição optou por adicionar o Bradesco a sua carteira afirmando que "os grandes bancos brasileiros costumam navegar por cenários de alta inflação/taxa de juros com muita habilidade".
O Banco Safra, que conta com uma forte exposição ao setor, optou pela manutenção das ações do BTG Pactual e do BB Seguridade em seu portfólio. No entanto, em outubro o banco substituiu os papéis do Itaú Unibanco pelo Itaúsa, explicando que essa "é uma exposição mais barata ao banco (Itaú)", além de considerarem que a reforma tributária deve contribuir para o fechamento do desconto de holding de Itaúsa.
Já a XP Investimentos adicionou as ações do Banco do Brasil a sua carteira, numa estratégia de mover o portfólio para posições mais defensivas. O banco entrou no lugar dos papéis da B3, explicando que a ação vem sendo negociada a múltiplos baixos e o portfólio da instituição é mais defensivo que o dos bancos privados.
"Numa visão de um portfólio mais defensivo, o Banco do Brasil se mostra como uma ação atrativa dado o seu grande potencial de pagamento de dividendos nos próximos anos e sua carteira de crédito protegida com participação relevante de empréstimos consignados para funcionários públicos e empréstimos para o agronegócio", afirma a XP em relatório.
Na mesma esteira, as corretoras CM Capital e Modalmais permanecem com posições no setor financeiro em suas carteiras, ambas com as ações do Itaú Unibanco.
Utilities
Outro setor bastante procurado em períodos de crise é o de utilities, considerado pelo mercado como mais estável e perene, por se tratar de bens e serviços tidos como essenciais (água, eletricidade e gás). Ou seja, independente de crises, a demanda sempre vai existir, garantindo a geração de caixa das empresas.
Esse é o caso das empresas de energia elétrica que, mesmo com a crise hídrica que atinge o País e as perspectivas de crise energética global, ainda possuem uma receita estável por conta dos contratos de longo prazo que mantêm com os governos.
A XP optou por incluir a São Martinho, empresa do setor sucroenergético e retirar a varejista Lojas Americanas de seu portfólio, que está sendo bastante impactada na Bolsa por concorrência e alta da inflação e juros no Brasil.
A corretora destaca que, embora a produção de açúcar já tenha preços travados via hedge, o atual momento do etanol é positivo para as margens. Além disso, a companhia destaca que as vendas de energia elétrica provenientes da queima do bagaço (cogeração), embora por padrão negociada em contratos de longo prazo, é outra variável positiva para a São Martinho.
O BTG Pactual também aumentou sua exposição ao setor de energia, adicionando a PetroRio e a Raízen, produtora de energia e distribuidora de combustível.
"Embora ambas as empresas se beneficiem dos preços mais elevados do petróleo globalmente, a PetroRio vem expandindo seu portfólio de petróleo e gás e acreditamos que a empresa está bem posicionada para licitar os campos relativamente grandes de Albacora e Albacora Leste, o que poderia dobrar a capacidade de produção da empresa no curto prazo", afirma o BTG.
Já no caso da Raízen, a instituição financeira afirma que vê a empresa explorando sua capacidade de originação de biomassa para entregar alternativas renováveis que vão do etanol celulósico, biogás, pelotas e outros subprodutos de seus campos de cana-de-açúcar. "O preço atual das ações mal reflete o portfólio atual da empresa, deixando a maioria dos novos projetos como um potencial de valorização para os investidores", consideram os analistas.
A Genial também manteve em seu portfólio as ações da PetroRio. Enquanto isso, Modalmais e CM Capital optaram por se expor ao setor de energia por meio dos papéis da EDP Brasil e Equatorial, respectivamente.
Minério de ferro
Entre os papéis do setor de commodities, o de maior brilho é o da Vale, que está presente entre as recomendações de quatro das seis casas de investimento. No entanto, observa-se uma tendência observada, na composição das carteiras em outubro, de redução ou exclusão da exposição à companhia.
Enquanto o BTG excluiu a Vale para abrir espaço para outras ações, o Banco Safra reduziu em quatro pontos percentuais, para 9%, o peso da mineradora em sua carteira. De acordo com o Safra, a queda recente dos preços do minério de ferro e o aumento das incertezas sobre o nível de crescimento da China podem limitar o desempenho do papel no curto prazo.
"Seguimos, porém, com a visão de que a empresa deve continuar a gerar um bom fluxo de caixa e manter níveis atrativos de remuneração aos acionistas. Adicionalmente, o prêmio de qualidade para o minério tende a se manter próximo do nível atual, devido à busca por maior eficiência e elevados padrões ambientais das siderúrgicas chinesas", afirma o Safra sobre a Vale.
A XP segue com a mineradora em sua carteira e, apesar do momento de desvalorização, continuam otimistas com a companhia devido à forte geração de caixa, mesmo considerando os preços atuais do minério. A CM Capital e a Modalmais também continuam com a Vale em seus portfólios.
Ainda sobre as empresas ligadas ao minério de ferro, o BTG Pactual optou pela manutenção da Gerdau, explicando que a empresa apresenta "forte crescimento de receita, baixa alavancagem, geração de fluxo de caixa e atuação temática (imobiliária)".
Simultaneamente, o banco considera que, apesar das medidas restritivas na China, a demanda por aço - feito através do minério de ferro - deve seguir num patamar sustentado no curto e médio prazo, pelo menos, beneficiando a Gerdau.
Outra siderúrgica a aparecer entre as recomendações de outubro é a Usiminas, presente na carteira da CM Capital, que acredita que a companhia seguirá num movimento de busca pela recuperação após dois meses de queda.
Outras commodities
No setor de papel e celulose, a XP manteve por mais um mês as ações da Klabin em sua carteira. A corretora afirma que acredita que os papéis para embalagens e papelão ondulado continuarão a se beneficiar do bom momento do setor, potencializado pela redução dos preços de aparas, com a normalização da cadeia.
Já a Modalmais optou pelas ações da Suzano, líder do setor de papel e celulose, com boas perspectivas futuras de crescimento e agenda ESG.
O BTG Pactual aumentou sua exposição às commodities agrícolas adicionando os papéis da SLC. Os analistas do banco justificam a decisão afirmando que os preços das commodities leves continuam subindo, em um momento em que o real continua enfraquecido frente ao dólar. Operadores do mercado explicam que as empresas exportadoras de commodities são uma boa opção para proteger o patrimônio em momentos de alta na inflação e na taxa de câmbio.
Na mesma direção, a CM Capital acrescentou ao seu portfólio as ações da empresa Brasil Agro. Segundo o relatório da companhia, o ativo volta a ter um mês positivo e mira a renovação do topo histórico marcado em maio de 2021, quando chegou a ser negociado a R$ 36,50.
Por fim, o Banco Safra manteve sua posição em Petrobras. "Acreditamos que a ação da empresa deva se beneficiar da continuidade do processo de redução do endividamento e a consequente adoção da nova política de dividendos, além do foco nos ativos com maiores retornos", afirma a instituição em relatório.
O principal ponto de atenção, explica o banco, segue sendo a possibilidade de interferência na política de preços da Petrobras. "Contudo, esse risco pode ser mitigado caso avancem as discussões sobre a criação de um mecanismo para a estabilização de preços dos combustíveis baseado em recursos orçamentários do governo", finaliza o Safra.