Mercado ao vivo: mesmo com cenário interno negativo e sem exterior, Bolsa sobe com Petrobras e bancos
Em dia de feriado em NY, investidores voltam a atenção para o mercado interno
Em termos concretos, não existe nenhum fator novo que justifique uma alta mais expressiva do mercado de ações nesta quinta-feira, 25. Ao contrário, os dados da inflação vieram acima das expectativas, o IPCA-15 de novembro ficou em 1,17%, o que sugere uma mão mais firme para os juros na próxima reunião do Copom, no início de dezembro. A questão fiscal, embora tenha andado no Senado, parece ainda distante de uma solução final.
Às 15h11, o Ibovespa subia 1,34% e perdia o patamar dos 106 mil pontos - 105.915. É a terceira alta da Bolsa na semana, depois de atingir o menor nível do ano, aos 101 mil pontos na última segunda-feira. Embora a alta esteja espalhada entre os setores, como bancos e outros que caíram muito nos últimos dias, como o de turismo, é a Petrobras que puxa o mercado no pregão de hoje, com avanço de 3,9%, após a companhia apresentar seus planos para os próximos anos. O dólar caía 0,49%, cotado a R$ 5,56.
O mercado opera hoje sem sua principal referência, as bolsas americanas, que estão fechadas por conta do feriado de Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos.
Durante a manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a prévia da inflação de novembro. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 1,17 em novembro, 0,03% abaixo da taxa registrada em outubro.
O número veio ligeiramente abaixo das estimativas do mercado, que esperavam uma mediana positiva de 1,13%. A alta é a maior do mês desde 2002, quando atingiu 2,08%.
Para os economistas, o indicador não trouxe grandes novidades, já que a inflação segue persistente – segundo as projeções do último Boletim Focus, do Banco Central, a estimativa para o IPCA para este ano já bateu a casa dos dois dígitos - 10,12% - e está perto de 5,00% para o próximo ano.
Os especialistas destacaram a continuidade da elevação dos preços da gasolina e do gás de cozinha, que continuam tirando o sono dos brasileiros.
A inflação prévia de novembro, praticamente em linha com as expectativas do mercado, não deve trazer grandes impactos para o mercado, pois já está embutida nos preços dos ativos e reafirma a aposta de novo aumento de 1,50 ponto porcentual na Selic, que atualmente está 7,75% ao ano.
Vale lembrar que o IPCA-15 de novembro é o último dado de inflação que o BC terá até a próxima reunião do Copom, que acontece no início de dezembro, para decidir qual será o caminho da Selic, taxa básica de juros do País.
Na véspera, Roberto Campos Neto, presidente do BC, chegou afirmar que talvez segure um pouco mais a alta da taxa dos juros na próxima reunião e nos próximos meses para fazer frente a esse momento turbulento da economia brasileira, com indicadores econômicos fracos.
Cenário fiscal
Mesmo com novos dados econômicos, o cenário fiscal segue na pauta de atenção dos investidores, principalmente sobre os avanços da PEC dos Precatórios e dos imbróglios do programa social do governo, Auxílio Brasil, assuntos interligados.
O texto da proposta foi lido na véspera pelo relator, Fernando Bezerra Coelho, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, trazendo mudanças em relação à proposta aprovada na Câmara.
Porém, a partir daí o tema não avançou. Não houve votação em plenário, porque parlamentares de quatro partidos pediram vistas ao texto preparado pelo relator. A análise e votação em primeiro turno pelo plenário do Senado, está prevista para a próxima terça-feira, 30.
Pressionado pelo governo, o relator da Medida Provisória (MP) que criou o Auxílio Brasil, o deputado Marcelo Aro retirou do seu relatório a possibilidade de reajuste anual dos benefícios do programa social do governo atrelado à inflação.
Em reunião tensa com líderes dos partidos, o presidente da Câmara, Arthur Lira ficou irredutível na posição contrária à correção automática do benefício apesar dos argumentos apresentados pelo relator.
Sem saída, o relator retirou do parecer, mas conseguiu apoio para manter as demais mudanças incluídas no relatório, entre elas, a exigência de que o governo não coloque na fila quem tem direito ao benefício. Ou seja, quem for elegível ao programa terá a garantia de que vai recebê-lo.
A MP precisa ser votada na Câmara e no Senado até o dia 7 de dezembro, quando perde a validade. Ela acaba com o Bolsa Família e cria o Auxílio Brasil, que começou a ser pago este mês.
Para incluir mais famílias no programa, o deputado ampliou os critérios de acesso das famílias ao programa per capita (por pessoa). Os valores tinham sido definidos em decreto do governo, mas o relator resolveu subir os valores de referência no relatório. A linha de extrema pobreza subirá de R$ 100 para R$ 105 e da pobreza de R$ 200 para R$ 210.
"Esse aumento é muito pouco. Ainda vai deixar muita gente fora. Pessoas que vão passar fome não vão ter o auxílio", disse o líder do PT na Câmara, Bohn Gass. Segundo ele, esses valores precisam ser elevados para que mais famílias possam ter acesso ao programa. O líder disse que o PT trabalha para elevar o valor do Auxílio de R$ 400 para R$ 600 e torná-lo permanente.
No relatório que será votado, Marcelo Aro separou os três benefícios do núcleo de combate à pobreza dos cinco que são chamados por ele de "transformação social" e porta de saída do programa, como o auxílio esporte e iniciação científica (para famílias que tiverem bom desempenho escolar e em jogos), o criança cidadã (vale-creche), produção rural e o auxílio produção urbana (para quem conseguir emprego).
Essa divisão é também uma tentativa de conter as críticas dos especialistas que apelidaram os inúmeros benefícios de "árvore de Natal", como risco de tirar foco e recursos de que mais precisa e passa fome.
Ao tornar mais clara a separação entre a transferência de renda aos mais pobres, equivalente ao Bolsa Família, e os demais novos auxílios, o relator evita que o orçamento desta transferência básica seja consumido pelos demais auxílios, que ainda não foram testados. Segundo ele, será uma opção para o governo priorizar ano após ano quais são os programas que ele acha que deve fomentar mais.
Juros futuros
Os juros futuros operam em queda em toda a curva nesta quinta-feira, após a desaceleração do IPCA-15 de novembro ante outubro.
Por volta das 12h40, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 recuava de 12,20%, na abertura, para 12,05%.
O DI para janeiro de 2025 caía para 11,74%, de 11,75%, e o para janeiro de 2027 estava em 11,64%, de 11,83% no início do dia.
Sobe e desce na B3
Nesta quinta-feira, o preço do minério de ferro engata mais uma alta na China. Porém, as grandes siderúrgicas operam mistas no pregão. Às 14h56, a Vale caía 0,94%. Já a CSN, Usiminas e Gerdau subiam 0,96%, 1,17% 1,46%, nesta sequência.
A paralisação dos pilotos das companhias aéreas, que reivindicam por um aumento de 15% no salário, não está afetando o desempenho das empresas do setor, que seguem positivas. Às 15h, a Azul e a Gol valorizavam 2,90% e 7,31%, respectivamente.
O Banco Inter figura entre as principais altas do dia, após informar que a Inter Platform obteve aprovação de registro junto à Comissão de Valores Mobiliários norte-americano (SEC, na sigla em inglês). No mesmo horário, os papéis subiam 6,87%.
Junto com o Inter, as ações da CVC, Banco Pan e BTG Pactual estão entre as altas de destaque da tarde - 7,31%, 8,80% e 6,42%, nesta ordem, às 15h18.
Na esteira de baixa, estão as ações da Hapvida, Notre Dame Intermédica, JBS e Marfrig - 1,76%, 2,14%, 1,88% e 2,44% , respectivamente, no mesmo horário.
Exterior: NY fechada, Europa no radar
Lá fora, as bolsas americanas seguem fechadas por conta do feriado do Dia de Ação de Graças – o famoso Thanksgiving, o que ajuda a reduzir a liquidez dos mercados, incluindo o brasileiro.
Porém, na véspera a movimentação foi intensa nos EUA, com uma Super Quarta em Nova York, com a divulgação de diversos dados econômicos relevantes, e a ata da última reunião do Fomc (Copom americano), que trouxe novas pistas sobre a condução da política monetária pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Entre os dados, o crescimento do PIB do terceiro trimestre foi revisado de 2,0% para 2,1%. Já a inflação PCE subiu para 5,9%, ante 5,7% no mesmo período do ano anterior. Os gastos com consumo das famílias subiram 1,3% e os pedidos de auxílio-desemprego somaram 193 mil na semana passada, menor patamar desde 1969.
São números que, na visão dos analistas, mostram uma recuperação da atividade econômica americana, visão reforçada pela ata do último encontro do Fomc, que trouxe um tom mais duro, mostrando que seus membros consideram uma retirada de estímulos maior do que os US$ 15 bilhões mensais e uma antecipação do início da alta de juros, que pode ocorrer ainda no primeiro semestre de 2022.
A Europa segue na atenção do mercado global nesta quinta-feira, com a divulgação da ata da última reunião do Banco Central Europeu (BCE) e dados econômicos da Alemanha.
Segundo a Destatis, agência oficial de estatísticas do país, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1,7% no terceiro trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores.
O dado ficou um pouco abaixo da alta de 1,8% calculada pelos analistas. Na comparação anual, o PIB alemão cresceu 2,5% no período, resultado que veio em linha com as expectativas dos analistas.
Já a confiança do consumidor da Alemanha (GfK) deve piorar em dezembro: caiu de 1,0% para -1,6%, com a piora no sentimento devido ao agravamento da pandemia. Além do país, nações como a França, Portugal e Espanha estão adotando novas medidas de restrição.
Na Ásia, os mercados acionários fecharam sem direção única por mais um dia, nesta quinta-feira. Como destaque no dia, o Banco Central da Coreia do Sul elevou juros, destacando pressões na inflação.
Na China, a Bolsa de Xangai fechou em queda de 0,24%, aos 3.584 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, recuou 0,33%, a 2.512 pontos.
A corretora Jinxin Futures considerou que houve mais cautela entre operadores nesta quinta, após a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mostrar que alguns dirigentes veem mais urgência para elevar juros nos Estados Unidos, diante do quadro na inflação. Ações ligadas ao turismo e à logística puxaram as baixas no mercado chinês.
Já na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei fechou em alta de 0,67%, aos 29.499 pontos, recuperando-se em parte da queda mais forte do dia anterior. O sentimento foi apoiado pela decisão do governo de emitir novos bônus no ano fiscal de 2022, a fim de financiar um orçamento extra para o atual ano fiscal. Ações ligadas ao setor financeiro se destacaram, com Sumitomo Mitsui Financial em alta de 1,2% e Mitsubishi UFJ Financial Group, de 0,1%. Daiwa Securities registrou ganho de 1,4%.
Na Bolsa de Seul, o índice Kospi terminou em baixa de 0,47%, aos 2.980 pontos, em sua terceira queda consecutiva. Papéis de empresas de eletrônicos, do varejo e de companhias aéreas lideraram o movimento negativo.
O BC sul-coreano elevou a taxa básica de juros de 0,75% a 1,00%, como esperado pela maioria dos analistas, e deu a entender que pode revisar para cima sua expectativa para a inflação no país. Esta foi a segunda elevação nos juros em três meses e a Capital Economics projeta mais três altas ao longo de 2022 pelo BC da Coreia do Sul.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng fechou com ganho de 0,22%, aos 24.740 pontos. Papéis ligados ao setor de tecnologia em geral se saíram bem. Em Taiwan, o índice Taiex subiu 0,07%, a 17.654,19 pontos, após oscilar entre perdas e ganhos ao longo do dia.
Na Oceania, na Bolsa de Sydney, o índice S&P/ASX 200 registrou alta de 0,11%, aos 7.407 pontos. O avanço de papéis de mineradoras compensou a fraqueza de ações do setor financeiro, no mercado australiano. O setor de tecnologia seguiu em território positivo. / com Tom Morooka e Agência Estado