Mercado chega ao último dia de julho com Bolsa em queda e dólar em alta
Mercado encerra a semana refletindo o exterior e sensível a fatos e expectativas locais
O mercado financeiro chega ao último dia útil de julho nesta sexta-feira, 30, refletindo ainda o humor dos mercados no cenário internacional, mas também sensível a fatos e expectativas pontuais do ambiente doméstico.
Após reagir positivamente à decisão do Fed (Federal Reserve, banco central americano) pela estabilidade das taxas de juro e pela manutenção dos estímulos monetários, que consistem na recompra de títulos para manter a liquidez no sistema financeiro, tomada na reunião da última quarta-feira, 28, o mercado doméstico ficou mais contido na véspera.
A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou com desvalorização de 0,48%, em 125.675,33 pontos. A bolsa não caiu sozinha. O dólar também seguiu a mesma direção, recuando 0,60% e cotado a R$ 5,08. Faltando apenas os negócios desta sexta-feira para o fechamento de julho, a B3 acumula desvalorização de 0,89% e o dólar, alta de 2,21%
Embora os dados sugiram relativa estabilidade dos mercados, a trajetória ao longo mês foi marcada por solavancos. Fernanda Consorte, economista-chefe do banco Ourinvest, comparou os movimentos de mercados em julho como os de uma montanha-russa.
Variante delta
Segundo ela, o mês começou com a impressão de que o pior havia passado, com o dólar batendo R$ 4,90, mas o cenário virou nas últimas semanas, com o aumento da aversão ao risco nos mercados globais.
“Aquele temor com a inflação nos EUA, que começou no início do ano, ainda segue e agora temos no radar nova variante do coronavírus”, reforça Fernanda, agravando o cenário de incertezas e a aversão ao risco.
A B3, no melhor momento do mês, chegou a subir 1,27%, em meados de julho, para 128.406,51 pontos, antes de iniciar trajetória de queda para acomodar-se em patamares mais baixos nos últimos dias.
Nesse ambiente mais morno, os resultados trimestrais de empresas, pela divulgação diária de balanços, e as ofertas iniciais de ações, os IPOs, que têm pipocado pelo mercado, não têm sido suficientes para animar os investidores e dar maior mobilidade à Bolsa.
De todo modo, a expectativa de analistas é que este último dia de julho seja mais movimentado, já que investidores e gestores aproveitam o fechamento do mês para promover ajustes que podem melhorar o desempenho da carteira de ativos.
E já de olho na próxima semana, que tem na agenda nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), com perspectiva de elevação mais forte da taxa básica de juros, a Selic.
NY: futuros em queda
Nos Estados Unidos, os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York seguem em queda com os investidores mostrando certa preocupação com a desaceleração do crescimento de gigantes de tecnologia e os riscos de um aumento da repressão regulatória na China.
A alta anualizada de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no segundo semestre, divulgada na véspera pelo Departamento do Comércio, mostrou que a economia do país superou o "pior momento de sua história" para chegar a um dos melhores períodos, segundo afirmou a vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, durante coletiva nesta quinta-feira, 29.
Ela ainda destacou que a recuperação do PIB americano ao nível do período anterior à pandemia de coronavírus demorou metade do tempo em relação à retomada da crise anterior. "Isto não é por acaso", afirmou Jean-Pierre, ao creditar o avanço econômico à agenda do presidente Joe Biden.
Perguntada se o avanço da inflação preocupa a administração Biden, a vice-secretária disse que "desafios eram esperados", mas minimizou a alta nos preços ao afirmar que "especialistas externos e de dentro da Casa Branca" enxergam a alta nos preços como temporária.
Jean-Pierre também comentou que não há sinais de impacto significativo da variante delta do coronavírus à atividade no momento, ao ser questionada se a cepa mais contagiosa poderia fazer o governo estender o prazo dos benefícios adicionais a desempregados, com término previsto em setembro.
Após o Fed reiterar comprometimento com o tapering e a leitura do PIB, as ações demonstraram capacidade de seguirem subindo, avalia. "O S&P 500 está desafiando o topo e inclinado para cima" o torna uma base em 4.300 possível, embora haja espaço para os 4.450 nas próximas semanas, projeta a BMO.
A semana é a mais movimentada da temporada de balanços do segundo trimestre, com cerca de um terço das empresas no S&P 500 divulgando resultados, segundo a LPL Markets.
As corporações tiveram "um grande começo, colocando as empresas do S&P 500 em posição de aumentar os lucros do segundo trimestre em até 80% na comparação anual, ante uma taxa de crescimento de 64% esperada quando a temporada de lucros começou", aponta a consultoria.
CPI da Covid: retorno das atividades na próxima semana
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado retoma os trabalhos no próximo dia 3 para avançar na investigação de um suposto esquema de corrupção na compra de vacinas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.
Em reunião na noite da última quarta-feira, 28, a cúpula da CPI definiu um roteiro que abrange depoimentos, pedido de prisão e afastamento de servidores do Ministério da Saúde.
De acordo com o calendário definido, na próxima terça-feira, 3, será ouvido o reverendo Amilton Gomes de Paula, fundador da associação Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah). Ele é apontado por ter intermediado informalmente a negociação de vacinas sem garantia de entregas.
Na quarta-feira, 4, a intenção é ouvir o dono da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, empresa que assinou um contrato com o Ministério da Saúde para a compra da vacina indiana Covaxin, um dos principais focos de investigação. Os senadores apontam indícios de superfaturamento e corrupção na negociação. Na quinta-feira, 5, a CPI quer ouvir Túlio Silveira, advogado da Precisa.
O senador anunciou ainda que a comissão vai votar um requerimento para bloquear os bens da Precisa Medicamentos e da Global Gestão em Saúde, sócia da companhia, no valor do contrato assinado com o Ministério da Saúde, ou seja, R$ 1,6 bilhão.
O contrato foi suspenso após a CPI iniciar a investigação. A fabricante da Covaxin, Bharat Biotech, anunciou no último dia 23 a rescisão do acordo com a Precisa.
Bolsas asiáticas fecham mistas
As bolsas da Ásia fecharam o último pregão do mês mistas, mas majoritariamente em queda. Outra vez, a cautela foi impulsionada por dúvidas sobre a ofensiva regulatória do governo chinês, que alterou recentemente diversas regras para os setores de tecnologia e educação privada.
Também há preocupações com a pandemia de covid-19, diante do avanço da variante delta. Na China continental, o índice Xangai Composto caiu 0,4%, aos 3.397,36 pontos nesta sexta-feira, 30, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,1%, aos 2.385,62 pontos.
"O sentimento azedou um pouco novamente com drivers semelhantes, como no início desta semana. Nomeadamente, receios de crescimento, com variante delta, e preocupações quanto às restrições regulamentares na China", dizem analistas do Danske Bank, em relatório enviado a clientes.
"Consequentemente, a maioria dos índices de ações asiáticos (não só chineses), bem como os futuros de mercados desenvolvidos, estão no 'vermelho' esta manhã", acrescentam.
Ontem, as bolsas asiáticas haviam fechado a sessão em alta, após a China agir para reduzir as preocupações do mercado com o cerco regulatório por meio de uma reunião com representantes de grandes bancos.
Também na véspera, a Dow Jones Newswires informou que a empresa de tecnologia e transporte privado Didi Global considera fechar o capital para apaziguar as autoridades chinesas e compensar os investidores pelas perdas registradas desde que a companhia foi listada na Bolsa de Nova York no final de junho.
Em Hong Kong, o Hang Seng teve queda de 1,3% hoje, aos 25.961,03 pontos. Em outras partes da Ásia, o Kospi encerrou a sessão com perda de 1,2% em Seul, aos 3.202,32 pontos, após três sessões consecutivas de alta, enquanto o Nikkei caiu 0,8% no Japão, aos 27.283,59 pontos, em meio a expectativas de que o governo japonês estenda o estado de emergência para conter a piora da pandemia, em meio à realização dos Jogos Olímpicos no país.
Na Oceania, a bolsa da Austrália também encerrou com perdas. O índice acionário S&P/ASX 200 caiu 0,3% em Sydney, aos 7.392,6 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado