Na semana, Bolsa cai 0,72% com variante delta, commodities e inflação; dólar subiu 1,86%
Investidores digerem os dados econômicos locais e ficam de olho no cenário internacional
A Bolsa fechou em queda de 0,87% nesta sexta-feira, 23, registrando 125.052,78 pontos, descolada do mercado financeiro internacional, que registrou desempenho positivo. A baixa no Ibovespa neste pregão foi influenciada, sobretudo, pelo resultado do IPCA-15, divulgado pela manhã, que veio acima das expectativas do mercado e também por ruídos políticos.
Numa semana marcada pela preocupação global em torno da nova variante delta do coronavírus, a Bolsa caiu 0,72% em relação à sexta-feira passada. Os últimos 3 pregões registraram altas sutis, influenciadas por uma breve recuperação no setor de commodities, principalmente, mas não foram suficientes para sustentar um avanço mais convincente do mercado.
O dólar, que encerrou o pregão próximo da estabilidade, com leve baixa de 0,05%, cotado a R$ 5,21, nesta sexta-feira, apresentou um avanço de 1,86% frente ao real, quando comparado ao encerramento da semana passada.
Prévia da inflação
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 0,72% no período.
O resultado veio acima das expectativas dos analistas, que projetavam uma alta de 0,65%, representando uma desaceleração mais acentuada do índice ante o mês anterior - avanço de 0,83% em junho.
De acordo com os analistas, o resultado apoia as apostas em alta de 1% na Selic, taxa básica de juros do País, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontece no início de agosto.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, explica que um resultado acima das projeções numa sexta-feira, dia de menos movimentação no mercado de ações, empurrou o Ibovespa para baixo com os temores de uma Selic elevada nos próximos meses, o que poderia despertar o interesse dos investidores para os ativos de renda fixa brasileiros.
No entanto, Cruz considera que a bolsa vai continuar com seus atrativos e que a taxa de juros não deve subir ao nível de dois dígitos novamente. O aumento da taxa, por outro lado, demora um pouco para impactar a escalada de preços, o que deve acontecer nos próximos trimestres, de acordo com o especialista.
Sobe e desce da B3
As varejistas de alto crescimento foram bastante impactadas pelo resultado do IPCA-15 ao longo do dia. Segundo Thayná Vieira, analista da Toro Investimentos, essas empresas dependem de financiamento para manter a expansão acelerada, sendo impactadas com a perspectiva de juros mais altos. Magazine Luiza e Via (antiga Via Varejo) registraram quedas acentuadas em seus papéis, de 2,80% e 1,33%.
Também no bloco das baixas, Petrobras, Vale e setor financeiro tiveram um dia negativo, contribuindo para a queda no Ibovespa. A petroleira caiu 0,59%, enquanto a mineradora, impulsionada pela queda no preço do minério de ferro na China, viu seus papéis baixarem 0,51%. Já os "bancões" Bradesco e Itaú, tiveram 1,03% e 0,27% de variação negativa.
A maior baixa do dia ficou por conta da Braskem. Após informar sobre a queda de 17% nas vendas de resinas no Brasil no segundo trimestre deste ano, as ações da empresa recuaram 5,56%.
Apesar da situação do minério de ferro, no caminho contrário da Vale, as ações da Usiminas e Gerdau valorizaram 1,41% e 0,92%. A CSN seguiu a trilha de baixa da Vale, com desvalorização de 0,35% .
Dólar em queda
O dólar fechou em queda nesta sexta-feira, acompanhando a desvalorização externa ante o peso mexicano, rublo e lira turca, diante do apetite por ativos de risco no exterior. A moeda americana à vista registrou queda de 0,05%, negociada a R$ 5,21.
Segundo especialistas, o resultado do IPCA-15 reforça perspectivas favoráveis para o "carry trade" com o real, gerando expectativas de atração de fluxo cambial para o País.
Isso porque no exterior, as expectativas são de que o BCE (Banco Central Europeu) e o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) mantenham os estímulos monetários neste ano em meio a preocupações de que a disseminação da cepa Delta de coronavírus prejudique a recuperação da economia global, apesar do avanço da inflação.
Wall Street em alta
Os contratos negociados nas bolsas de Nova York fecharam em alta em meio ao otimismo da temporada de balanços, que ajudou Wall Street na véspera a voltar para suas máximas históricas.
O índice S&P 500 avançou 1,01%, com Dow Jones e Nasdaq 100 na mesma esteira, com valorização de 0,68% e 1,15%.
Segundo o sócio da Wisir Research, Filipe Teixeira, as ações globais estão em curso para um ganho semanal modesto, sustentado por lucros corporativos robustos e suporte de estímulo.
Ao mesmo tempo, o declínio de julho nos rendimentos dos Treasuries pode sinalizar preocupação com um possível pico no crescimento econômico, em parte porque a cepa Delta do coronavírus deve restringir a mobilidade em alguns países.
No dia anterior a força-tarefa da Casa Branca para a covid-19 alertou que há um novo crescimento no número de casos positivos no país, em especial por conta da variante Delta.
A cepa já representa 83% do total de casos nos EUA. Na visão do Danske Bank, apesar da alta de casos, com a população mais vulnerável protegida pela vacina, as novas ondas de contaminação devem ser bem menos severas.
O banco afirma manter sua visão de que novas restrições não devem ser impostas nos próximos meses nem nos Estados Unidos, nem na Europa, devido ao andamento da vacinação.
Bolsas asiáticas fecham em queda
As bolsas asiáticas fecharam o último pregão da semana majoritariamente em queda. Nesta sexta-feira, predominou novamente a incerteza em relação à pandemia de covid-19, com o avanço da variante Delta do coronavírus, o que já havia derrubado os mercados na segunda-feira, 19.
Também houve preocupação com possíveis regulações na China contra empresas de tecnologia, como a Didi Global.
Na China continental, o índice Xangai Composto recuou 0,7%, aos 3.550,40 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto caiu 1,4%, aos 2.468,14 pontos. Ações de farmacêuticas lideraram as perdas.
No Japão, um feriado manteve os mercados fechados pelo segundo dia consecutivo e, portanto, o índice Nikkei não abriu.
"As ações asiáticas foram negociadas de forma lateral nesta sexta-feira, refletindo a volatilidade dos preços em Wall Street na sessão anterior", disse o analista Anderson Alves, da ActivTrades, em um comentário. "No entanto, as preocupações com a pandemia continuam pesando no mercado", acrescentou.
Além disso, há preocupação com o cerco regulatório da China. No dia anterior, a Bloomberg noticiou que autoridades de Pequim consideram impor penalidades, talvez sem precedentes, à Didi Global, que recentemente abriu capital em Nova York.
O país asiático vê a decisão da companhia tecnológica de transporte privado de realizar uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) nos EUA como uma afronta.
Em Hong Kong, o Hang Seng encerrou com perda de 1,4%, aos 27.321,98 pontos, pressionado para baixo por ações relacionadas ao consumo, que recuaram diante da piora da pandemia no continente asiático.
O Kospi, por outro lado, subiu 0,1% em Seul, aos 3.254,42 pontos. Na bolsa sul-coreana, o otimismo com a temporada de balanços de empresas superou a incerteza relacionada à variante delta do coronavírus, que tem levado a mais restrições às atividades econômicas.
Na Oceania, a bolsa da Austrália avançou mesmo após um Estado do país decretar emergência por conta da piora da pandemia de covid-19. O S&P/ASX 200 registrou alta hoje de 0,1% em Sydney, aos 7.394,4 pontos. O índice acionário renovou a máxima histórica de fechamento pelo segundo dia consecutivo. / com Júlia Zillig e Agência Estado