O que esperar da Bolsa nesta quinta, um dia após o Ibovespa cair ao menor nível do ano?
Ações estão baratas e podem atrair investidores para giro rápido
O mercado financeiro pode ensaiar uma recuperação nesta quinta-feira, após uma sucessão de quedas, principalmente na bolsa de valores, segundo especialistas.
Uma possível reação não seria uma reversão de tendência, mas uma correção de preços, que ficaram atraentes e podem atrair investidores que buscam lucros com operações rápidas de compra e venda de ações.
A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou o pregão de ontem com baixa de 1,39%, a terceira consecutiva, em que coleciona uma desvalorização de 4,32%. O dólar seguiu direção contrária. Subiu mais 0,45%, a terceira alta seguida, para R$ 5,52, e acumula em três dias uma valorização de 2,22%.
A apatia da bolsa de valores e o fôlego do dólar refletem, como um termômetro, o mal-estar de investidores e gestores com o cenário de incertezas político-econômicas, que se deterioram a cada dia.
O pano de fundo das preocupações do mercado é com a questão fiscal, o temor de descontrole nas contas do governo, com as idas e vindas das negociações no Senado para a votação da PEC dos Precatórios, já aprovada em dois turnos na Câmara.
Risco fiscal castiga a Bolsa
A PEC propõe o pagamento parcelado dos precatórios, uma fórmula para adiar a quitação de parte das dívidas judiciais do governo que abre espaço fiscal para custear o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, com valor mais alto. Um drible que não evita a suspeita de furo do teto de gastos, o que levou um grupo de senadores a apresentar uma emenda à PEC que propõe que os gastos com precatórios fiquem fora do teto em 2022.
Após essa proposta feita pelos senadores, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a ideia é uma "grande erro". Segundo Guedes, a proposta colocaria em risco a arquitetura fiscal, por os precatórios serem uma despesa "incontrolável", tendo como consequência provável a elevação dos prêmios de risco cobrados por investidores para financiar a dívida pública.
"Alguns senadores falam em tirar os precatórios do teto. É um grande erro por deixar as ordens judiciais como gastos incontroláveis. Os prêmios de risco subirão", afirmou o ministro da Economia. "Estou preocupado que não conseguiremos crescer se ameaçarmos a arquitetura fiscal. Mas ainda tenho esperança que vão aprovar as propostas originais da PEC", completou.
A incerteza com o cenário fiscal, diante da indefinição da PEC dos Precatórios, piora as expectativas de investidores e gestores de mercado com a inflação, juros, atividade econômica e tudo o mais, tanto para este ano como pra o próximo.
Os dados estimados para esses indicadores contidos no último boletim Focus e as revisões das estimativas econômicas – apontando avanço da inflação e recuo de expansão do PIB - pelo Ministério da Economia contribuíram para azedar o humor dos mercados.
A Bolsa de Valores de São Paulo não caiu sozinha nesta quarta-feira. O mercado de ações em Nova York também teve um dia negativo. O índice Dow Jones recuou 0,58%, para 35.931 pontos; o S&P 500 caiu 0,26%, para 4.688 pontos, e o Nasdaq teve baixa de 0,33%, para 15.921 pontos.
Cenário político: ano eleitoral
O ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu, na véspera, que o Brasil tem um histórico de interferências regulatórias e em preços em anos eleitorais. Ele afirmou que há pressões políticas sobre o presidente Jair Bolsonaro, mas ponderou que a equipe econômica defende que os mercados se ajustem à alta de preços. Cabe ao governo, disse, resolver as disfunções criadas por meio de programas de transferência de renda.
"Se preços de petróleo e energia sobem, é parte da solução porque atrai investimento. (...) A melhor solução é deixar o mercado agir e, qualquer disfunção, resolve com transferência de renda", disse, durante evento organizado pelo Bradesco BBI.
O ministro disse que prefere trabalhar com "instrumentos melhores" para combater os efeitos da inflação e defendeu novamente um fundo com recursos de privatização para financiar programas sociais.
Guedes citou movimentos anteriores de interferência no câmbio, nas políticas do Banco Central e nos preços e citou casos nos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Dilma Rousseff. Ele afirmou que há pressões atualmente e que há uma preocupação com o tema. "É uma luta em curso", resumiu.
Ainda no campo das preocupações do governo com o ano eleitoral, um novo capítulo na história de Bolsonaro com o PL, partido ao qual o presidentes deve se unir para lançar sua candidatura à reeleição ao cargo de presidente da República. O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, informou ter recebido "carta branca" dos diretórios estaduais, nesta quarta-feira, 17, para mexer em alianças regionais e facilitar a filiação de Bolsonaro ao partido.
Um dos principais pontos de divergência entre a cúpula do PL e Bolsonaro é justamente São Paulo, o maior colégio eleitoral do País. Foi por causa da aliança do PL com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e também pela disposição do partido em apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Estados do Nordeste que Bolsonaro decidiu adiar a filiação à sigla comandada por Costa Neto.
O PL compõe a base aliada que dá sustentação a Doria na Assembleia Legislativa e tem cargos importantes na área de infraestrutura. Integrante do Centrão, o partido tem compromisso de apoiar o vice-governador Rodrigo Garcia, pré-candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes, mas Bolsonaro quer lançar para essa cadeira, em 2022, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
Em reunião realizada nesta quarta-feira, 17, com dirigentes dos diretórios estaduais e parlamentares, Costa Neto comunicou que a configuração dos palanques nos Estados sofrerá mudanças. Segundo o senador Wellington Fagundes (MT), o presidente do PL disse que o apoio ao PSDB paulista "pode ser revisto de acordo com as condições de agora".
Mesmo assim, ainda não há definição sobre quais arranjos estaduais serão mudados. "O partido definiu, homologou e entregou carta branca ao presidente Valdemar para que, em nome do diretório nacional, junto com os membros do diretório, possa ver caso a caso", disse Fagundes.
Lá fora
Os mercados acionários da Ásia tiveram pregão em geral negativo, nesta quinta-feira. No mercado chinês, ações de incorporadoras voltaram a recuar, enquanto o dia na bolsa japonesa também foi negativo.
Na China, a Bolsa de Xangai fechou em baixa de 0,47%, em 3.520,71 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, caiu 0,65%, para 2.575,12 pontos. Ações de incorporadoras caíram, após dados modestos do setor relativos a outubro.
Já empresas ligadas à produção de lítio estenderam ganhos recentes, com a expectativa de maior demanda pelo componente, diante do quadro global de se tentar avançar rumo à neutralidade nas emissões de carbono na atmosfera. Tianqi Lithium subiu 6,3% e Chengxin Lithium, 5,3%.
Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei caiu 0,30%, a 29.598,66 pontos. Ações de energia e transporte marítimo se saíram mal. Inpex teve queda de 7,1% e Nippon Yusen, de 4,3%.
Já Eisai registrou perda de 9,0%, diante da menor chance de aprovação na Europa de um medicamento dela contra o Alzheimer. Investidores aguardam notícias sobre eventual estímulo fiscal no Japão e também por outras iniciativas do premiê Fumio Kishida.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng caiu 1,29%, a 25.319,72 pontos. Há expectativa nesse mercado pelo dia 6 de dezembro, quando será anunciada revisão no índice. A China Galaxy International afirma que o Hang Seng poderá incluir mais ações da área de saúde, tecnologia da informação e consumo.
Na Coreia do Sul, o índice Kospi terminou com queda de 0,51% em Seul, em 29.589,66 pontos. Ações de montadoras e de empresas ligadas ao consumo influenciaram negativamente. Hyundai Motor teve baixa de 1,0% e Kia, de 1,1%.
Em Taiwan, o índice Taiex foi na contramão da maioria e subiu 0,44%, a 17.841,37 pontos. O índice chegou a oscilar em baixa durante parte do dia, mas confirmou ganhos.
Na Oceania, o S&P/ASX 200 fechou em alta de 0,13%, em 7.379,20 pontos, na Bolsa de Sydney, com recuperação modesta após sequência de perdas recentes. Commonwealth Bank caiu 1,5%, prolongando fraqueza dos últimos dias, mas algumas empresas ligadas a matérias-primas se saíram bem.
Nufarm subiu 5,2%, recuperando-se após queda forte no pregão anterior, e Evolution avançou 9,7%. Várias mineradoras de ouro também subiram nesta quinta no mercado australiano. / com Agência Estado