Bolsa cai 3,08% nesta 6ª feira, voltando aos 121 mil pontos; dólar sobe 2,57%
Bolsa opera em baixa e dólar sobe, na esteira do mercado internacional
A Bolsa fechou em queda acentuada nesta sexta-feira, 30, puxada pelas mineradoras e siderúrgicas, refletindo o tombo do preço do minério de ferro na China, além de temores com o reaparecimento dos fantasmas dos riscos fiscais. O Ibovespa despencou 3,08%, caindo aos 121.800,79 pontos.
Em relação à sexta-feira passada, a Bolsa caiu 2,60%, numa semana marcada pela instabilidade na cotação das commodities metálicas. A B3 até se animou e ensaiou uma recuperação, com os resultados positivos dos balanços coorporativos trimestrais, mas não foi o suficiente para sustentação do mercado. Num mês de focos de tensão política no cenário interno e cautela com a pandemia no exterior, o Ibovespa caiu 3,94% quando comparado ao último dia útil de junho.
Embora tenha se desvalorizado ao longo da semana, o dólar arrancou 2,57% no pregão desta sexta-feira, vendido a R$ 5,212, o que ajudou a recompor as perdas dos último dias. Na semana, a moeda americana registrou alta de 0,31%, e no mês, a alta acumulada é de 5%.
O minério de ferro, negociado na bolsa de Dalian, na China, registrou baixa de cerca de 8% no preço. Segundo analistas, essa baixa acontece por conta da redução da produção de aço na China, reflexo da queda da demanda local por materiais de construção.
Com isso, as ações da Vale - que, sozinha, representa cerca de 13% da carteira teórica da B3 - CSN e Gerdau fecharam com queda de 5,89%, 2,87% e 1,91%. A Usiminas, que chegou a operar no azul com a divulgação de seus dados trimestrais que mostram uma recuperação da companhia no segundo trimestre, caiu 1,30%.
Na mesma esteira, as petroleiras também apresentaram forte desaceleração em seus papéis. A Petrobras - que também tem uma participação de quase 9% na cesta da Bolsa - e a Petro Rio apontaram recuo de 3,24% e 2,88%.
Riscos locais
Outro cenário que ajudou a azedar o mau humor do mercado financeiro foi o cenário fiscal doméstico. O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta sexta-feira que o Orçamento do próximo ano prevê recursos de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões para acomodar um pagamento de R$ 250 a R$ 300 de benefício do programa Bolsa Família. No entanto, ponderou que existe "fumaça no ar" sobre possíveis despesas extraordinárias no orçamento, que podem forçar alguma reprogramação.
Sem especificar quais seriam essas possíveis despesas extraordinárias, Guedes exemplificou que, às vezes, decisões de outros Poderes podem ter "enorme impacto" no Orçamento.
"Até o momento, sabemos que a programação para o Bolsa Família estava perfeitamente enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal e nos limites do teto. Temos sempre receio. Há fumaça no ar, mas prefiro já estarmos trabalhando num ataque direto a esse possível fator", disse Guedes.
Dólar sobe
A disparada de 2,66% no preço do dólar nesta sexta-feira, 30, com ajustes no câmbio ocorrendo sob influência da aversão ao risco no exterior - mau humor generalizado nas bolsas globais e inflação americana -, alta das commodities, além do cenário fiscal local, que ganhou novos capítulos com as falas de Guedes.
Os ajustes no câmbio ocorrem sob influência da aversão a risco no exterior e alta das commodities, além de pressão de investidores comprados em contratos cambiais - apostaram na alta das cotações.
Os "comprados" defendem uma Ptax mais forte de hoje, que será referência na próxima segunda-feira, 2, para os ajustes de contratos cambiais e resultados corporativos de fim de julho.
Já os "vendidos" em contratos cambiais - apostaram na queda - se beneficiaram das perdas recentes, mas ainda estão em desvantagem ante os comprados porque o dólar acumula alta de 2,70% às 9h27.
Dados econômicos: Brasil e EUA
Os investidores também repercutiram os dados econômicos divulgados tanto localmente quanto lá fora. Nos Estados Unidos, foi divulgado o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que é a medida de inflação preferida do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).
De acordo com o Departamento de comércio, o PCE subiu 0,5% em junho ante maio. Na comparação anual, o índice subiu 4,0%, o que estimula ainda mais o sentimento de apreensão do mercado sobre se, de fato, a alta da inflação americana será transitória, conforme defendido pelo Fed.
No cenário local, outro catalisador de alta do dólar e da baixa da Bolsa é a taxa de desemprego no Brasil, que no trimestre móvel de março a maio se manteve em 14,6%, somando 14,8 milhões de pessoas sem uma vaga no mercado de trabalho. A expectativa dos economistas era de queda de 14,5% no período.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada pelo IBGE. Além disso, a renda média real do trabalhador piorou, ficando a R$ 2.547,00 no trimestre encerrado em maio, queda de 3,2% em relação a igual período do ano anterior, segundo o IBGE.
Sobe e desce da B3
Em um dia marcado pela forte desvalorização do Ibovespa, várias empresas seguiram na esteira de baixa e colheram perdas em seus papéis na B3.
As companhias Localiza, Fleury, Isa Cteep, Cesp e Ecorodovias também fecharam no vermelho neste pregão. Os papéis dessas empresas reportaram recuo acentuado de 7,36%, 2,91%, 2,35%, 3,00% e 4,05%, respectivamente.
No sentido oposto, hoje é dia de estreia da ClearSale na Bolsa. As ações da companhia subiram 14%, mas chegaram a avançar mais de 20% durante o período da manhã. O ativo foi precificado a R$ 25, na oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês).
A Grendene, depois de apresentar ao mercado seus números trimestrais, também reportou desempenho positivo, com alta de 0,64%.
Wall Street: bolsas no vermelho
Nos Estados Unidos, os contratos negociados nas bolsas de Nova York fecharam em baixa. O índice S&P 500 caiu 0,54%, Dow Jones recuou 0,42% e Nasdaq 100 desvalorizou 0,59%.
Os resultados positivos, porém aquém do esperado, das big techs, geraram um sentimento de apreensão nos investidores. Na véspera foi a vez da gigante Amazon reportar seus números do segundo trimestre.
Segundo a companhia do milionário Jeff Bezos, o lucro líquido obtido no período somou US% 7,78 bilhões, alta de 48,8% sobre a mesma base do ano anterior, porém registrou receita líquida 2% abaixo do esperado, de US$ 113,080 bilhões. O mercado apostava em um montante de US$ 115,4 bilhões.
Além disso, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos divulgou durante a manhã que os gastos com consumo no país subiram 1,0% entre maio e junho.
O resultado veio acima da estimativa dos analistas, que esperavam alta de 0,7% no período. Já a renda pessoal aumentou 0,1% na mesma comparação, contrariando a queda de 0,2% estimada pelo mercado.
Os dados de gastos com consumo de maio ante abril foram revisados para baixo, de estáveis a queda de 0,1%, enquanto os de renda pessoal passaram de queda de 2,0% para recuo de 2,2%.
A pesquisa também mostrou que o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) - medida de inflação preferida do Fed - subiu 0,5% em junho ante maio.
O núcleo do PCE, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, avançou 0,4% no período, vindo abaixo da previsão de alta de 0,5%. Na comparação anual, o PCE subiu 4,0% e seu núcleo aumentou 3,5% em junho.
Bolsas asiáticas fecham mistas
As bolsas da Ásia fecharam o último pregão do mês mistas, mas majoritariamente em queda. Outra vez, a cautela foi impulsionada por dúvidas sobre a ofensiva regulatória do governo chinês, que alterou recentemente diversas regras para os setores de tecnologia e educação privada.
Também há preocupações com a pandemia de covid-19, diante do avanço da variante delta. Na China continental, o índice Xangai Composto caiu 0,4%, aos 3.397,36 pontos nesta sexta-feira, 30, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,1%, aos 2.385,62 pontos.
"O sentimento azedou um pouco novamente com drivers semelhantes, como no início desta semana. Nomeadamente, receios de crescimento, com variante delta, e preocupações quanto às restrições regulamentares na China", dizem analistas do Danske Bank, em relatório enviado a clientes.
"Consequentemente, a maioria dos índices de ações asiáticos (não só chineses), bem como os futuros de mercados desenvolvidos, estão no 'vermelho' esta manhã", acrescentam.
Ontem, as bolsas asiáticas haviam fechado a sessão em alta, após a China agir para reduzir as preocupações do mercado com o cerco regulatório por meio de uma reunião com representantes de grandes bancos.
Também na véspera, a Dow Jones Newswires informou que a empresa de tecnologia e transporte privado Didi Global considera fechar o capital para apaziguar as autoridades chinesas e compensar os investidores pelas perdas registradas desde que a companhia foi listada na Bolsa de Nova York no final de junho.
Em Hong Kong, o Hang Seng teve queda de 1,3% hoje, aos 25.961,03 pontos. Em outras partes da Ásia, o Kospi encerrou a sessão com perda de 1,2% em Seul, aos 3.202,32 pontos, após três sessões consecutivas de alta.
Enquanto isso, o Nikkei caiu 0,8% no Japão, aos 27.283,59 pontos, em meio a expectativas de que o governo japonês estenda o estado de emergência para conter a piora da pandemia, em meio à realização dos Jogos Olímpicos no país.
Na Oceania, a bolsa da Austrália também encerrou com perdas. O índice acionário S&P/ASX 200 caiu 0,3% em Sydney, aos 7.392,6 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado