Bolsa fecha em queda, aos 128 mil pontos, puxada por siderúrgicas, Petrobras e perspectiva de alta dos juros
Bolsa cai diante da perspectiva de aumento mais acentuado de juros aqui e lá fora
A Bolsa fechou em queda de 0,93% nesta quinta-feira, 17, com o Ibovespa voltando ao patamar dos 128 mil pontos. A forte desvalorização nos papéis das siderúrgicas e também de Petrobras puxou o desempenho do índice para baixo. Eletrobras foi outro destaque negativo do pregão com queda de 3,76%.
O Ibovespa encerrou o pregão com 128.057,22 pontos. O dólar também caiu 0,74%, e ficou em R$ 5,022.
O dia foi marcado, também pelos investidores digerindo a nova taxa Selic de 4,25%, que veio em linha com as expectativas do mercado, mas com uma postura mais hawkish do Federal Reserve.
Ontem, o banco central americano indicou que pode subir os juros já em 2023, e não no ano seguinte como previsto anteriormente. Essa perspectiva de antecipação de ajuste dos juros para cima para conter a inflação nos EUA afeta as bolsas de países emergentes, porque os papéis do tesouro americano, os Treasuries, ficam mais atrativos e acabam por atrair os investidores estrangeiros que hoje estão posicionados por aqui, na B3.
Sobe e desce na B3
Após iniciarem o dia com forte alta na parte da manhã, os papéis dos bancos passaram a cair no período da tarde. As ações do Bradesco fecharam em queda de 0,57%; as do Itaú, de 0,87%; as do Santander, de 1,84% e as do Banco do Brasil, de 2,38%. Como são papéis de maior liquidez facilitam a saída do investidor cauteloso com perspectiva de alta dos juros mais acentuada aqui e mais cedo nos Estado Unidos.
As ações das mineradoras e siderúrgicas viveram mais um dia de forte queda, puxadas pelas medidas do governo chinês para frear a escalada de preços das commodities. Ações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Vale, Usiminas e Gerdau registraram perdas de 5,07%, 1,89%, 2,65%,e 4,31%, respectivamente.
Petrobras caiu na esteira da queda dos preços do petróleo nos contratos futuros, em dia influenciado pela alta do dólar ante outras divisas. Na prática, a commodity, cotada em dólar, torna-se mais cara para detentores de outras divisas. O recuo vem ainda depois de uma série de altas que haviam levado o barril aos maiores preços em anos.
E papéis da Eletrobras foram impactados pelas incertezas em relação ao avanço da Medida Provisória que trata da privatização da companhia. As alterações na MP, no entendimento do mercado, podem dificultar a sua aprovação.
Dólar em queda
A queda frente ao real foi limitada pela valorização da moeda americana no exterior após o Federal Reserve manter os juros dos Fed Funds perto de zero na véspera (0% a 0,25%) e, principalmente, por sinalizar uma antecipação do início do aperto monetário nos EUA para 2023, por causa do aumento da inflação, segundo operadores do mercado.
Banco Central
O aumento decidido pelo Copom na véspera não foi surpresa para o mercado, mas especialistas devem debruçar-se ainda sobre o comunicado divulgado pelo Copom em que o Banco Central adota um tom mais duro na condução da política monetária e já adianta novo aumento de 0,75 ponto porcentual na Selic para agosto.
Após nova alta da Selic, de 3,50% para 4,25% ao ano, retirada do termo parcial do comunicado do Copom e sinais de cautela com a inflação em alta, a leitura do mercado é de que o Copom foi mais hawkish (duro) do que o esperado.
Várias casas estão revendo para cima o aperto total da Selic no ano para, pelo menos, 6,5% no fim de 2021. Muitas instituições já contam com nova alta de, pelo menos, 0,75 pp em agosto, mas alguns agentes não descartam elevação de 1 pp na próxima reunião do BC.
Com isso, o juro interno poderia oferecer mais atratividade aos investidores estrangeiros, pelo menos até que os juros dos papéis americanos passem a subir por lá.
Porém, o que mais surpreendeu o mercado no dia anterior, no entanto, em que houve também decisões de política monetária nos EUA, foi a sinalização do Fed (Federal Reserve, banco central americano) de que vai antecipar para 2023 o aumento de juros previsto inicialmente para 2024.
No entanto, uma corrente de analistas entende que, por enquanto o mercado doméstico de ações deve continuar movido pelo sentimento de otimismo de investidores com a perspectiva de retomada de atividade mais consistente, pelo avanço do processo de vacinação, incluindo até mesmo a antecipação do calendário de imunização, e a reabertura da economia em meio a um cenário de maior controle da pandemia.
NY: mercados sem rumo único
Nos Estados Unidos, as bolsas de Nova York fecharam o pregão mistas, refletindo os novos dados divulgados pelo Departamento do Trabalho do país sobre o volume de pedidos de seguro-desemprego na última semana, além da apreensão sobre aumento da taxa de juros sinalizada na véspera pelo Fed.
O índice S&P 500 registrou baixa de 0,05% e o Dow Jones, de 0,62%. Já o Nasdaq 100 teve valorização de 1,07%.
O número de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos subiu 37 mil na semana encerrada em 12 de junho, a 412 mil, segundo dados com ajustes sazonais. O resultado frustrou analistas, que previam queda a 360 mil solicitações.
O total de pedidos da semana anterior foi revisado para baixo em 1 mil, a 375 mil. Já o número de pedidos continuados teve alta de 1 mil na semana encerrada em 5 de junho, a 3,518 milhões.
O Fed voltou a destacar que espera que a alta recente na inflação nos EUA esteja sendo motivada especialmente por fatores temporários, mas sinalizações sobre juros apontam uma reação mais firme sobre o aumento dos preços.
As autoridades revisaram suas projeções de inflação para cima "significativamente" neste ano, avalia a Capital Economics.
Ainda sobre as perspectivas, a mediana agora mostra dois aumentos nas taxas de juros de 25 pontos-base em 2023, o que "presumivelmente tem relação com preços mais altos", analisa, em uma reação que surpreendeu a consultoria por uma menor tolerância ao aumento de preços.
Na coletiva de imprensa, Powell indicou que a inflação no país pode ficar mais alta e persistente do que o esperado, o que aprofundou as perdas dos índices.
No entanto, ao longo do evento, o dirigente adotou uma postura mais dovish, indicando que a recuperação ainda não está completa e que há riscos, como a pandemia, além de destacar um "grupo de desempregados no país".
Privatização da Eletrobras: novo parecer
Em mais uma tentativa de obter votos para aprovar a medida provisória que permite a privatização da Eletrobras, o relator, senador Marcos Rogério, apresentou nova versão do parecer que será submetido à votação na sessão plenária do Senado nesta quinta-feira e acatou novas emendas em seu parecer.
Entre as principais mudanças, o senador retirou a condição prévia de contratação de termelétricas para dar andamento à capitalização. O ajuste de redação permite que os leilões sejam feitos depois da privatização, prevista para ser concluída no início de 2022.
O parecer propõe também uma nova divisão dos recursos que serão destinados para a revitalização de bacias do Norte, com 15% para o Rio Madeira e 15% para o Rio Tocantins.
Há ainda emendas acolhidas por sugestão dos senadores Esperidião Amin e Mecias de Jesus, que criticaram a proposta na quarta-feira, 16. No relatório anterior, 19 emendas haviam sido acolhidas.
CPI da Covid: Carlos Wisard
Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid seguem sendo acompanhados pelo mercado financeiro.
Nesta quinta-feira, o colegiado irá ouvir o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Marques, autor de um estudo paralelo que questionou o número de mortes por covid-19 no País e foi usado pelo presidente Jair Bolsonaro, sendo desmentido pelo próprio tribunal.
Para o mesmo dia, a comissão pautou o depoimento do empresário Carlos Wisard, que está fora do Brasil e pediu para ser ouvido de forma virtual, pedido negado pela CPI. Os senadores não esperam a presença dele no plenário.
A cúpula da comissão decidiu pedir a apreensão do passaporte do empresário até que ele compareça no Senado. A medida depende de autorização judicial.
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (TCU), autorizou nesta quarta-feira, 16, o empresário Carlos Wizard a ficar em silêncio na CPI da Covid. O depoimento dele está marcado para amanhã.
O empresário é suspeito de integrar e financiar o chamado 'ministério paralelo', que teria aconselhado o presidente Jair Bolsonaro sobre a gestão da pandemia na contramão das orientações do Ministério da Saúde.
Bolsas asiáticas fecham mistas
As bolsas da Ásia e do Pacífico fecharam sem direção única nesta quinta-feira, um dia após o Fed sinalizar que poderá começar a elevar juros mais cedo do que se imaginava.
O índice acionário japonês Nikkei caiu 0,93% em Tóquio hoje, aos 29.018,33 pontos, e o sul-coreano Kospi recuou 0,42% em Seul, aos 3.264,96 pontos, interrompendo uma sequência de cinco pregões positivos, enquanto o Hang Seng subiu 0,43% em Hong Kong, aos 28.558,59 pontos, e o Taiex registrou ganho de 0,22% em Taiwan, aos 17.345,69 pontos.
Na China continental, os mercados ficaram no azul, sustentados por ações dos setores de eletrônicos e tecnologia. O Xangai Composto avançou 0,21%, aos 3.525,60 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto se valorizou 1,16%, aos 2.359,40 pontos.
Na véspera, o Fed manteve sua política monetária inalterada, como se esperava, mas surpreendeu investidores ao indicar em seu gráfico de pontos que poderá anunciar seu primeiro aumento de juros já em 2023, e não mais em 2024.
Além disso, o BC americano elevou suas projeções de inflação para este e o próximo ano, diante da persistência da alta dos preços nos EUA.
"O Fed pode ter enviado uma mensagem mais agressiva aos mercados do que muitos esperavam", comentou Yeap Jun Rong, estrategista do IG, em nota a clientes. Yeap, contudo, fez a ressalva de que visões divergentes entre membros do comitê de política monetária do Fed sugerem que "muito vai depender" de como será a recuperação econômica dos EUA.
À 0h desta sexta-feira, 18, o Banco do Japão (BoJ) faz seu anúncio de política monetária, mas não há expectativa de mudanças.
Já na Oceania, a bolsa australiana caiu nesta quinta, após encerrar os quatro pregões anteriores em níveis recordes.
O S&P/ASX 200 recuou 0,37% em Sydney, aos 7.359,00 pontos, pressionado pelo setor minerador, que reagiu mal a uma decisão da China de liberar parte de suas reservas de metais numa tentativa de conter a tendência de alta dos preços de commodities. /com Júlia Zillig e Agência Estado