Quem são os principais oligarcas russos, alvos de sanções
Oligarcas estão intimamente ligados com a economia na Rússia, fazendo com que sanções ultrapassem as fronteiras do país
Enquanto a guerra entre Rússia e Ucrânia não esfria, sem possibilidades imediatas de saídas diplomáticas, o mundo busca outras soluções, como as sanções econômicas contra o país controlado por Vladimir Putin. Começou afetando importações e bancos, mas agora atinge uma das maiores forças (e particularidades) dessa economia: os oligarcas.
Ainda que o termo esteja ligado com as raízes da Rússia, a expressão contemporânea "oligarcas" fala sobre um tipo bem específico de indivíduo que faz parte de um grupo extremamente rico e com negócios diretos com o governo.
Não é à toa, então, o termo "oligarquia". Diferente da democracia (povo) ou a monarquia (rei), quem comanda em uma oligarquia é esse grupo pequeno e exclusivo de oligarcas. Ainda que hoje não sejam eles os comandantes diretos, ainda possuem muita influência no governo russo – e na forma que Putin conduz suas decisões, gestos e atitudes.
"Se você ver uma pessoa muita rica nos Estados Unidos ou no Brasil, por exemplo, geralmente são especuladores, herdeiros ou donos de negócios muito bem-sucedidos", explica Alexandre Saião, pesquisador pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "Na Rússia, não. São pessoas que nascem muito ricas e realmente são donas de um negócio, mas nada veio do suor deles. Os oligarcas, na verdade, sequestram negócios do Estado".
Quem são eles?
Confira, abaixo, detalhes sobre os oligarcas russos, alvos das sanções promovidas por Estados Unidos e Europa.
Roman Abramovich
Talvez o oligarca russo de maior evidência hoje em dia seja Roman Abramovich, bilionário dono do Chelsea Football Club. Apoiador de primeira hora de Vladimir Putin, ele já está mostrando preocupação com uma possível sanção.
Apenas dois dias após a invasão da Ucrânia, o oligarca, com patrimônio de US$ 13,3 bilhões, anunciou que estava entregando a administração do Chelsea FC à fundação de caridade do clube, ainda que continue sendo dono.
Na última quarta-feira, 2, foi além: sinalizou que estava interessado em vender o Chelsea o quanto antes. Com isso, já surgiram interessados e notícias indicam que o magnata suíço Hansjoerg Wyss está em negociações avançadas.
De acordo com a imprensa britânica, o governo do Reino Unido está com receio de aplicar sanções em Abramovich por conta do bom trânsito do oligarca no governo russo, facilitando alguns acessos de políticos ingleses.
Alexei Mordashov
O homem mais rico da Rússia, e o 51º mais rico do mundo, também está passando por sanções. Ele tem investimentos na agência de viagens Tui, a maior da Europa e no Banco Rossiya, além de ter alguns negócios em órgãos de comunicação social. Além disso, também é o acionista principal da maior siderúrgica e mineradora da Rússia, a Severstal que exporta para mais de 50 países, além de presidir a Severgroup, uma empresa de investimentos privados.
Na sanção contra Mordashov, a União Europeia afirma que os negócios de comunicação social de Mordashov ajudaram a desestabilizar a Ucrânia e a promover, em redes sociais e meios de notícias, um olhar positivo da invasão.
Boris Rotenberg e Igor Rotenberg
Apesar de Roman Abramovich ser o mais célebre dos oligarcas, não é o mais importante – esse posto, na verdade, recai em Boris e Igor Rotenberg. Boris é um dos proprietário da maior empresa de construção de gasodutos na Rússia, o SMP Group, além de ter negócios e influência direta na Gazprom, outra grande empresa de energia na Rússia.
Igor, enquanto isso, é sobrinho de Boris e igualmente importante na oligarquia russa – além de também controlar a Gazprom, ele também é dono de empresas de transportes. Os dois acabaram de receber sanções do Reino Unido.
Vale dizer que Boris cresceu em importância pelo laço próximo com Putin: os dois treinaram judô juntos durante a infância e, mais recentemente, Boris e Igor receberam bilhões de dólares do governo por conta de um contrato da Gazprom.
Alexander e Evgeny Lebedev
Outro oligarca extremamente influente no governo russo é Alexander Lebedev. Ele é ex-funcionário e banqueiro da KGB, enquanto o filho, atualmente, é dono dos jornais Evening Standard e The Independent. Aqui, porém, há um enrosco em possíveis sanções: Alexander e Evgeny são extremamente próximos do primeiro-ministro britânico, sendo responsáveis por algumas festas bombásticas que contaram com a presença ilustre (e criticada) de Boris Johnson.
Com isso, acredita-se que haja um receio em aplicar sanções em Alexander e Evgeny, que poderiam retaliar divulgando informações sensíveis de Johnson e do governo – o que poderia causar uma dor de cabeça diplomática ainda maior.
No entanto, uma vez acalmados um pouco os ânimos e caminhando contra uma possível sanção de pai e filho, o Evening Standard publicou uma declaração na primeira página: "Presidente Putin, por favor, pare com esta guerra. Como cidadão russo, imploro que impeça os russos de matar os seus irmãos e irmãs ucranianos. Como cidadão britânico, peço que salve a Europa da guerra", escreveu Lebedev, que tem cidadania britânica e comendas concedidas por Boris.
Kirill Shamalov
Com apenas 39 anos, Kirill Shamalov é o bilionário mais jovem da Rússia. Além de ter estudado direito na Universidade Estadual de São Petersburgo, o jovem oligarca também foi casado com a filha de Putin, Katarina – resultando, depois, em um salto em sua vida profissional, levando-o diretamente à vice-presidência da empresa Sibur, de petróleo.
Por conta das novas sanções, Shamalov teve seus bens congelados e está proibido de viajar para o Reino Unido.
Denis Bortnikov
Vice-presidente do segundo maior banco da Rússia, o VTB, Denis Bortnikov também foi alvo de sanções e teve seus ativos congelados nos EUA, Reino Unido e União Europeia. Muito próximo do presidente, é considerado uma figura-chave no governo de Putin – muito por conta de seu pai, Aleksandr Bortnikov, diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB).
Vladimir Potanin
Com impressionantes US$ 27 bilhões de patrimônio, Vladimir Potanin é o segundo homem mais rico do mundo – ainda que altere bastante entre ele e Mordashov, lembrando o que acontece nos Estados Unidos com Bill Gates e Jeff Bezos. Potanin é dono da Norilsk Nickel, maior mineradora de níquel do mundo. Vale lembrar que essa compra aconteceu no fim da URSS, quando Boris Iéltsin privatizou o que restava do Estado a preço de banana aos oligarcas.
Gennadi Timchenko
Sexto oligarca mais rico da Rússia, Gennadi Timchenko controla empresas nas áreas de energia, transporte e construção, além de ser dono da empresa de investimentos privados Volga Group. Ainda tem ações, e voz de decisão, na empresa de gás Novatek, na produtora petroquímica Sibur Holding e no banco russo Rossiya.
Com isso, ele já acumula uma fortuna de US$ 17 bilhões, de acordo com a revista Forbes, e já está na lista de punidos pelo governo do Reino Unido – além de carregar uma sanção dos Estados Unidos desde 2014.
Sergei Ivanov
Oligarca com relação bem próxima com Putin, que nasceu na época em que serviram a KGB. Aqui, a influência de Sergei já passou para seu filho, que é executivo-chefe da empresa estatal russa de mineração Alrosa e membro do conselho do Gazprombank. Uma possível sanção para pai e filho poderia paralisar os negócios de toda a família.
Petr Fradkov
Continuando no mundo dos bancos está Petr Fradkov, chefe do banco Promsvyazbank. Seu poder, porém, vai muito além de sua própria história, já que é filho de Mikhail Fradkov, ex-primeiro-ministro da Rússia e ex-diretor do Serviço de Inteligência Estrangeira (SVR). Agora, porém, sancirecebe sanções do governo britânico e dos Estados Unidos.
Efeitos contra os oligarcas
Por fim, fica a dúvida: o que as sanções contra os oligarcas russos podem causar na economia? Primeiramente, o efeito é interno: com esses oligarcas punidos e sem conseguir trabalhar fora da Rússia, essas empresas essenciais para o andamento da economia russa ficam estagnadas. "Como esses oligarcas 'sequestraram' os bens estatais e controlam com mão de ferro, é como se o país como um todo estivesse sancionado. É o calcanhar de Aquiles", diz Saião.
Depois disso, porém, outros efeitos podem atingir países que dependem dessas empresas. É o caso da Europa, totalmente dependente do gás produzido na Rússia para aquecer as casas no inverno – sanções contra Gennadi Timchenko, por exemplo, podem causar influência direta na distribuição de gás ao redor de todo o continente.
O Brasil também não passa incólume: já há preocupação com insumos agrícolas e combustíveis, que podem fazer o preço disparar em várias áreas, fazendo com que a inflação volte a crescer. "No final das contas, aquele homem do campo no interior de Goiás nem sabe, mas também é dependente de um oligarca russo sentado em cima da riqueza de um país. Agora, com a guerra, essa globalização será sentida de maneira ainda mais conturbada", finaliza Saião.